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Política & Poder

“Sempre trabalhei para voltar para o Congresso”, diz Agaciel Maia em entrevista ao Jornal de Brasília

Arquivo Geral

13/11/2017 6h59

Myke Sena

Millena Lopes
[email protected]

Nordestino da Paraíba e crescido no Rio Grande do Norte, para onde corre sempre que tem uma folga, o economista Agaciel Maia é deputado distrital de segundo mandato e, mais recentemente, assumiu a Liderança do Governo do DF na Câmara Legislativa, mesmo sendo filiado a um partido que deve fazer a maior oposição ao governador Rodrigo Rollemberg na próxima eleição, o PR.

Funcionário do Senado por 33 anos, onde entrou como datilógrafo e saiu como diretor-geral, ele sonha em voltar ao Congresso Nacional e sabe que a permanência no posto de defensor do Palácio do Buriti tem data para acabar, já que ele sempre deixou claro ao chefe do Executivo que seria fiel ao partido do ex-governador José Roberto Arruda nas eleições. E diz que, depois de reiterados convites e mesmo com a resistência do PSB, resolveu assumir o encargo para construir, junto com o governo, alternativas para a crise financeira e orçamentária.

“Já ouvi de muita gente: como você, que é do PR, um partido que disputou com o governo, ajuda essa gestão? Eu digo que quero ter condições de levar meus netos para as escolas sem ver as pessoas bloqueando as ruas por estarem sem receber salários. Não é uma questão partidária, mas uma questão da cidade”, diz o parlamentar, na entrevista que segue.

Como é ser líder do governo, mesmo sendo de um partido de oposição?
Uma das coisas que mais me orgulho em ser deputado distrital é que, em 2011 e 2012 eu fui presidente da Comissão de Orçamentos e Finanças (Ceof) da Câmara Legislativa, e neste período o orçamento e a economia pública do DF ficaram equilibrados. Depois, saí da comissão, fui ocupar o posto de vice-presidente da Casa, em 2013 e 2014, aí teve aquele estouro de contratações, reajuste de salários, etc. Quando assumi a comissão novamente, no início do governo Rollemberg, tínhamos um limite prudencial de 53%, hoje está fora do limite. A economia do DF estava totalmente diferente, com salários atrasados. Então, eu tenho uma contribuição e me sinto um pouco responsável pela organização das finanças do Governo do Distrito Federal. Primeiro, porque faço um trabalho cartesiano, não aceito superestimar receitas, automatizei as emendas e tenho contribuído nessa situação atual de que o Governo do DF não figura mais entre os estados que não atrasam salários. Pela primeira vez, em 2011 e 2012, um relator de orçamento não recebe nenhuma emenda nem dos deputados nem do governo. Isso ocorreu pela primeira vez no Legislativo daqui e talvez também do Brasil. O forte da minha atuação parlamentar é nessa área de orçamento. Eu sou de uma escola política que tem a seguinte filosofia: se for para ajudar, conte com o deputado Agaciel; se for para prejudicar, não conte comigo. Não sou de prejudicar nem os que merecem. Desde o início do governo, eles sabem que não votei no Rollemberg, apesar de ter trabalhado com ele antes mesmo de ele ser político. No início, havia uma resistência principalmente do partido dele. Ele sempre me chamou para ser líder e eu nunca aceitei. Nesta reta final, tinha de se fazer a construção de dois pilares que eram fundamentais aqui em Brasília: temos uma saúde muito ruim e, matematicamente, seria impossível continuar a pagar os salários de servidores em dia e chegaria a um ponto que o dinheiro não daria nem para pagar os fornecedores e terceirizados.

Os recursos do Iprev salvaram as contas do governo nesta reta final?
Se a gente não aprovasse o (fim da segregação de massas do) Iprev, não teria dinheiro nem para pagar os salários. Já ouvi de muita gente: como você, que é do PR, um partido que disputou com o governo, ajuda essa gestão? Eu digo que quero ter condições de levar meus netos para as escolas sem ver as pessoas bloqueando as ruas por estarem sem receber salários. Não é uma questão partidária, mas uma questão da cidade. Eu falo para o deputado Wasny de Roure (PT), que o crítico mais ferrenho, que é preciso reconhecer que a utilização de parte dos recursos do Iprev, que são praticamente R$ 2 bilhões, paga não só os salários, porque, com o dinheiro, os servidores compram e movimentam a economia, o que possibilita estabilidade econômica ao governo. O PR, de Jofran Frejat e do ex-governador José Roberto Arruda, sabia da minha condição de independência. E também conversei com o governador e avisei que eu iria ajudar, mas que isso não significaria que eu estaria com ele em ano de eleição. Eu sempre trabalhei para voltar para o Congresso.

Como deputado ou como senador?
Como deputado federal, mas com o sonho principal de ser senador e voltar para o Senado, onde passei minha vida toda. Agora, se depender do partido, eles me mantêm aqui como deputado distrital. Por uma simples razão: porque, por eu ter essa característica de ser um facilitador, eles gostariam de contar comigo aqui.

E a realização desse sonho de voltar ao Congresso pode custar até a filiação em outro partido?
Não. Eu acho que isso é muito difícil. Pela experiência que eu tenho, os dirigentes partidários iriam me respeitar. Estou na expectativa de que, quando chegar na época apropriada, esses posicionamentos sejam revistos.

