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Brasília

Cobrança por atraso de aluguel pode ter motivado morte de mulher em Ceilândia

Arquivo Geral

04/04/2018 11h00

João Stangherlin

Jéssica Antunes
[email protected]

Cobranças por atrasos no pagamento de aluguel podem ter motivado a morte de uma mulher dentro da própria casa na noite de terça-feira (3) em Ceilândia. Maria Adeles Nunes Pereira, de 45 anos, chegou a gritar por socorro, mas foi esfaqueada diversas vezes pelo inquilino, que teria deixado de arcar com os custos do aluguel da casa de fundos por cinco meses. O crime aconteceu a menos de cem metros da 19ª Delegacia de Polícia e, na manhã desta quarta (4), o local passa por perícia. O suspeito está foragido.

Era por volta das 19h30 quando os gritos de socorro ecoaram pelo conjunto C da QNP 15, no Setor P Norte. Testemunhas relataram que Valdivino Ambrosio de Alcântara, 42 anos, que morava em uma casa nos fundos do terreno da mulher, começou a agredí-la na cozinha e a arrastou até a sala. As manchas de sangue no tapete indicam o local em que a mulher sofreu os golpes, especialmente na barriga. Durante a luta corporal, o homem chegou a arrancar tufos de cabelo da vítima, que estava sozinha em casa naquele momento. Na manhã desta quarta, uma equipe da perícia da Polícia Civil esteve no local. O laudo deve ficar pronto em até trinta dias.

A principal suspeita de motivação é o acúmulo de dúvidas. Vivendo há nove meses ali, Valdivino não arcava com pagamentos de aluguel, água e energia elétrica há cinco meses. Depois dos golpes, o suspeito fugiu deixando a arma do crime na casa. Ele chegou a trancar o cadeado do portão após deixar a residência. “Saiu como se nada tivesse acontecido, cumprimentando as pessoas na rua”, contou ao Jornal de Brasília um vizinho que ajudou a socorrer a mulher.

Vizinhos arrombaram o cadeado e entraram pelo telhado. No local, encontraram a vítima ensanguentada e muito ferida. Ela chegou a ser socorrida e levada em estado grave à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia e depois transferida ao Hospital Regional da cidade, mas ela não resistiu aos ferimentos e morreu. Maria Adeles vivia ali há cerca de cinco anos com o filho, que no momento do crime estava na faculdade. Ela trabalhava como empregada doméstica. Ainda não há informações sobre velório.

O caso foi registrado na 24ª Delegacia de Polícia, no Setor O, como feminicidio, mas é a 19ª DP quem investiga o ocorrido. Não há relatos de brigas anteriores de proprietária e inquilino. No local, os vizinhos ainda demonstram transtorno com o crime. “Ela não merecia isso. Mãe, trabalhadora. Saía de casa cedo e chegava a noite”, contou outra vizinha, sem se identificar.

Há 40 anos ali, o aposentado Joselito Cordeiro, 57 anos, diz que a proximidade com a delegacia sempre trouxe certa sensação de segurança para a região, que nunca teve casos tão graves de crimes. “O problema hoje em dia é confiança. Não dá para confiar em ninguém mais”, lamenta. Ele relata que o inquilino costumava ingerir bebidas alcoólicas, mas garante que nunca ouviu queixas. “Todos estamos inconformados”, resume.

Feminicídio

Desde 2015, feminicídio consta no Código Penal como circunstância qualificadora do crime de homicídio. A Lei 13.140 incluiu os assassinatos motivados pela condição de gênero da vítima no rol dos crimes hediondos, o que aumenta a pena de um terço até a metade da determinada ao autor do crime.

A cada dia cerca de 13 mulheres são assassinadas no Brasil.  Segundo o Mapa da Violência 2015, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex.

No DF, segundo as estatísticas, 40 mulheres são vítimas de violência doméstica diariamente no DF. Até setembro do ano passado, 10.810 mulheres foram vítimas. A maior consequência da violência é a morte e, no caso, o homicídio pode ser qualificado como feminicídio. No ano passado, o crime cresceu mais de 200%, passando de 15 ocorrências para 49.

Saiba mais

A Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Disque 180) e o disque direitos humanos da mulher (156 opção 6)  recebem denúncias de violência, reclamações sobre os serviços da rede de atendimento e orienta as mulheres sobre direitos e a legislação.

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