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Política & Poder

Ministro da Saúde troca ação oficial por reunião de bancada

Arquivo Geral

23/02/2017 7h00

Atualizada 22/02/2017 23h54

Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

Pressionado para deixar o cargo, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, trocou as crianças da Escola Classe 15, em Ceilândia Sul, por seus colegas do Partido Progressista (PP), na manhã de ontem. O ministro avisou que compareceria ao lançamento da campanha “Volta às aulas sem mosquito”, com a presença de Rodrigo Rollemberg, mas estava reunido com quatro parlamentares de sua sigla durante o evento.

Como Barros mandou só um secretário para a solenidade, coube ao governador Rollemberg conduzir o lançamento da campanha “Volta às aulas sem mosquito” com alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal. Foto: Breno Esaki

Como Barros mandou só um secretário para a solenidade, coube ao governador Rollemberg conduzir o lançamento da campanha “Volta às aulas sem mosquito” com alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal. Foto: Breno Esaki

Substituto do ministro, o titular da Secretaria de Vigilância e Saúde (SVS), Adeilson Cavalcante, atribuiu a ausência a uma “agenda atribulada”. “Ontem estivemos em Salvador, lançamos o programa de Carnaval, sobre a Aids, para usar camisinha, fazer a testagem. O ministro está envolvido no dia a dia. Ele está lá no gabinete trabalhando”, assegurou.

Abuso político está na origem de processo em Comissão de Ética Pública que pode custar o cargo

Ele se recusou a comentar sobre as gravações em que o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma ter nomeado Ricardo Barros em troca do apoio do PP no Congresso. Esse assunto é alvo de julgamento na Comissão de Ética Pública do Palácio do Planalto e pode resultar até em um pedido de exoneração de Padilha. Neste processo, o ministro da Saúde é citado apenas como “beneficiário” da articulação.

Barros, porém, tem um processo para chamar de seu. Ele é suspeito de ter se valido de seu cargo público para fazer promessas e ajudar campanhas políticas no Paraná, seu reduto eleitoral. Conforme o Jornal de Brasília mostrou ao longo da semana, o ministro teria visitado pelo menos 30 cidades no interior paranaense, em setembro de 2016, e dito que ajudaria a construir unidades de saúde e até mudar a gestão de hospitais.

Saiba mais

  • Todo a licitação da aquisição do PO 700, no Setor de Rádio e TV Norte, para abrigar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é alvo de contestação, uma vez que há suspeitas de direcionamento do processo.
  • Além das irregularidades, o PO 700 fere as normas de tombamento do Plano Piloto, considerado patrimônio mundial da humanidade pela Unesco.
  • Um mês antes de o resultado da licitação sair, um anúncio nos classificados de um jornal teria antecipado a vitória de PaulOOctávio no processo. No recado, o senhor “R. Barros”, que seria o minsitro da Saúde, avisa que pretende se mudar para o empreendimento.

Um dos deputados com quem Barros se reuniu ontem pela manhã, Marcus Vicente (PP-ES), frequenta o gabinete do ministro e tem relações estreitas com ele. No mesmo mês em que o titular da Saúde teria prometidos obras e verbas no Paraná, Ricardo Barros teria feito o mesmo em ao menos três cidades do Espírito Santo, a convite do amigo.

O ministro teria reforçado as campanhas de Otávio Xavier (PP), em João Neiva; Naciene Vicente (PP), em Ibiraçu; e também de Erick Musso (PMDB), em Aracruz.

Questão paroquial pesa

De acordo com a assessoria do deputado Marcus Vicente, único nome citado na agenda oficial do ministro da Saúde, o propósito da audiência de ontem foi solicitar mais apoio para o sistema público de saúde no Espírito Santo. O flickr do Ministério, porém, revela que outros parlamentares, como o federal Toninho Pinheiro (PP-MG), compareceram.

Pinheiro foi um dos concorrentes de Ricardo Barros dentro do partido do próprio partido, à época da posse de Michel Temer, para assumir o posto de ministro. Com a vitória do colega de legenda, eles passaram a fazer aparições em conjunto.

Sua presença no encontro é um indicativo de que o propósito não foi apenas discutir “ações de saúde para o Espírito Santo”, como descreve a agenda oficial de ontem. Isso porque, no último dia 17, o próprio Toninho Pinheiro se reuniu com o ministro e conseguiu aporte de R$ 700 mil para o sistema de saúde de Ouro Preto (MG).

No olho do furacão

Além da possibilidade de ter sua exoneração recomendada pela Comissão de Ética Pública do Palácio do Planalto, Ricardo Barros protagoniza uma polêmica por bancar a mudança da sede da Anvisa para um edifício construído pelas organizações PaulOOCtávio. O prédio em questão não teria condições físicas de abrigar o órgão.

O Jornal de Brasília já mostrou que o primeiro subsolo da edificação, que pelo projeto aprovado junto ao Governo de Brasília só pode servir como garagem, foi vendido ao Ministério como “sala de arquivos e reuniões”, o que é ilegal.

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