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Cultura democrática nos saraus de Brasília

Arquivo Geral

27/01/2015 6h30

Raquel Martins Ribeiro

Especial para o Jornal de Brasília

“O microfone fica aberto para quem quiser se expressar. Muitas vezes, aquele trabalhador que rala o dia todo, tem muito talento pra escrever, mas nunca teve oportunidade para mostrar. Aqui, ele encontra esse espaço”, explica Rafinha Bravoz, MC e um dos idealizadores do Sarau da Caligrafia Mardita. Refúgio para artistas que não têm espaço para se expressar, o local aumenta seu séquito a cada edição, transformando a relação da comunidade com a cultura local.

Poetas, MCs, rappers, cantores, instrumentistas e “simples” consumidores viscerais do ser lúdico se reúnem todas as terças-feiras, no Espaço MoverMents, localizado no Setor P Norte de Ceilândia.

Criado em 2013, o Sarau da CM, como é conhecido, tinha a intenção de servir como base de encontros para a crew de grafiteiros. “A ideia era de nos reunirmos para compartilhar black books, desenhos, além de poder falar de um grafiteiro para outro”, conta Bravoz.

Fora do eixo

No primeiro sarau, o grupo percebeu o interesse das pessoas que paravam para ouvir quando alguém recitava poesia. “A participação da comunidade e o apoio que todos nos dão é o que dá autenticidade ao trabalho que fazemos”.

Juntos, Rafinha e os demais fundadores, Robim, Guga e Bass, todos criados no P Norte, mostram que a arte resiste fora do eixo Plano Piloto. “A gente sempre quis fazer a nossa crew de hip hop dentro da nossa quebrada. Além de tentar fazer a comunidade reconhecer a gente por isso”, explica o MC. Rafinha reforça a utilidade do evento em lutas contra a criminalidade, o tráfico de drogas e, principalmente, “contra o preconceito em relação aos moradores de comunidade”.

Sobre a leitura

Uma parceria entre o grupo de grafiteiros Caligrafia Mardita e o MoverMents, projeto que oferece oficinas gratuitas de grafite, DJ, Bboy e break, o sarau “busca revigorar o olhar, também, por meio do incentivo à leitura”, conta Bravoz, que aproveita a parceria da comunidade para  arrecadar livros para a biblioteca comunitária.

O projeto conta hoje com 800 títulos à disposição dos frequentadores. “Nós não temos controle dos livros. O pessoal pega, termina de ler e devolve. Nós educamos o povo a saber que aquilo também é dele, que ele tem uma responsabilidade com a biblioteca”, destaca.

Dentre as obras doadas, algumas são selecionadas e enviadas para instituições. Cerca de quatro mil obras já foram repassadas.

Programação vai ganhar novo fôlego

A partir de março, uma nova programação deve  ocupar o Espaço MoverMents. Estão previstos cineclubes, batalhas de MCs e ensaios abertos de bandas locais. “Agora que conquistamos este espaço, pretendemos utilizá-lo ao máximo. Diversificar as atividades, e dar mais opções para a comunidade”, diz Rafinha.

De pai para filho

Na opinião de Edson Costa, conhecido como Pericão, deveriam existir eventos como o Sarau Caligrafia Mardita em todo o Distrito Federal. “Quando ouvia a palavra sarau, pensava logo em burguesia, ao pessoal que tem dinheiro”, assume.

Segundo ele, o que mais impressiona é a mistura de elementos, como a música e a poesia, sem contar as rimas de peso do rap.

“Jamais imaginei que poderia ter gente tão talentosa na minha cidade. Venho no sarau há mais de um ano e sempre trago meu filho porque acho interessante esse mix cultural”, conclui o historiador.

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