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Vinil: O tempo roda na vitrola

Arquivo Geral

28/01/2015 7h00

Em época de CDs, mp3, mp5, mp10, iPods, iTunes, dentre tantas outras tecnologias que chegam com força ao mercado fonográfico, os “obsoletos” LPs (long play) surgidos na década 1940 atraem apreciadores até hoje. Além dos DJs, que colecionam os discos por motivos óbvios, cresce o número de fãs do som reproduzido por bolachões.

Mesmo superados por outras tecnologias, os discos de vinil não perdem seu charme ou lugar nas estantes dos saudosistas. E, hoje, podem ser encontrados em várias prateleiras de lojas descoladas da capital, além de merecem lugar de destaque em um museu próprio. 

Localizado na Chácara 46 da Colônia Agrícola de Águas Claras  (Guará I), o Clube e Museu do Disco de Vinil de Brasília reverencia a tradição do estimado objeto retrô. Há 12 anos, o espaço funciona como um acervo de discos – alguns, inclusive, raridades que há muito não são encontradas no mercado, nem mesmo em versão CD.

É possível encontrar clássicos de todas as épocas do rock’n’roll, música erudita, MPB, além de sucessos da década de 1980, uma das mais buscadas por fãs de bolachões, como Legião Urbana, A Turma do Balão Mágico, Fofão, Xuxa, A Discoteca do Chacrinha, entre outros. Discos contendo trilhas sonoras de novelas que ecoaram na telinha da Globo também estão no museu, em suas versões nacional e internacional.

Resgate

Proprietária do museu que funciona na sua própria casa, a bibliotecária e comerciante Janete das Graças Oliveira não nega o vício e atração pelos vinis, que a acompanham desde a infância. Aliás, foi essa paixão que fez com que ela resgatasse o uso dos discos e suas memórias. E defendesse, com afinco, o retorno dos itens muitas vezes descartados feito lixo.

“As pessoas estavam jogando vinis fora. Como tinha uma locadora de CDs na Asa Norte, fiz –  anos atrás – uma campanha para doação de LPs. Quem doasse um bolachão, ganhava crédito para alugar os CDs”, conta Janete.

Próximo passo

A ideia deu tão certo que, atualmente, seu acervo tem aproximadamente cinco mil LPs, todos disponíveis para serem apreciados por quem resolver dar um pulinho no museu.

Janete sonha alto. Após ter lançado, em dezembro do ano passado, a ONG Espaço Cultural CD Shop Music, misto de museu, loja, sebo e ponto de encontro, no Guará, a comerciante pretende conseguir espaço para abrir uma discoteca pública no Plano Piloto, onde só tocará vinis. “Vou lutar por este espaço. Desde já, vou entrar em contato com o governador Rodrigo Rollemberg. Será uma relíquia para a cultura de Brasília”, destaca.

Som de bolachões “é  clássico e único” 

DJ, fotógrafo e designer gráfico, Felipe Nagó é fã dos rememoráveis discos antigos. E é exatamente com eles, os discos, que Nagó ganha a vida, há cinco anos, nas noites de Brasília. Seja um clássico dos anos 1980, reggae, música brasileira ou africana, tudo tocado pelo DJ nas pistas é  remixado nos bolachões. “Me interessei por vinis desde que toquei no antigo Café do Vinil, o atual Bar Victrola (413 Norte)”, lembra.

“Coleciono LPs e chego a tocar mais de 50 por noite. O prazer é imensurável. A sensação é de que estamos “pegando” na música, já que vemos o  ponto exato com a agulha”, destaca.

De mãe para filha

Em se tratando de vinil, a paixão pelos LPs não tem idade. Jovens colecionadores buscam resgatar uma tecnologia que, embora ultrapassada, não perde seus encantos.

É o que garante a atriz Kika de Moraes. Com 28 anos, ela faz questão de colocar os bolachões para a filha de quatro anos ouvir. “Têm clássicos de Beethoven, e até do Balão Mágico, que não achamos nem em CD”, defende Kika.

