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Política & Poder

Para Ronaldo Fonseca, partidos é que trazem ameaças à democracia

Arquivo Geral

01/04/2014 7h03

O deputado federal Ronaldo Fonseca (PROS) enxerga os partidos políticos brsileiros como elementos inviabilizadores da democracia. O que poderia acabar com essa situação, na visão de Fonseca, seria uma ampla reforma política, levada pela sociedade ao Congresso. A falta de lideranças também seria reflexo do sistema político atual. “Partido político hoje é propriedade privada e de família, com exceção aí de uns três. Não sei se a gente chega a cinco. Se algum filiado começa a crescer , dão um jeitinho de tirar, expulsar do partido ou fazer qualquer coisa. Hoje vivemos uma ditadura de partidos políticos e, lamentavelmente, nem o Tribunal Superior Eleitoral nem o Supremo Tribunal Federal enxergaram isso ainda”, criticou. Embora deva concorrer à reeleição, Fonseca teve seu nome indicado para o Senado por cinco partidos e espera uma negociação com o governador Agnelo, a quem apoiará.

 

O senhor vai ser candidato a senador?

Você sabe que em Brasília hoje está difícil dizer quem vai ser candidato ou não, porque o quadro está obscuro. Estou trabalhando para a reeleição a deputado federal. O que vier depois, para mim, é lucro. A pergunta que eu faço é: quem são os candidatos ao Senado? Nós só temos hipóteses. Candidatura posta nós não temos nenhuma. Ao governo nós temos duas candidaturas realmente fortes. Estou sendo provocado, mas também não me declarei. 

A que o senhor atribui essa insegurança?

O que está segurando as candidaturas é a majoritária, ao governo, porque o Senado está atrelado ao candidato a governador. Se você não tem ainda o quadro definido para o governo, como é possível ter definições sobre o Senado? Nós temos candidaturas ao governo que estão aguardando candidaturas declaradas ao Senado. 

O PT deve definir o senador?

Ouço que o PT está definindo um nome e a pergunta que eu faço é: em uma coalizão, um partido já decidiu que vai ser cabeça de chapa, o PT, já definiu quem é o vice, que não é do PT, e agora acham justo que o próprio PT diga quem vai ser o senador? Entendo que o PT deve perguntar aos integrantes da coalizão, quem  acham que pode ajudar o governador a ganhar. Digamos que nós vamos escolher dentro da coalizão. Os senadores que nós temos lá são Rollemberg e Cristovam, dois senadores da esquerda. Vamos escolher mais um? É bom para Brasília? Precisamos fazer essa pergunta. Se colocarmos um candidato de esquerda, não temos a tendência de perder o Senado? Porque o eleitor é inteligente e vai querer fazer o equilíbrio. 

Esse nome está apresentado ou só ventilado?

Nós temos tido encontros de cinco partidos evangélicos que definirão esse nome. Nesta semana vamos levar esse nome ao governador.

Seu partido, o Pros, vai continuar na base do governo?

A tendência é estar hoje e continuar na base, porque a gente vem trabalhando com o GDF. O Pros tem contribuído com a administração e está dentro do governo. Só que na política você precisa estar sempre com uma prudência mais exagerada e o Pros aguardará até o dia 30 de junho para declarar realmente com quem nós vamos estar. Como a política muda, então para que declarar agora? 

O DF sempre teve um deputado federal com votação predominantemente evangélica, que nas últimas eleições foi o senhor, mas agora teremos mais candidaturas fortes nesse segmento. Qual sua análise sobre esse quadro?

Será? Em 2014 pelo menos, que eu estou vendo, está melhor do que 2010. Não estou conseguindo ver candidaturas viáveis para deputado federal. Podemos ter alguns nomes, mas não estou conseguir enxergar força, ainda não. Pode ser que apareça. Nós temos muito voto evangélico em Brasília e acho que toda candidatura é bem-vinda. Temos um universo amplo de votos aqui dos quais tive talvez 20%.

Por que as candidaturas ainda não estão definidas, diferentemente de eleições anteriores, quando desde o final do ano anterior já havia definições?

Eu vejo que a verdadeira eleição de Brasília mesmo vai ser em 2018. A análise que eu faço é que nós vivíamos aqui girando em torno de um nome, que era Joaquim Roriz e o PT, que teve Cristovam Buarque, Magela. Aí depois veio o Arruda. Então quais são as lideranças políticas no campo majoritário? Roriz, Arruda e o PT, que agora é incorporado pelo governador Agnelo, que nem do PT era. Essas eram as lideranças que nós tínhamos e outros que flutuavam em torno disso. Nesta eleição de 2014 ficou todo mundo esperando. Roriz vem? Aí ficava aquele ensaio. Ninguém quer perder seu capital político. O Arruda vem? Agora o ex-governador Arruda coloca a candidatura e fica essa questão: se vai até o final, por causa das dúvidas no Judiciário. Quem flutua em torno disso não tem capital político para mostrar a cara e ser majoritário. Brasília carece de liderança política no campo majoritário e nós estamos fabricando essa liderança. Essa de 2014 é a última onde vamos ter essa influência do passado. Em 2018, isso não vai existir mais.

Falta renovação no campo político?

Sim, mas esse não é um fato só de Brasília, é do Brasil todo. Procure outras candidaturas em São Paulo, por exemplo, que está  há muito tempo na nossa frente na área política. Ou no Rio de Janeiro, com Sérgio Cabral ou Garotinho. Há uma exceção ou outra o Lindemberg. O problema é do Brasil, não é só nosso, não. 

Isso se deve à estrutura partidária?

