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Política & Poder

Queda do viaduto: o bode expiatório e o personagem blindado

Arquivo Geral

08/02/2018 21h31

Atualizada 09/02/2018 0h30

Myke Sena

Francisco Dutra
[email protected]

A estratégia do governo Rollemberg (PSB) para a contenção da crise do desabamento do viaduto do Eixo Rodoviário Sul deixa políticos e servidores públicos com a pulga atrás da orelha, por apresentar dois pesos e duas medidas. Menos de 24 horas após o acidente, o governador exonerou o então diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER/DF), Henrique Luduvice, mas poupou o cargo do diretor-presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Júlio Menegotto. Em conversas reservadas, personagens com trânsito constante no Palácio do Buriti explicam: silenciosamente Menegotto é um dos nomes mais fortes do governo.

Ao contrário de muitos nomes do primeiro escalão, como o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, e a secretaria de Planejamento, Leany Lemos, Menegotto não exerce poder diante dos holofotes. Mas internamente, tem influência em todo setor de obras do governo. O gestor da Novacap indicou Antônio Raimundo dos Santos Ribeiro Coimbra para o comando da secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos. A indicação do ex-diretor de Edificação da Novacap, Márcio Buzar, para o comando da Novacap teria partido de Menegotto.

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O grupo político do diretor da Novacap é extremamente próximo de Rollemberg. “Menegotto é um dos homens de confiança do governador. É uma das pessoas mais fortes no governo”, comenta em reservado um personagem governista. Além disso, guilhotinar Menegotto poderia desarticular toda estratégia de obras do Executivo. Por outro lado, Luduvice foi rifado por dois motivos. Dentro do governo, é praticamente um consenso que o ex-diretor do DER teve uma baixíssima execução orçamentária. Dinheiro havia, faltou ação. O segundo ponto é que Luduvice é primo de Rollemberg, sendo da mesma família seria mais fácil uma reconciliação com o governador no futuro.

Mesmo diante deste cenário, nos bastidores, aliados observam falhas e pontos nebulosos na estratégia de contenção de crise. Se o Executivo estava disposto a exonerar alguém, deveria ter desligado Luduvice e Menegotto. Ficou claro o movimento para criar um bode expiatório, em paralelo com a blindagem de um nome do governador. Alguns nomes julgam que o GDF deveria ter inicialmente uma sindicância ou até mesmo aberto uma investigação da Polícia Civil para avaliar responsabilidades. Com documentos em mãos, as decisões deveriam ser tomadas, inclusive, com indiciamentos.

“O governador também erra por não ter pedido desculpas publicamente. É um erro. Ele não tomou conhecimento dos relatórios apontando os riscos dos viadutos quando tomou posse. Mas o governo tomou. E quem é a voz do governo? É ele. Felizmente ninguém ficou ferido. Mas é um patrimônio público, que poderia ser em qualquer região administrativa. E também é área tombada. Desabou uma parte do patrimônio histórico da humanidade tombado. Desculpas demonstrariam humildade e reconhecimento de que é preciso melhorar”, conversa sigilosamente um nome na orbita de Rollemberg.

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A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que “sempre trabalhou em conjunto com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER). E assim continuará nas etapas de avaliação e recuperação do viaduto da Galeria dos Estados. O trabalho será feito em conjunto por vários órgãos do governo e com a colaboração de entidades da sociedade civil, como CREA e UnB”.

A Novacap afirmou ainda que nos últimos três anos, o governo de Brasília realizou a reforma de oito viadutos na área central da Capital, priorizando a região da rodoviária por ser uma região de grande fluxo de pessoas (700 mil por dia), e que havia um cronograma para a reforma de 19 viadutos – o da Galeria dos Estados estava no cronograma e seria atendido proximamente. “Portanto, a Novacap esclarece que, em nenhum momento, o processo relativo ao viaduto ficou paralisado. Ele fazia parte (e ainda faz) de um cronograma que vem sendo atendido”.

“Sempre preocupado com a segurança, o Governo de Brasilia esclarece que realizou ainda outras obras importantes de recuperação, manutenção e reforma em pontos críticos, como a complementação de rede de drenagem do viaduto do metrô da EQNN 05/07 – EQNN 6/8, QNN 5, 21 e 35, em Ceilândia; a execução de estrutura complementar de proteção contra erosão na avenida Elmo Serejo, cruzamento com o córrego do cortado em Taguatinga e a recuperação da Barragem do Ribeirão do Gama, na quadra 17, setor de mansões Park Way. Além da construção de quatro viadutos em Águas Claras, dentre outros”, concluiu o GDF.

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