E completa: “o som do vinil é clássico e único. São relíquias que não ficam ultrapassadas pelo tempo”, conclui a atriz.

Relançamentos e boa fase no mercado

A gravadora carioca Elenco marcou seu lugar na história da música brasileira. De 1963 a 1966, a gravadora criada por Aloysio de Oliveira lançou cerca de 60 álbuns de nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Sergio Mendes, João Donato, Dick Farney e Sylvia Telles, além das estreias de Edu Lobo e Nara Leão.

Recentemente, cinco LPs da Elenco foram relançados pela Polysom. O box reúne as três “categorias” marcantes da gravadora: encontros, como Caymmi Visita Tom (1964) e Vinicius & Odette Lara (1963); shows, como Vinicius/Caymmi no Zum Zum (1966); e estreias, como a de Nara Leão, em Nara (1964), e Bossa Nova York (1967), primeiro disco de Sergio Mendes nos EUA.

Capas

Os álbuns tiveram o projeto gráfico original mantido. O que no caso da Elenco faz muita diferença, considerando-se a importância das capas da gravadora, com fotos de Chico Pereira e layout de Cesar Villela.

Relançados em vinil, os álbuns reafirmam o bom momento deste formato. Desde que retomou suas atividades, em 2010, a Polysom já vendeu cerca de 100 mil álbuns, sendo quase 60 mil em 2013.

Fábrica prevê crescimento

Depois de um crescimento significativo nas vendas nos últimos anos – passando de 36 mil unidades em 2012 para 59 mil em 2013 – e da grande demanda por discos de vinil, a Polysom decidiu aumentar seu maquinário. Com isso, a empresa pode chegar a fabricar 20 mil LPs e dez mil compactos por mês, o que representa um aumento de 35% na capacidade de produção.

“Vemos o crescimento como inexorável e sem limite de tempo. Esse processo que vem ocorrendo nos últimos anos, no Brasil e no mundo, provou que não se trata de uma simples moda passageira”, diz João Augusto, dono da Polysom.

A empresa trabalha com tiragem inicial média de 500 unidades de LPs para cada artista. O campeão de vendas é A Tábua de Esmeralda, clássico de Jorge Benjor de 1974 que teve 2,7 mil unidades vendidas.

Artistas contemporâneos

Além de relançar títulos importantes da música brasileira, a Polysom vem lançando em vinil trabalhos de artistas contemporâneos. Entre eles, nomes como Fernanda Takai, Rodrigo Amarante, O Rappa, Maria Rita, Vanguart, Marcelo Jeneci, Cícero, Silva e Los Sebosos Postizos.

“A nossa missão principal é fabricar discos para clientes diversos, notadamente os independentes, e não só licenciar e vender discos prontos. Essa segunda atividade só acontece porque a Polysom entendeu que seria a melhor forma de aquecer o mercado. E a estratégia funcionou, uma vez que o vinil no Brasil cresce em proporções assustadoras”, explica João Augusto.

Saiba Mais

Em 2010, ano em que a fábrica retomou suas atividades, a Polysom vendeu 25,4 mil discos.

No ano seguinte, o número caiu para 15,8 mil.

Em 2012, foram pouco mais de 36 mil unidades.

Número que quase dobrou no ano de 2013.

Onde encontrar vinis

Loja do Vinil –  CDN 02 (Taguatinga Norte). Informações: 3354-4988.

Pro Vinil –  Conic (Setor de Diversões Sul). Informações: 3224-3599.

Berlin Discos –  Conic (Setor de Diversões Sul). Informações: 3226-3106.

Musical Center Sebo de Discos –  215 Norte. Informações: 3274-0763.

Dom Pedro Discos –  412 Norte. Informações: 8108-7071.

Clube e Museu do Disco de Vinil de Brasília –   Colônia Agrícola de Águas Claras 

(Guará I). Informações: 3381-7578 e 9986-9393.

 

 

 

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