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Política & Poder

Uma islâmica concorre por legenda comunista

Arquivo Geral

22/09/2014 7h47

Islâmica que está registrada no Partido Comunista Brasileiro, ela se propõe a  mudar o Distrito Federal com base na fé e na melhoria do sistema educacional. É uma comunista que acredita em Deus; uma professora  descrente da atual educação pública.  Para isso, Sandra Leite (PCB)  quer ser eleita  deputada distrital. Formada em história, trabalhou 34 anos na Secretaria de Educação e, agora, caso consiga pelo menos 20 mil votos, pretende trabalhar em favor  da cultura dentro das escolas públicas do DF. “As pessoas precisam ouvir mais a boa música brasileira, ler mais livros”, diz.   Aparecendo na publicidade eleitoral com roupas que a vinculam à sua opção  religiosa, acredita que pode alcançar os votos necessários para se eleger, mesmo com uma campanha sem muitos recursos.  Na entrevista a seguir, Sandra expõe seus planos de atuação, caso seja eleita. 

O que a levou a se candidatar?

Vontade de mudar a face da política do país para, assim, mudar o país. O Brasil é um país muito desigual, provavelmente o mais desigual do mundo. Eu gostaria de ver outras pessoas tendo chance também, assim como eu tive, como você teve. 

Quando fala em desigualdade, qual a cena que enxerga?

Criança e velhos nas ruas largados iguais cachorros.  Aliás, largados, porque os cachorrinhos de hoje estão bem para caramba. Outro dia uma moça falou: “coitado do cachorro, morando na rua”. Fiquei pensando se ela sente a mesma pena de uma criança viciada em crack. 

Qual o diferencial das suas propostas em relação aos outros candidatos? Você tem um histórico na Secretaria de Educação do DF. Foi professora durante muitos anos. Pretende focar sua legislatura na área?

Proponho aquilo que o Estado pode fazer acontecer se ele realmente quiser,  como, por exemplo, a redistribuição dos impostos. Proponho uma política que valoriza a leitura, as bibliotecas comunitárias. A segurança voltada para a população, como a gente viu agora na Copa do Mundo. Se um dia eu tiver poder, vou instituir ainda que a professora só trabalhe 23 anos. Nos outros três, ela se dedica a formação dos novos colegas, dos mais jovens. A professora quando chega em casa, a mulher, vai cuidar dos filhos, da casa, vai ter um marido, que geralmente não é uma pessoa muito cooperativa. Acho que as professoras devem ter menos anos de trabalho.   Era para eu ter me aposentando há sete anos. Não consegui. Aliás, aproveito para avisar à Secretaria de Educação que, com isso,vou fazer meu mestrado e meu doutorado — e vocês vão pagar. 

Qual a realidade da educação no DF hoje?

Está deixando muito a desejar. O DF está querendo instituir a “política do passa todo mundo”. E isso é um retrocesso, porque há alguns anos era uma das poucas unidades da federação em que a qualidade do ensino era reconhecida. Agora, a obrigação é apenas aprovar o aluno em vez de ensinar. E eles, por outro lado, se sentem à vontade para não aprender. E, de fato, não aprendem.  Vejo muitos candidatos defendendo a escola integral. Para quê? Para o  menino ficar lá, que nem pedaço de pau, sem estrutura.  Isso é uma baboseira sem sentindo.  Quem estuda quatro horas em boas escolas, aprende muito mais do que quem fica o dia inteiro largado dentro dos colégios. Eu já vi menino que  escrevia “sequisso”. E eu demorei para entender que era “sexo”. 

Como você enxerga a política brasileira hoje?

Um caos, um lixo. A coisa mais nojento que conheço. Agora que estou conhecendo nos bastidores, tenho mais certeza disso. Eles são incompetentes, não sabem do que falam, não conhecem realidade em que vivem. O cara é engenheiro e vai ser secretário de educação. É professor  vai ser secretário de saúde. Não existe critério. Existe amizade, existe pagamento de dívida. 

Você é candidata do PCB e portanto se imagina que tem posição próxima ao comunismo. Entretanto, declara seguir a religião islâmica. Como  foi acontecer a filiação a uma chapa que teoricamente é contrária a qualquer tipo de religião e cuja doutrina, historicamente, é ateísta.

Acontece que eu me filiei ao PCB há 34 anos. E naquela época eu não tinha tanta fé, não frequentava religião alguma. Quando eu entrei na faculdade, e comecei a ver e conhecer o lado negro da igreja católica, fiquei ainda mais revoltada.  Só  depois, mais para frente, conheci o budismo e me apaixonei. Dali, fui conhecendo o islamismo. E conhecendo essas doutrinas,  fui vendo como são  sábias. Porque falam de não se apegar. E isso é comunismo para mim: tornar comum a todos as mesmas oportunidades. Jesus foi um grande comunista, Gandhi, Esther, que lutou por seu povo.  Usar hijab é uma questão de fé e ser comunista é uma questão de crença e utopia. 

Como candidata, imagina-se que você seja uma pessoa que busca, então, o bem comum. O que você faz hoje pelo futuro de Brasília? 

Acho que só se de ser professora há 34 anos, modéstia parte, já faço muito. Mas, tenho um trabalho bacana de contação de histórias em lugares carentes. Tenho até que ir mais. Mas, penso também em montar bibliotecas comunitárias em todas as regiões. 

Porque os eleitores devem votar em você?

Por três motivos. Por que, nessa vida, eu ainda não aprendi a cuidar de mim, mas sei muito bem cuidar dos outros. Por que sempre fui uma professora muito dedicada.  E por que é a primeira vez que eu me candidato e acho que a primeira vez é sempre melhor.  

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