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Incêndios de Ano Novo marcam lado trágico da principal festa chinesa

Arquivo Geral

23/02/2010 15h32

O incêndio na semana passada de uma torre de 1,6 mil anos de história, devido ao uso de fogos de artifício nas festas do Ano Novo chinês, volta a pôr em xeque esse costume oriental, que a cada ano provoca dezenas de mortes e não é a primeira vez que causa a destruição de um edifício emblemático.

Todas as noites nas duas primeiras semanas do Ano Novo Lunar (que dessa vez começou em 14 de fevereiro como Ano do Tigre) milhões de chineses lançam nas ruas, por conta e risco e com poucas medidas de segurança, todo tipo de artefatos pirotécnicos, às vezes com resultados desastrosos.

A finalidade dessa prática não é, como no Ocidente, meramente estética, mas também funcional. Segundo a tradição chinesa, os maus espíritos abundam nos primeiros dias do ano e a melhor forma de espantá-los é fazendo o maior barulho possível.

Os chineses, inventores dos fogos de artifício, também encontram grande diversão nessa prática, mas nos últimos duas importantes estruturas incendiadas demonstraram que é preciso limitar o uso dos fogos.

O mais recente desses incêndios ocorreu na última quinta-feira, quando fogos de artifício destruíram totalmente a estrutura de madeira de uma torre de entrada à histórica cidade de Zhengding, a cerca de 150 quilômetros de Pequim.

A torre era a única das quatro que permaneciam de pé da antiga muralha da cidade, e tinha sido restaurada em 2001, mas foi vítima da tragédia pirotécnica que a tradição obriga a realizar no quinto dia do ano novo chinês, o chamado “Po Wu”. Neste dia, acredita-se que há mais maus espíritos e por isso é preciso fazer ainda mais barulho.

Cinco pessoas foram detidas por suposta responsabilidade no incêndio, que a muitos lembrou um ainda mais midiático ocorrido em 9 de fevereiro de 2009 em Pequim, também devido a fogos de artifício e também em um dia especialmente dedicado à pirotecnia (o Festival da Lanterna).

Naquela ocasião, o fogo atingiu o Hotel Mandarim Oriental (de cinco estrelas e 44 suítes), no mesmo local da televisão estatal chinesa “CCTV”, um moderno edifício desenhado pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas.

A silhueta do edifício de Koolhaas com as chamas do hotel ao fundo foi uma das imagens mais espetaculares da China em 2009, um incêndio no qual morreu um bombeiro.

Esses dois incêndios foram os mais chamativos, mas não os únicos. Só na semana passada, as celebrações pirotécnicas pelo Ano Novo chinês produziram no país 7.480 incêndios, nos quais morreram 35 pessoas e houve perdas materiais no valor de US$ 4 milhões.

O número de mortos, no entanto, caiu pela metade em relação a 2009.

A opinião pública chinesa se encontra, diante desses números, dividida sobre a preservação de uma tradição milenar ou a suspensão dela por causa do perigo.

“Poluem, fazem barulho, causam incêndios, feridos e mortos, são uma perda de dinheiro, qual é a vantagem dos fogos de artifício?”, opinava um internauta no site chinês “NetEaste”, ao comentar a notícia do incêndio da torre de Zhengding.

Alguns, no entanto, se mostram favoráveis de manter uma tradição que é traço da identidade cultural chinesa há milênios, embora com limitações.

“São parte da tradição chinesa e devemos mantê-los, mas o fato é que cada vez são maiores. Seria preciso ser mais cuidadoso, proibi-los no centro das cidades e seguir as normas”, opina Zhao Jing, uma guia turística de Pequim.

Os fogos de artifício, por outro lado, são uma importante atividade da indústria chinesa, com milhões de pequenas fábricas disseminadas por todo o país que vivem da tradição.

Infelizmente, também são frequentes na China os incêndios e explosões nessas fábricas, algumas delas sem cumprir as medidas de segurança necessárias, especialmente nas zonas rurais.

O Governo chinês tentou de várias formas reduzir os acidentes pirotécnicos tanto de fabricantes como de usuários, por exemplo com campanhas de fechamento de fábricas ilegais.

Em Pequim, o uso de fogos de artifício esteve proibido durante 12 anos, mas o veto foi revogado em 2006 devido às queixas dos cidadãos da capital. Eles argumentavam que a maior festa da China estava enfraquecida sem sua principal “diversão”.

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