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Futebol

Capitão do tri, Carlos Alberto Torres morre aos 72 anos

Arquivo Geral

25/10/2016 12h39

Reprodução/TV Globo

Jorge Eduardo Antunes
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Dois bicampeões do Mundo travariam uma batalha épica no Estádio Azteca, na Cidade do México, naquela tarde de 21 de junho de 1970. Quem vencesse a partida levava para casa, para sempre, a Taça Jules Rimet e o domínio do futebol mundial.

Eram dois timaços. De um lado, a Itália de Facchetti, Sandro Mazzola, Gigi Riva e do jovem goleiro reserva Dino Zoff, mais tarde um mito nas traves da Azzurra.

Do outro, talvez a maior geração de craques do futebol brasileiro: Pelé, Gerson, Rivellino, Jairzinho, Clodoaldo, Tostão e o exuberante lateral-direito Carlos Alberto Torres, capitão daquela seleção de feras.

Após o 1 x 1 no primeiro tempo, o talento da seleção canarinho, aliado ao sol do meio-dia na capital mexicana, colocou o Brasil em larga vantagem na segunda etapa. Com 3 x 1 no placar, o time passeava em campo e trocava bolas com facilidade.

Aos 41 minutos do segundo tempo da final das finais, Tostão, o centroavante daquele 11 mágico, disputou uma bola na lateral esquerda defensiva, ganhando a pelota e tocando-a a Brito, que passou ao volante Clodoaldo. Este deu a Pelé, que tocou para Gerson e foi para frente.

O Canhotinha de Ouro devolveu a Clodoaldo, que driblou quatro italianos antes do meio de campo e deu a Rivellino, que fez o lançamento para Jairzinho. O atacante, que jogava mais à direita, fazendo o facão para o centro, tinha caído pela esquerda, levando a marcação com ele e abrindo um caminho imenso pela lateral direita.

Jairzinho recebeu na intermediária italiana, avançou e cortou para o meio, tocando a bola para Pelé, na entrada da área italiana. O maior jogador de todos os tempos recebeu, dominou com a esquerda, penteou a criança e deu na direita, rolando a bola mansa no vazio que ficara quando Facchetti saiu atrás de Jairzinho.

Naquele corredor entrava o capitão Carlos Alberto Torres, com todo o fôlego de seus 26 anos. A bola ainda deu uma leve quicada no gramado do Azteca, e ficou à feição para a bomba de direita. O petardo saiu certeiro e forte, disparado já dentro da área, entrando no canto direito do goleiro Enrico Albertosi, sem a menor chance de defesa.

Brasil 4 x 1 e a taça do mundo era nossa de vez.

Carlos Alberto Torres ainda iria participar de mais um momento histórico naquele dia, ao receber a Jules Rimet, em definitivo, das mãos de Gustavo Diaz Ordaz, então presidente do México. Beijou a taça e a ergueu bem alto, dando-a, em seguida, aos companheiros de tricampeonato mundial, para, depois, pegar de novo o troféu, exibi-lo aos presentes no estádio e cumprimentar as autoridades.

Mais tarde, em 1986, ele teria que erguer a Jules Rimet outra vez, ao receber uma nova versão do troféu, feita pela Eastman Kodak, para substituir a taça original, roubada de dentro da sede da CBF em 1983, onde ficava exposta sem a menor segurança, enquanto a réplica estava trancada em um cofre forte…

Um dos maiores em campo

Torres era capitão no porte, na autoridade e no futebol. Surgiu em 1963, no Fluminense, clube que defendeu até 1966, marcando 9 gols em 98 jogos, marca rara para um lateral, à época. Ainda no primeiro ano de carreira, ganhou a medalha de ouro nos Jogos Panamericanos de São Paulo, mostrando brilho já no começo da trajetória daquele que seria um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, e talvez o maior lateral-direito da história do futebol brasileiro, ao lado do mestre Djalma Santos.

Em 1964, foi campeão carioca e em 1966 deixou o tricolor das Laranjeiras para ingressar na máquina santista, um dos melhores times do mundo nos anos 1960. Ficou no Santos por oito anos, com breve passagem, em 1971, pelo Botafogo, onde jogou por três meses e 22 partidas. Pelo Alvinegro Praiano, marcou 40 gols em 445 jogos, média alta para um lateral-direito, conquistando os campeonatos paulistas de 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973, este dividido com a Portuguesa, o Rio-São Paulo de 1966 e a Recopa Sulamericana de 1968.

No final de 1974, voltou ao Flu, virando zagueiro na Máquina Tricolor montada por Francisco Horta, levando o bicampeonato carioca de 1975/76.

CBF

CBF

Em 1977, após rápida passagem pelo Flamengo, encerrou sua participação pela seleção durante a primeira fase das eliminatórias para a Copa da Argentina e rumou para Nova York, atuando ao lado de Pelé e Franz Beckenbauer no estelar New York Cosmos, ganhando os títulos da NASL em 1977, 1978, 1980 e 1982, ano em que pendurou as chuteiras.

Campeão logo na estreia como técnico

Abraçou a carreira de técnico em 1983, e logo foi campeão brasileiro dirigindo o Flamengo. Um ano mais tarde, deu o Carioca ao Fluminense e, em 1993, a Copa Conmebol ao Botafogo, os times cariocas que jogou e treinou.

Também comandou Corinthians, Náutico, Atlético-MG, Paysandu, Miami Freedom (EUA), Once Caldas (COL), Monterrey (MÉX), Tijuana (MÉX), Querétaro (Méx), Unión Magdalena (COL) e as seleções de Omã e do Azerbaijão. Em 2005, após passagem pelo Paysandu, encerrou a carreira de técnico.

O capita, como era chamado, também foi vereador do Rio de Janeiro pelo PDT de Leonel Brizola, entre 1989 e 1993. Ultimamente estava atuando como comentarista do canal a cabo Sportv, onde participou domingo (23) do programa “Troca de Passes”.

Carlos Alberto Torres morreu nesta terça-feira (25), aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi vítima de um infarto fulminante, em casa. O Capita foi casado três vezes: com Sueli, mãe dos filhos Andréa e Alexandre Torres, ex-jogador do Fluminense, Vasco e Nagoya Grampus (JAP); com a atriz Terezinha Sodré; e com Graça, sua atual esposa.

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