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Viva

Grupo de percussão transforma realidade de moradores

Arquivo Geral

06/07/2015 7h50

Lúria Rezende
Especial para o Jornal de Brasília

Canos de PVC, garrafas PET, raladores de queijo, panelas e outros utensílios domésticos ganham novas funções nas mãos dos integrantes do conhecido grupo brasiliense de percussão Patubatê. Para os integrantes Fred Magalhães e Felipe Fiúza, “sucata não é lixo”. É o agente condutor para a modificação da vida de centenas de pessoas.
 
Sob esse conceito, eles desenvolvem em uma comunidade de Planaltina (DF) o projeto Catadores de Arte que, em apenas um ano, já modificou a vida de seus participantes. Como um novo caminho para a arte e geração de renda para comunidades carentes, o programa estimula a coleta seletiva de resíduos sólidos e a confecção de instrumentos que mais tarde ecoam ritmos como maracatu, samba, baião, frevo, funk, tambor de crioula, capoeira e muitos outros. “Procuramos interligar a sustentabilidade com a arte e geração de renda”, explica Fred Magalhães.
 
Suingue
O local, situado em uma chácara no bairro de Mestre D’Armas, funciona como um terreiro de Candomblé. Entre os mais de 20 participantes, a maioria é negra e vive em situação de risco. Com oficinas uma vez por semana, em pouco tempo, o grupo de percussão Omó-Ayó (que significa Filhos da alegria) ganhou vida. “Geralmente ensino ritmos e batidas. Quando cheguei aqui, vi que eles já tinham todo o suingue por causa das festas e ritos. Só entrei com a técnica”, explica Fred.
 
Para um dos chefes locais, conhecido como Pai Aurélio de Oxóssi, a formação do grupo tem uma função cultural por disseminar a raiz negra e a religião para quem não conhece. “O terreiro de Candomblé e o nosso grupo significam a resistência da cultura negra, a luta contra o racismo e à intolerância religiosa”, destaca.
 
Fred Magalhães ressalta ainda que o aprendizado de uma vertente artística, neste caso a música, como elemento constitutivo de conhecimento é o fio condutor para a construção de uma nova vida. “Música aliada a um projeto socioambiental, como a qualquer outro de caráter social, não reflete uma forma de saber que se encerra em si, pois a partir dela podem-se alcançar novos caminhos de experiência humana”, diz Fred.
 
Mulheres e tambores
O Omó-Ayó tem como princípio uma intervenção cultural que se propõe a inserir nos espaços urbanos antigas tradições para desenvolver reflexões sobre a identidade cultural brasileira e o nosso processo histórico de afastamento com antigas tradições e culturas que permanecem esquecidas.
 
A criação do grupo Omó-Ayó democratizou o acesso das mulheres ao tambores já que, por dogmas da religião, as mulheres do Candomblé não tocam instrumentos.
 
Para Cíntia Silva, uma das participantes, essa não é uma questão de afrontamento aos costumes, mas um ato de humildade. “Tocar é uma libertação”, comenta.
 
Na visão do percussionista do Patubatê e professor Fred Magalhães, a música traz empoderamento para a mulher por meio da arte e de enfretamento do racismo, sexismo, discriminação, preconceito e homofobia, além de preservar e divulgar a cultura negra no Brasil. Mantendo assim diálogo cultural constante com o continente africano por meio de instrumentos, cânticos e toques.
 
Aulas e geração de renda
Além das aulas de percussão, os alunos como o estudante Gustavo Alves, também têm a oportunidade de gerar renda com a venda de materiais reciclados e lanches, produzidos por eles, e que são vendidos nos shows do grupo.

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