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Política & Poder

Saúde pública do DF perde 11% das horas de trabalho

Arquivo Geral

22/03/2017 7h00

Atualizada 21/03/2017 23h25

Controle de ponto na rede pública: medida para o número elevado de licenças médicas, afastamentos para exames e de faltas não justificadas. Foto: Kléber Lima

Francisco Dutra
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Faltas injustificadas, atestados médicos, licenças e atrasos na entrada no plantão geraram a perda de 120.942 horas de trabalho na saúde pública do Distrito Federal, ao longo de 2016. Pelas contas da Secretaria de Saúde, a ausência, chamada tecnicamente de absenteísmo, é de 10,8% do total de 1.119.834 horas de trabalho legalmente previstas para os 35 mil trabalhadores da rede.

Segundo o secretário-adjunto de gestão da Saúde, Ismael Alexandrino, 44,5% das ausências partiram de atestados médicos, odontológicos e também justificados para a realização de exames e terapias. Em números absolutos, foram 53.819 horas perdidas. Faltas injustificadas culminaram em 40,12% de todo absenteísmo, sangrando a rede pública e o atendimento digno da população em 48.521 horas.

Cada segundo, minuto e hora perdida debilitou ainda mais o enfermo sistema de atendimento brasiliense. Para o secretário-adjunto, o volume de faltas é gritante, gerando pacientes sem o tratamento adequado e servidores sobrecarregados com o não comparecimento dos colegas de serviço.

“O absenteísmo é mais presente na enfermagem, com 12,3% das horas não trabalhadas. Em segundo, estão os técnicos em enfermagem. Eles respondem por 12,1%. Isso é um problema. O médico atua pontualmente. Mas a base na assistência de qualquer serviço é o corpo de enfermagem. Enfermeiros e técnicos estão presentes em toda linha de cuidado dos pacientes, indo do acolhimento, respaldo da família, até a alta”, comenta Alexandrino.

“A falta injustificada é o problema. Ela atrapalha o plantão do servidor ausente, o próximo plantão e por conseguinte o usuário. Nada justifica tantas faltas”, alerta a especialista Carla Pinto.

De acordo com ela, o tratamento das faltas crônicas deve partir do mapeamento detalhado de toda a rede, passando por condições de trabalho e relações entre servidores e chefias. Com o diagnóstico em mãos, Carla defende a formulação de um pacote de medidas para estancar as ausências, associado a uma campanha educativa e de parceria entre servidores e o governo.

Sindicato culpa sobrecarga

Condições de trabalho degradantes, falta de incentivo do governo justificam os altos índices de absenteísmo, na perspectiva de enfermeiros e técnicos de enfermagem. “Não temos protocolos de trabalho. Um enfermeiro resolve tudo. Desde problemas administrativos e até o acolhimento psicológico das famílias. Estamos sobrecarregados”, desabafa a presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Dayse Amarilio.

Segundo a sindicalista, a categoria, já fez propostas para trabalhar junto com o governo em um projeto com o objetivo de cuidar dos cuidadores. “Sofremos doenças nas costas e psiquiátricas. Mas somos apenas maltratados e negligenciados. Do jeito que este governo desmotiva os servidores o absenteísmo vai aumentar”, critica.

O vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem, Jorge Vianna, acusa o sistema de ponto eletrônico de falhas graves. “O servidor bate e não registra. Deveria haver um comprovante de papel”, argumenta. O sindicalista lembra que no ano passado a categoria fez paralisações, cobrando o corte de ponto classificado como falta injustificada. Por fim, grande parte das duas categorias é composta por mulheres em idade fértil e com direito à licença maternidade.

Ponto de vista

O governo Rollemberg definiu duas linhas de ação para sanear o absenteísmo. O Buriti pretende levar o ponto eletrônico para aproximadamente 100% da rede até julho deste ano. Hoje, a ferramenta está presente em 85% da rede. “Montamos um grupo de trabalho para fazer o dimensionamento da força de trabalho e parametrização de todas as atividades. Queremos saber quanto temos e quanto precisamos para trabalhar”, conta o secretário-adjunto Ismael Alexandrino (na foto). A designação da força-tarefa foi publicada no Diário Oficial do DF em 13 de março deste ano e terá 90 dias para apresentar o relatório. De posse dos números e com cobertura global do ponto, a secretaria fará adequações na rede e passará a cobrar a presença dos servidores com mais ênfase. “Não é uma caça ás bruxas. Simplesmente queremos fazer o correto da forma correta para que se tenha o atendimento positivo da população”, afirma.

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