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Política & Poder

“Faremos com eles o mesmo que fizeram conosco”, crava José Dirceu

Arquivo Geral

29/08/2018 11h21

Matheus Albanez/Jornal de Brasília

Eduardo Brito
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Ao lançar o primeiro volume de seu livro de memórias, no Sindicato dos Bancários do DF, o ex-ministro José Dirceu previu que, se vitorioso este ano, o PT pressionará o Congresso por reformas, especialmente tributária e bancária. “Faremos o mesmo que fizeram conosco, inclusive cercando o Congresso”, afirmou. Ele acredita em vitória do ex-presidente Lula e, na sua ausência, do ex-prefeito Fernand Haddad, hoje seu vice. Diz que a campanha está no início e, se Lula for mantido fora, haverá como transferir votos e Haddad estará no segundo turno, “que é outra eleição”.

Para Dirceu, o partido cumprirá a mensagem enviada pelo ex-presidente Lula no dia do registro de sua candidatura: uma reforma radical, que impeça cortes de verbas em áreas como saúde e educação, mas acabe com a sangria da rolagem da dívida, que absorve mais recursos que qualquer déficit da previdência. O ex-ministro diz que, com o sufoco orçamentário, o Brasil está em uma encruzilhada entre os que pretendem equilibrar as contas mediante cortes e os que pretendem uma forte reforma bancária e tributária capaz de conter a apropriação dos recursos nacionais por uma minoria.

Usando um dos termos preferidos do também candidato Ciro Gomes, José Dirceu atacou os “rentistas”, vinculados ao sistema financeiro, “que se apropriam dos recursos nacionais”. Afinal, disse, nenhum país do mundo paga hoje juros positivos pela sua dívida interna, o que significa entregar as verbas da nação.

Dirceu afirmou que o PT não pode “abrir mão” da candidatura de Lula e que o partido pretende insistir até o final para conseguir a autorização da candidatura do ex-presidente na Justiça Eleitoral. Nesse sentido – e com muita coragem para quem depende hoje de decisões judiciais até para permanecer em liberdade – Dirceu criticou o Judiciário. Acusou a própria Justiça Eleitoral de estar, na prática, restabelecendo o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, ao permitir que os candidatos cubram os próprios gastos de campanha integralmente. “O que a Justiça Eleitoral fez foi abrir espaço para quem tenha dinheiro pagar todos os gastos, o que antes era limitado a 10% dos custos, enquanto os pobres não podem se eleger por falta de recursos”.

O ex-ministro reconheceu que o PT errou ao se integrar ao sistema de caixa dois eleitoral, mas foi também primeiro a admitir esse erro. Com isso, assegurou, “está hoje fazendo campanha quase sem recursos, enquanto estão por aí comprando voto a R$ 100, do mesmo jeito de sempre. É só andar pelo interior para ver”. E, acrescentou, “quem conhece orçamento público percebe muito bem de onde está vindo o dinheiro”.

No entanto, garante José Dirceu, a população soube compreender isso, tanto assim que – alega – nunca foi tão baixa a rejeição ao PT. Isso asseguraria não apenas vitória na eleição majoritária como nas proporcionais, com os petistas fazendo a maior bancada na Câmara. A propósito, Dirceu admitiu que, internamente, não defendia a opção por Fernando Haddad como vice e eventual substituto de Lula, preferindo a escolha do ex-governador e também ex-ministro Jaques Wagner.

À vontade, Dirceu comentou inclusive o desempenho dos presidenciáveis. Qualificou Bolsonaro como alguém que, embora com sete mandatos no Congresso, é realmente “novo” no quadro político brasileiro. Tem uma mensagem que considera “muito ruim”, ao assumir “o discurso do ódio”, mas incorpora a vantagem de se fazer isso em um quadro eleitoral. “É sempre bom que se respeite o voto”, avaliou.

Na entrevista, Dirceu também defendeu a revisão da Lei da Ficha Limpa, afirmando que apenas o eleitor deveria ter o poder de decidir em quem votar, e classificou o impedimento judicial de Lula disputar as eleições como uma “infâmia” . “A eleição apenas começou, temos ainda um deserto para atravessar. Eu acredito que Lula vence a eleição no primeiro turno, ele tem grandes chances, e no segundo turno todas as pesquisas indicam que venceria”, disse. “Por isso o impedimento dele se torna uma ignomínia e uma infâmia. Num momento vamos ter que reavaliar essa questão da Ficha Limpa no Brasil. Cabe ao eleitor decidir se um cidadão deve ou não ser eleito, não pode caber à Justiça”, afirmou. Para ele, a Ficha Limpa incorre em ilegitimidade, inclusive por ser retroativa. Transformou-se assim em instrumento de veto para a Justiça, assim como já se usou, no passado, o domicílio eleitoral ou a cláusula de barreira.

Ele acredita que o Tribunal Superior Eleitoral resolverá a questão até 7 de setembro. Segundo Dirceu, 20 a 30 dias de campanha seria tempo suficiente para o PT conseguir “transferir” os votos de Lula para Haddad caso o ex-presidente tenha a candidatura negada pela Justiça. “Qual seria o melhor ‘timing’ “Qual seria o melhor ‘timing’, infelizmente não podemos escolher, é a Justiça que decide”, disse. “O que não podemos é abrir mão da candidatura de Lula”, afirmou Dirceu.

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