Você tocou em um ponto legal. É verdade. Acho que a estrutura partidária do Brasil é que não favorece isso. Eu, por exemplo, sou a favor da candidatura avulsa. Na Colômbia existe um projeto interessante: para você ser candidato você precisa apresentar um número de assinaturas e é preciso depositar um valor econômico à Justiça Eleitoral. Se você ganha a eleição, essa verba volta. Se perde, perdeu a verba, para não ter candidaturas aventureiras. Agora, a estrutura partidária no Brasil está falida. Absolutamente falida. Os partidos políticos estão inviabilizados para conduzir a política brasileira e, por isso, nós estamos com dificuldade de liderança. Nós temos os donos de partido. Se nós pegarmos os 31 partidos registrados no TSE, você dá uma olhadinha e se assusta com o que vê ali: a maioria tem dono. E os donos de partido deixam nascer uma liderança política? Se sentem ameaçados. Partido político hoje é propriedade privada e de família, com exceção aí de uns três. Não sei se a gente chega a cinco. O cara começa a crescer e já dão um jeitinho de tirar, expulsar do partido ou fazer qualquer coisa. Hoje vivemos uma ditadura de partidos políticos e, lamentavelmente, nem o Tribunal Superior Eleitoral nem o Supremo Tribunal Federal enxergaram isso ainda. Criaram a fidelidade partidária, mas e a fidelidade do partido para com o candidato? Existe? É só daqui para lá? Hoje nós temos que ter uma reforma, uma redemocratização dos partidos políticos no Brasil.

O que acha da proposta de reforma política apresentada?

Eu fui membro titular, inclusive, da comissão de reforma política, na primeira que teve. Mas ninguém conseguiu criar uma proposta. Os caras ficam citando exemplos da Alemanha, da Bélgica, mas desce, vamos ficar aqui no Brasil. A Europa é totalmente diferente. Esse negócio de voto distrital, lista fechada é o seguinte: o Congresso Nacional é incompetente para produzir uma reforma política. Ele é competente para discutir uma reforma política que venha do povo, da massa, que venha de fora, como foi a Lei da Ficha Limpa. Vocês acham que nós ali do Congresso iríamos produzir essa lei? Jamais. Como é que nós vamos fazer uma reforma política séria se não se começa nos partidos políticos? Aí chega lista fechada, quem quer? Não são os deputados. Tem que perguntar para os donos de partido. Os três partidos grandes, PMDB, PT e o PSDB querem. Mas e os outros? “Não queremos”. Partido de aluguel, como é que vai acabar com esse negócio? 

Por que os partidos estão falidos?

Um partido político para ser de verdade tem que ser um espaço de fomento de ideias. Partido político é um espaço onde se acolhem as pessoas que representam aquela ideia, o ideal do partido. Um partido com programa, proposta programática, não existe no Brasil. Está provado inclusive que ninguém vota em partido, mas, sim, no candidato. Se não mudarmos essa cultura, nunca mais vamos ter partido para valer. 

Houve temas polêmicos nesta legislatura, como aborto e gênero sexual. Por ser da bancada evangélica, o senhor acredita que essas discussões o aproximam do eleitorado?

Sem dúvida. Esta é uma pauta que nos provoca, que provoca o religioso, o cristão. Isso eu denunciei na minha campanha. Se você pegar meu material de campanha, vai ver que eu denunciei o Programa Nacional de Direitos Humanos 3, que o Lula fez. Por exemplo, a proposta do novo Código Penal, você vai ver que é cópia do PNDH3. Estava tudo lá. Aborto, casamento gay. Fomentar a política para a igualdade de gênero, a política para a dignidade da mulher, criando a profissão de prostituição. Dignidade da mulher. Então, esses temas provocam qualquer pessoa que defende a família. Pode nem ser cristão, mas se for cristão, muito mais ainda. Isso, no campo político, só melhora o nosso espaço, porque amplia o debate.

O senhor acredita que tende a haver uma polarização entre o PT e os evangélicos na atuação parlamentar?

Mesmo que não queiram, não tem como. Eu sou um pouco cuidadoso com isto, porque não gosto de mirar em partidos políticos porque acho são todos iguais. Tem gente boa e tem gente que não presta, então não são todos santos. Mas também não são todos bandidos. Tem tanta gente boa dentro do PT, com boas intenções. Eu não gosto muito deste embate que no passado já foi muito forte. Diziam que o PT era do capeta, do demônio, que o Lula também. Noe entanto, por incrível que pareça o Lula sancionou  emenda corrigindo o Código Civil de 2002 que tinha tirado a liberdade religiosa. Com o Fernando Henrique Cardoso a gente sempre levava bola nas costas, estava sempre correndo atrás do prejuízo, é do PSDB e votou muita contrária à igreja, aos cristãos, evangélicos. Não podemos classificar que é o PT. Tem gente lá dentro e é um grupo maior, uma militância de esquerda, embora nascida nos berços da igreja católica. Você vê aquela polêmica que teve com o Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. Quem encabeçou aquilo contra ele foram membros do PT, aí não tinha como não haver um enfrentamento com o próprio partido.

A que o senhor atribui a repercussão do caso Marco Feliciano?

Quem fez foram os deputados da esquerda. Não precisava ter nada disso. Quem deu essa notoriedade, essa popularidade foi a falta de habilidade de alguns parlamentares que ficaram malucos com aquela  sua eleição. Porque a Comissão de Direitos Humanos, por tradição, sempre foi controlada por uma esquerda da esquerda. Eles cochilaram. Quando levaram aquele susto, a dose foi muito forte. Aí partiram para cima, desrespeitando o regimento, a Constituição.

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