E a relação do PR, aqui na Câmara Legislativa, como ficou com o governo, já que o deputado Bispo Renato, que sempre se posicionou como oposição, agora tem até cargos no governo?
O Bispo Renato tem essa sensibilidade. Eu expliquei algumas coisas para ele. É muito difícil quando não se tem estrutura de governo e ele foi secretário de Trabalho no governo anterior. Conseguimos amenizar esse aspecto e algumas coisas eu mostrei para o Bispo Renato que eram importantes e ele melhorou bastante. Apesar de não ser considerado um deputado da base, ele sempre teve uma afeição muito grande pela área do Trabalho e eu acho que o fato de colocar algumas pessoas flexibilizou bastante. Algo que não tenha uma justifica plausível, ele se posiciona contra ou não vem.

Com quantos deputados o senhor pode contar hoje para votar os projetos do governo?
Quatorze. São 12 deputados absolutamente fiéis e a Liliane Roriz (PTB) e o Bispo Renato, que têm de ser convencidos de que o projeto é bom. E, às vezes, a gente conta ajuda dos próprios deputados do PT.

É difícil fazer a articulação com o governo Rollemberg?
É difícil. O que acontece muito é que, mesmo o governador tendo sido deputado distrital, o relacionamento com o Poder Legislativo em si, depois que você senta na cadeira do Executivo, e tem que compartilhar, as pessoas dizem que deputado não tinha que se meter, mas eu acho que quem ajuda a governar tem que compartilhar do governo. Geralmente, os governadores, no inicio do mandato, dado à força das urnas, tentam menosprezar um pouco o Legislativo, mas à medida em que vão precisando e vendo que os projetos fundamentais precisam da aprovação, começam a flexibilizar.

Quais as pautas prioritárias do governo para o que falta deste ano?
Tem o projeto orçamentário e a Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo), que eu disse várias vezes que, dada a complexidade, não tem condições de ser votada este ano. Temos uma lei importante, que é a de compensação urbanística, que é bom para quem construiu e está ameaçado de demolição e para o governo, que arrecada. E também o código de obras, que facilita e desburocratiza.

Até quando o senhor continua na Liderança de governo?
Eu vou ficar até quando eu julgar que devo ficar. Pelo partido, tenho liberdade de ficar.

Mas e quando a campanha começar?
No cenário hoje, quem mais ameaça o governo é Jofran Frejat. Tem outros candidatos, mas a gente não sabe se tem potencial. Vou ficar numa saia justa aí…

Mas isso tudo está acertado com o governador?
Eu sempre deixei isso claro. E, por causa disso, enfrento o ciúme até do PSB (partido de Rollemberg). E os próprios colegas deputados sabem disso. Hoje, o que dificulta o cenário da Liderança é porque nós temos o presidente da Casa (Joe Valle – PDT), dois ex-presidentes (Wasny de Roure e Celina Leão – PPS), Raimundo Ribeiro (PPS) e Wellington Luiz (PMDB) com posições contrárias. É uma seleção de oposição. Sem falar agora no Cláudio Abrantes (sem partido) e no Reginaldo Veras (PDT). Então, é muita gente boa para enfrentar, convencer…

O senhor acredita que Rollemberg tem tomado as decisões corretas, sido um bom gestor?
Às vezes, as pessoas dizem que este é um governo certo na hora errada, mas eu acho que é um governo certo, a hora certa. Porque a gente não aguentava mais um governo perdulário, que não tivesse responsabilidade, não tivesse coragem de tomar as decisões. Tem outro mérito: conseguimos dar um equilíbrio fiscal, as empresas estão começando a voltar para o Distrito Federal. Ele, pelas decisões tomadas na gestão orçamentaria e financeira, está pagando um preço caro, politicamente falando, que pode custar até a reeleição. Primeiro, foi fazer o enfrentamento dessa questão dos reajustes (dos servidores públicos) e das concessões.

Ainda há tempo de Rollemberg se recuperar politicamente e ter chances reais de se reeleger?
Daqui para a frente, ele só pode fazer coisas melhores do que fez nos últimos três anos. Agora, se essas coisas melhores vão refletir exatamente em competitividade na eleição, vai depender da celeridade e do marketing. Ele vai ter de fazer muito e mais rápido e quebrar o fosso que é a comunicação.

Tem um discurso que foi repetido – e ainda é – na campanha, inclusive pelo governador atual, de que dinheiro tem e o que falta é gestão. O senhor concorda?
Não. Não tinha dinheiro. E outra coisa: Rollemberg pagou quase R$ 1 bilhão das dívidas deixadas pelo ex-governador Agnelo Queiroz. Governo nenhum que eu conheço assumiria isso. Depois de pagar as contas, ele manteve a regularidade. Agora sim, ele pode dizer que tem dinheiro. Mas o governador era um mero controlador de fluxo de caixa. Era um equilibrista, para saber quando pagava um e deixava de pagar o outro. Agora, ele tem essas pendências do reajuste salarial, mas não vai ter mais problema de pagamento de servidores e fornecedores até o fim do mandato.

O senhor ainda tem ressentimento por ter perdido a eleição para a Presidência da Câmara Legislativa?
Não. Quando não dá certo, para mim é livramento. De certa forma, agora eu estou muito mais confortável na posição em que estou. A Presidência dá uma visibilidade maior, mas a responsabilidade é muito grande.

O senhor acha que contribui mais com o governo na Liderança?
Pelo menos os fatos mostraram isso. Mesmo em um quadro desfavorável, com 12 deputados e às vezes 11, nós conseguimos aprovar os projetos que realmente deram oxigênio ao governo. E, talvez, se eu estivesse na Presidência, não tivesse conseguido.

Então podemos cravar que Agaciel, em 2018, vai mirar uma vaga na Câmara Federal?
Sim, meu projeto é esse. Apesar de o partido achar que eu sou melhor como deputado distrital. Mas, se eu for eleito, vou ser um bom deputado federal, porque eu conheço bem lá.

E, em 2022, Senado? Tem só uma vaga…
Mas eu não tenho pressa não. Nao sou ansioso, tenho paciência.

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