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Brasília

Bem-vindo à dura realidade do Park Way

Arquivo Geral

16/08/2013 7h20

Nem mesmo as áreas mais nobres da capital estão livres dos   problemas que assolam o Distrito Federal. É o caso do Park Way. A região, considerada uma das   mais privilegiadas,  também fica  à mercê de transtornos que vão desde os congestionamentos até a falha no abastecimento de água. De um lado, insatisfação da população. De outro, a ausência de explicações para a comunidade. Sobre o trânsito, foram 14 tentativas de resposta ao Departamento de Estrada de Rodagem do DF (DER-DF). Nenhum esclarecimento do órgão foi dado.


Hoje, o que  mais tira o sossego   dos moradores são as obras do Expresso DF – Eixão Sul (BRT). As intervenções ao longo da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) e da BR-040 têm causado reclamações. Os maquinários  ocupam  trechos das vias   24 horas por dia. Até em horários de menor movimento, o trânsito é complicado. No fim do dia, a situação se torna um caos para condutores que chegam a gastar até cinco horas no engarrafamento.

 

Para motoristas, faltou planejamento e alternativas de desvio antes do início das obras. Portanto, o resultado não poderia ser outro. Os moradores das quadras 7, 8, 26 e 27  têm gastado horas no trânsito. A situação afeta principalmente quem mora nos últimos conjuntos da Quadra 8. E não há  qualquer alternativa.

 

Transtorno

 

Essa é a realidade do casal Simone e Adelce de Queiroz, 51 e 60 anos. O servidor público considera que as obras deveriam ter sido planejadas por etapas. 

 

“É engarrafamento, poeira e lama. Tudo isso junto se transforma em um verdadeiro transtorno mental para motoristas. Já teve dias em que demorei  horas para percorrer 400 metros. É uma estafante tarefa depois de um dia inteiro de trabalho”, reclama.

 

No início da semana, depois de quatro horas para tentar chegar em casa, Adelce desistiu da experiência. A três quilômetros de casa, ele deixou o carro em um local próximo ao congestionamento e resolveu ir caminhando. 

 

“Cheguei primeiro a pé do que se viesse de carro. Quando foi meia-noite, voltei caminhando para buscar o carro, pois o engarrafamento continuava e não adiantava a minha esposa me levar de carro. Demoraria mais”, relata.

 

Poeira em casa e falta d’água


Além do trânsito, quem mora em frente à Epia tem que suportar a terra e poeira dentro de casa. A situação piora em razão das falhas de abastecimento de água. Segundo Simone de Queiroz, todos os dias, desde o início desta semana, houve problemas no fornecimento  por até seis horas. Ela relembra  época em que os moradores da Quadra 8 ficaram 15 dias sem água.

 

“O jeito é improvisar, comprando galão de água para beber e tomando banho na casa de amigos. Com a situação das obras, a condição piorou. A empregava limpava a área  uma vez por semana, agora tem que ser um dia sim outro não, porque fica tudo sujo. Mas ainda tem que contar com a sorte de ter água”, relata.

 

Simone diz que ontem o fornecimento de água foi afetado no período da manhã. O serviço só voltou depois de quase duras horas. Por volta das 16h, quando a reportagem estava na casa da servidora, o abastecimento falhou novamente.

 

Trânsito comprometido

 

A condição que atualmente mais incomoda quem mora no Park Way é a dificuldade do trânsito. Estácio da Silva, 63 anos, conta que a filha resolveu mudar do local para o Sudoeste justamente por causa dos congestionamentos. Ele acrescenta que pelo menos mais um morador da cidade fez a mesma coisa. 

 

O aposentado relata que durante todo o dia há picos de congestionamento, mas a situação piora a partir das 17h. “Se alguém adoecer a partir desse horário vai morrer, pois ninguém consegue chegar ao hospital.  Os moradores agora precisam optar por ficar doente fora do horário de pico ou na madrugada”, ironiza o aposentado.

 

Para ele, as obras teriam de ser feitas por etapa. “Faltou planejamento e se houvesse estudo prévio antes da obra, as condições poderiam estar menos pior”, aponta. 

 

Desgaste


Mesmo no contrafluxo não há como fugir dos engarrafamentos. Que o diga o comerciante Carlos Augusto Tavares, 44 anos. Ele mora no Park Way, trabalha no Gama e para ir e voltar gasta mais de duas horas. “É um desgaste muito grande. É difícil pensar que isso ainda deve continuar por pelo menos um ano, pois do jeito que está, no fim desse ano não fica pronto”.  

 

O vizinho, Sebastião Gomes, 79 anos, completa: “Deveria ter feito alternativas em caráter emergencial. Isso é incompetência do governo”, relata.

