Nem mesmo as áreas mais nobres da capital estão livres dos problemas que assolam o Distrito Federal. É o caso do Park Way. A região, considerada uma das mais privilegiadas, também fica à mercê de transtornos que vão desde os congestionamentos até a falha no abastecimento de água. De um lado, insatisfação da população. De outro, a ausência de explicações para a comunidade. Sobre o trânsito, foram 14 tentativas de resposta ao Departamento de Estrada de Rodagem do DF (DER-DF). Nenhum esclarecimento do órgão foi dado.
Hoje, o que mais tira o sossego dos moradores são as obras do Expresso DF – Eixão Sul (BRT). As intervenções ao longo da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) e da BR-040 têm causado reclamações. Os maquinários ocupam trechos das vias 24 horas por dia. Até em horários de menor movimento, o trânsito é complicado. No fim do dia, a situação se torna um caos para condutores que chegam a gastar até cinco horas no engarrafamento.
Para motoristas, faltou planejamento e alternativas de desvio antes do início das obras. Portanto, o resultado não poderia ser outro. Os moradores das quadras 7, 8, 26 e 27 têm gastado horas no trânsito. A situação afeta principalmente quem mora nos últimos conjuntos da Quadra 8. E não há qualquer alternativa.
Transtorno
Essa é a realidade do casal Simone e Adelce de Queiroz, 51 e 60 anos. O servidor público considera que as obras deveriam ter sido planejadas por etapas.
“É engarrafamento, poeira e lama. Tudo isso junto se transforma em um verdadeiro transtorno mental para motoristas. Já teve dias em que demorei horas para percorrer 400 metros. É uma estafante tarefa depois de um dia inteiro de trabalho”, reclama.
No início da semana, depois de quatro horas para tentar chegar em casa, Adelce desistiu da experiência. A três quilômetros de casa, ele deixou o carro em um local próximo ao congestionamento e resolveu ir caminhando.
“Cheguei primeiro a pé do que se viesse de carro. Quando foi meia-noite, voltei caminhando para buscar o carro, pois o engarrafamento continuava e não adiantava a minha esposa me levar de carro. Demoraria mais”, relata.
Poeira em casa e falta d’água
Além do trânsito, quem mora em frente à Epia tem que suportar a terra e poeira dentro de casa. A situação piora em razão das falhas de abastecimento de água. Segundo Simone de Queiroz, todos os dias, desde o início desta semana, houve problemas no fornecimento por até seis horas. Ela relembra época em que os moradores da Quadra 8 ficaram 15 dias sem água.
“O jeito é improvisar, comprando galão de água para beber e tomando banho na casa de amigos. Com a situação das obras, a condição piorou. A empregava limpava a área uma vez por semana, agora tem que ser um dia sim outro não, porque fica tudo sujo. Mas ainda tem que contar com a sorte de ter água”, relata.
Simone diz que ontem o fornecimento de água foi afetado no período da manhã. O serviço só voltou depois de quase duras horas. Por volta das 16h, quando a reportagem estava na casa da servidora, o abastecimento falhou novamente.
Trânsito comprometido
A condição que atualmente mais incomoda quem mora no Park Way é a dificuldade do trânsito. Estácio da Silva, 63 anos, conta que a filha resolveu mudar do local para o Sudoeste justamente por causa dos congestionamentos. Ele acrescenta que pelo menos mais um morador da cidade fez a mesma coisa.
O aposentado relata que durante todo o dia há picos de congestionamento, mas a situação piora a partir das 17h. “Se alguém adoecer a partir desse horário vai morrer, pois ninguém consegue chegar ao hospital. Os moradores agora precisam optar por ficar doente fora do horário de pico ou na madrugada”, ironiza o aposentado.
Para ele, as obras teriam de ser feitas por etapa. “Faltou planejamento e se houvesse estudo prévio antes da obra, as condições poderiam estar menos pior”, aponta.
Desgaste
Mesmo no contrafluxo não há como fugir dos engarrafamentos. Que o diga o comerciante Carlos Augusto Tavares, 44 anos. Ele mora no Park Way, trabalha no Gama e para ir e voltar gasta mais de duas horas. “É um desgaste muito grande. É difícil pensar que isso ainda deve continuar por pelo menos um ano, pois do jeito que está, no fim desse ano não fica pronto”.
O vizinho, Sebastião Gomes, 79 anos, completa: “Deveria ter feito alternativas em caráter emergencial. Isso é incompetência do governo”, relata.
Faltou planejamento
O professor de segurança de trânsito da Universidade de Brasília (UnB), Davi Duarte, explica que o problema específico no local se deve à falta de planejamento quanto ao volume de tráfego durante o período de obras. O especialista explica que ao propor uma obra, a primeira etapa, do ponto de vista viário, é fazer medição do tráfego em horários específicos para que eventuais bloqueios e desvios possam ser atendidos. “É necessário que os motoristas sejam atendidos e que os inconvenientes sejam ignorados e diminuídos. A impressão que se tem é que não houve qualquer balanço prévio. As consequências não foram avaliadas”, afirma.
O especialista ainda destaca as deficiências de sinalização para os desníveis na pista e as valas laterais. “As sinalizações dessa obra são dignas de quinto mundo. São absolutamente rudimentares, precárias, insuficientes e péssimas”, garante.