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Política & Poder

Operação chega a advogado suspeito de fraude na licitação do sistema de transportes do DF

Arquivo Geral

14/08/2015 6h00

Da Redação, com agências

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A Polícia Federal fez buscas na manhã de ontem, no escritório de advocacia Guilherme Gonçalves & Sacha Reck, no centro de Curitiba, que teria recebido R$ 4,64 milhões entre setembro de 2010 e janeiro de 2013 da Consist Software, R$ 1,2 milhão entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014 da SWR Informática, e R$ 423,2 mil entre janeiro de 2012 e abril de 2012 da Consist Business, em todos os casos, a título de “honorários advocatícios’.

A busca se fez em nova etapa da Operação Lava Jato, batizada como Pixuleco II, que prendeu o ex-vereador petista Alexandre Correa Romano. A investigação representa a ligação entre dois escândalos, a corrupção na Petrobras e a licitação do sistema de ônibus do Distrito Federal. 

É que o advogado Sacha Reck, novo protagonista da Lava Jato, responde a inquérito na capital como articulador de manipulação da licitação, favorecendo um grupo de empresas. A licitação ocorreu no governo petista de Agnelo Queiroz.

Vínculo com o PT

Segundo a Polícia Federal, a banca de Sacha Reck “é ligada ao PT, presta serviços ao PT”. O escritório teria ‘relações próximas’ com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, e atuou na campanha de Gleisi. 

O novo esquema gira em torno de empréstimos consignados no Ministério do Planejamento, a partir do acesso de dados relativos a mais de 2 milhões de servidores públicos. A organização comandada por Alexandre Romano, ‘auferia remuneração decorrente desses serviços’.

O escritório ‘ligado ao PT’ atua na área administrativa, bancária e financeira, consumidor e contratos comerciais. Segundo a PF, recentemente houve desmembramento da sociedade, mas novos escritórios continuaram a funcionar no mesmo prédio. 

Sobre os pagamentos efetuados aos escritórios, a PF afirma que, ‘em pesquisa em fontes abertas, não logrou encontrar causas das empresas’ que os contrataram. O escritório Guilherme Gonçalves não retornou telefonemas da reportagem.

Assessoria foi ignorada

A CPI do Transporte da Câmara Legislativa ouviu ontem da chefe da assessoria jurídica da Secretaria de Transporte que sua equipe e ela própria foram deixadas de fora do processo. Os deputados suspeitam que se tratou de uma manobra para ocultar irregularidades.

A portas fechadas, a advogada Raquel Portela falou aos distritais por quase duas horas. O depoimento revelou que as decisões tomadas no aspecto jurídico ficaram centralizadas no escritório de Sacha Reck, como consultor contratado para orientar a concorrência.

O relator do caso, deputado Raimundo Ribeiro (PSDB), classifica o procedimento como “incomum” em se tratando de órgãos públicos. “Como advogado, vejo como estranho e surpreendente que tudo tenha ficado concentrado em uma consultoria externa. A assessoria jurídica do órgão é paga com dinheiro público e foi simplesmente ignorada”, avaliou. O tucano evita falar em prática orquestrada, mas não descarta conluio para fraudar a licitação. “Foi uma atitude no mínimo temerária e injusta ignorar quem deveria ter participado”, completou.

A formação de um grupo restrito em torno da licitação chamou a atenção do presidente da CPI, deputado Bispo Renato Andrade (PR). Mesmo se tratando de um assunto técnico, ele vê elementos suspeitos em torno do processo. “A alegação de que havia empresa de consultoria para fazer esse serviço não bate, porque os documentos giravam ali dentro. Então, devem obrigatoriamente passar pela Secretaria de Transportes. A partir daí ser encaminhado então para a consultoria. Não sabemos as razões ainda, mas é muito estranho”, opinou.

Para o petista Ricardo Vale (PT), o depoimento da advogada não se revelou tão claro como na avaliação dos colegas. O distrital acredita que por mais que a assessoria jurídica tenha sido deixada de fora, falta a palavra do advogado Sacha Reck. “Não consigo entender essa demora. Ele já foi apontado como figura influente na licitação e estamos adiando esse momento há muito tempo”, reclamou.

Saiba mais

O esquema operava em fraudes com valores de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, do qual Paulo Bernardo foi titular entre março de 2005 e janeiro de 2011 (governo Lula). 

A PF não atribui a Gleisi e a Paulo Bernardo envolvimento na Pixuleco II. Gleisi é alvo de investigação da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República porque, segundo delatores, teria recebido R$ 1 milhão na campanha de 2010. 

O esquema teria sido montado em 2010 e  ocorreu até julho de 2015, segundo rastreamento de pagamentos de propinas, inclusive para a viúva do ex-secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento Duvanier Paiva Ferreira, morto em 2013.

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