 

Faltou planejamento


O professor de segurança de trânsito da Universidade de Brasília (UnB), Davi Duarte, explica que o problema específico no local se deve à falta de planejamento quanto ao volume de tráfego durante o período de obras. O especialista explica que ao propor uma obra, a primeira etapa, do ponto de vista viário, é fazer medição do tráfego em horários específicos para que eventuais bloqueios e desvios possam ser atendidos. “É necessário que os motoristas sejam atendidos e que os inconvenientes sejam ignorados e diminuídos. A impressão que se tem é que não houve qualquer balanço prévio. As consequências não foram avaliadas”, afirma.

 

O especialista ainda destaca as deficiências de sinalização para os desníveis na pista e as valas laterais. “As sinalizações dessa obra são dignas de quinto mundo. São absolutamente rudimentares, precárias, insuficientes e péssimas”, garante.

 
Ponto de Vista 
 
A professora do Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Maria Leonor Bicalho observa que muitas horas  perdidas em engarrafamentos ocasionam em oscilação de humor, fragilidade emocional, irritabilidade e falta de paciência. “Em situações normais, estes temperamentos psicológicos não aconteceriam. Mas no trânsito acumulam as preocupações pessoais e profissionais do dia junto com as horas mal gastas em engarrafamentos. Há motoristas que chegam até a agressividade”, ressalta.
 
 
Irregularidades para escapar das obras

Em horário de pico, a Epia e a BR-040 se transformam em um festival de irregularidades. Para ganhar tempo e fugir do engarrafamento, condutores circulam em espaço destinado aos ciclistas, sobem em meio-fio e em gramados, fazem retorno em local proibido, adiantam o tráfego pelo acostamento e invadem o espaço de pedestres. Como resultado, a reportagem encontrou meio-fio danificado, ciclovias destruídas e pedestres sendo ameaçados por carros.
 
 
Sofrimento
 
Evanildo e Roselita Santos, de 57 e 49 anos, moram no Gama. Ela é assistente pedagógica de uma escola na Asa Sul, sai todos os dias de casa por volta das 6h. O expediente encerra às 17h, mas só consegue chegar em casa às 22h. “É um estresse de todos os dias. A comunidade está pedindo socorro, pois o sofrimento é grande”, ressalta.
 
 
O funcionário público Evanildo Santos aponta que uma das soluções seria a construção por etapas e a abertura de desvios. Ele aponta que a cada dia a intervenção das máquinas e sinalização está em uma das vias. “Além do mais, o Expresso DF não vai beneficiar totalmente a população”, afirma.
 
 
Impossível prever horário

Moradora do Gama, Marineise Dias, 63 anos, se cansou de chegar atrasada às consultas   médicas no Plano Piloto. Em razão dos intensos congestionamentos, a agente de portaria só conseguia chegar ao compromisso cerca de quatro horas depois do agendado. “Saía de casa às 5h para tentar chegar na hora certa, mas sabe-se lá   quando dá para chegar. A população não é considerada pelo governo, que mal pensa em  alternativas durante a execução da obra”, destaca.
 
 
O professor de engenharia de tráfego da UnB Paulo Cesar Marques aponta que os problemas poderiam ser minimizados com planejamento. Ele lembra que qualquer obra causa   transtorno, mas  que, na visão do especialista, há uma série de inconveniências simultâneas.
 
 
 “Há obras acontecendo no mesmo momento, como o BRT e o acesso ao aeroporto. Elas não deviam acontecer de forma simultânea e isso comprova a falta de planejamento”, avalia.
 
 
Alternativas
 
Segundo Marques, o governo deveria ter se pensado em desenvolver alternativas, por exemplo, na construção de inversões de sentidos do tráfego em algum momento. Para o professor, o que não é compreensível são intervenções feitas  sem planejamento. “Deveriam   ter pensado em pelo menor abrir um acesso para desvio. Isso minimizaria de certa forma o transtorno.   Como reflexo, há desgaste dos motoristas e a saúde afetada”, diz.
 
 
Preso no engarrafamento,  o jeito é ter paciência e aguardar voltar para casa. A família de Elsa Vieira, 23 anos, já estava há uma hora no trânsito, por volta das 18h de ontem. “É difícil demais, a gente   fica agoniado”, relata ela, grávida de seis meses.
 
 
Enquanto isso, quem fatura são os ambulantes, que  arrecadam até R$ 250 por semana.   “Tem dia que em uma hora tudo já foi vendido”, ressalta José Magalhães, 50 anos.
 
Versão Oficial
 
A Secretaria de Comunicação do GDF informou que as obras do Expresso DF – Eixo Sul fazem parte do projeto do Governo do Distrito Federal para melhorar as condições de transporte público da população do DF dentro do projeto de mobilidade urbana. De acordo com a pasta, a obra atenderá os moradores de Gama, Santa Maria, Park Way e Plano Piloto e beneficiará cerca de 600 mil pessoas.

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