Menu
Coluna Marcelo Chaves
Coluna Marcelo Chaves

Arte com a cara de Brasília

Marcelo Chaves

24/10/2016 14h56

Atualizada 31/10/2016 18h36

Tatyane Mendes (Interina)

Natural de Macapá, o artista plástico Ralfe Braga abraçou Brasília como berço de sua produção criativa e se inspirou nos monumentos da capital para criar obras únicas e coloridas. Entre os destaques do seu trabalho está a faixada do Estádio Mané Garrincha, na qual quase 3 km são coloridos com imagens criadas por Ralfe. A coluna fez um bate-papo com a artista sobre sua carreira e o mercado das artes plásticas.

Qual foi seu primeiro contato com a arte?

Costumo dizer que já nasci desenhando. Desde muito pequeno eu já ficava concentrado entre lápis e papéis, rabiscos e tudo mais.

Quando você decidiu que queria trabalhar com artes visuais? Teve algo específico que te motivou?

11752019_888803247824097_5459446020742825279_nEsse encaminhamento transcorreu de maneira bem natural. Somente na adolescência passei a ter um senso crítico sobre meu talento e vocação. Também, nesse período, foi fundamental a criação da Escola de Arte Candido Portinari da qual tive a honra de ser um dos primeiros alunos.

Como você criou seu estilo de fazer arte?

Entendo que estilo artístico não se cria do dia para noite. Você constrói ao longo de processos experimentais, entre erros, acertos, observações, estudos e pesquisas e, obviamente, muito trabalho. Também acho que essa é uma questão de pouca relevância e que não me preocupa pelo simples fato de que fazer arte é, antes de tudo, uma questão existencial profunda e libertadora. Porém, em última análise;  deixo para aquelas pessoas que contemplam a minha obra o livre arbítrio em definir meu estilo.

Como foi ser escolhido para trabalhar em um dos maiores pontos turísticos de Brasília, o Mané Garrincha?

ralfe_braga10O case do Estádio Nacional Mané Garrincha surgiu com o convite de uma agência de publicidade que, atendendo a uma demanda do governo local, selecionou um artista e eu tive o privilégio de ser o escolhido. O briefing era desafiador e exigiu coerência com o colorido e alegria próprios de uma arena esportiva. Foi um processo que demandou muito esforço mas que teve como resultado quase 3 km de arte aplicada nas fachadas internas e que acabou por tornar-se uma marca do estádio.

Para você como é o cenários das artes visuais em Brasília?

Fico feliz quando vejo tamanha efervescência cultural em nossa capital e, melhor ainda, muitas ações privadas como as galerias e espaços experimentais que foram criadas nos últimos anos. São jovens empreendedores e artistas, em sua maioria, que amparados pelas novas tecnologias, desafiam tempos obscuros e levam adiante suas impetuosas vanguardas urbanas. Também é importante ressaltar a nova ordem mental do mercado local em relação às artes e os artistas na forma de patrocínio. Essa é uma parceria profícua que alavanca e enriquece a produção artística.

Você também trabalha com um estúdio digital. Como isso afeta seu trabalho?

Sabemos que toda forma de arte, na sua essência, é universal e, por isso mesmo, precisamos ter acesso. As novas tecnologias estão aí para encurtar esse espaço/tempo e de forma democrática. A minha geração fez toda a transição do analógico para um novo tempo digital. São ferramentas e plataformas que facilitam e aceleram o experimento e a produção artística.

12631538_967497363288018_453182085071374460_nAcho isso incrível, mesmo assim ainda tenho que lidar com questões inquietantes e de fundo conservador como é o caso da originalidade e a mácula à obra feita com as próprias mãos por se tratar de objeto único. Atendendo a um apelo imediato de mercado, hoje minha produção digital é bem maior que a produção artesanal “original” e procuro explorar com parcimônia essa nova condição de maneira que possa horizontalizar e tornar acessível minhas obras pelos quatro cantos do mundo. Este é o cenário atual, farto, fácil e barato.

Além de quadros, você também começou a trabalhar com canecas. Pretende expandir para alguma outra plataforma?

whatsapp-image-2016-10-21-at-20-18-29As novas tecnologias permitiram aplicações em novos suportes com resultados surpreendentes. Hoje os artistas não precisam, necessariamente, ter que vender uma obra “original” para se manter; basta que, para isso, ele digitalize e faça aplicações em diversos objetos comerciais como camisetas, canecas, ímãs etc, daí a importância da parceria com a nova ordem mental corporativa que falei anteriormente. Essa é uma condição que me permite manter em acervo próprio os “originais” e ainda ser mais criterioso numa possível aquisição por parte de um colecionador ou galeria.

Qual o diferencial de suas criações com demais artistas com uma proposta parecida, como Romero Britto por exemplo?

A despeito da crítica e reservas com relação ao trabalho do artista R. Britto e sua onipresença em caixas de sabão, shampoos, sandálias e tudo mais; acho louvável seu pioneirismo em assumir uma linha de frente e mostrar, para os artistas, que existe vida fora do funil das galerias.

Qual sua maior fonte de inspiração na hora de criar uma obra?

whatsapp-image-2016-10-21-at-20-05-33Minha maior inspiração é a vida e tudo que ela representa na forma de saudades da querida Macapá/AP; infância feliz e iluminada por um sol tropical na linha do equador; dos banhos no rio amazonas; do futebol, chuvas, pipas na praça, quintais do norte e, atualmente, da minha linda e amada Brasília que Lúcio Costa preparou como suporte para pintura de Oscar Niemeyer e por fim meus filhos Michel, Pablo, Yanic, Camille e Ivin.

Você está preparando algum projeto futuro?

Fui convidado para uma exposição coletiva “Revoada das Cores” produzida pelo site Arte Amazon.com a ser realizada no espaço meia-lua do Amapá Garden Shopping em Macapá. Também estou finalizando outra exposição para dezembro em parceria com uma loja de departamento aqui em Brasília, além de outros projetos corporativos programados para 2017.

Fotos de reprodução/divulgação

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado