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Política & Poder

Deputado federal tucano faz críticas à gestão Rollemberg

Arquivo Geral

10/02/2016 6h00

Millena Lopes

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O despreparo é a principal marca do governo de Rodrigo Rollemberg, nas palavras do deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), que participou da campanha do atual governador do DF. Ele diz que, na condição de presidente do diretório regional do PSDB, jamais fora convidado para discutir as políticas e projetos de governo e que o partido deseja contribuir com a atual gestão. O fato de o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB) ser da base e ter cargos no governo não significa que o partido se sinta contemplado, segundo ele, até mesmo em função do racha interno que vive a legenda no DF. Na entrevista a seguir, Izalci desconversa quando perguntado se  é o candidato do partido ao Palácio do Buriti em 2018, mas confirma que o PSDB tem um projeto alternativo de poder para o Distrito Federal.   

Como o senhor avalia o atual cenário político no Distrito Federal?

A situação do Distrito Federal é quase que caótica. O último governo realmente arrasou com a economia, o que  acaba comprometendo o governo atual. Houve um comprometimento muito grande com a folha de pagamento. Brasília sempre foi muito dependente do Governo Federal e se esqueceu da vocação econômica. Em 2015, perdemos mais de R$ 1 bilhão de receita, com a evasão de empresas para outros estados. Estamos vivendo uma crise na segurança pública, que é reflexo da situação econômica. A construção civil, que sempre foi um dos pilares da economia, foi um dos setores que mais desempregou. Isso sem considerar a saúde e educação. A situação é muito grave. Precisamos buscar uma solução em conjunto. 

O governo Rodrigo Rollemberg, desde o início da gestão, cita que os problemas foram herdados da administração anterior, do governador Agnelo Queiroz.  O senhor concorda?

Todos nós conhecíamos a realidade do governo anterior. Em 2011, eu fiz vários pronunciamentos sobre a preocupação da gestão de Agnelo (Queiroz, ex-governador do DF). Não só pela falta de competência, mas também pela corrupção. Eu sabia das falcatruas que fizeram na época do Ministério do Esporte. Foi uma gestão irresponsável. O governador Rodrigo Rollemberg era o líder da bancada (do DF no Congresso Nacional) e foi um dos responsáveis pela  eleição do Agnelo. Então, se ele tinha pretensão de ser governador, já sabia dessa situação e teria que ter um projeto. Não dá, agora, para ficar reclamando da gestão anterior. É um novo governo. Ele foi eleito para resolver os problemas. É muito ruim  que ele não tenha se preparado para enfrentar as dificuldades.

O PSDB participa do governo Rollemberg?

Hoje, não. O PSDB ajudou a eleger o governador Rollemberg no segundo turno, mas eu, que estou na presidência do partido no DF no ano passado, nunca fui chamado para discutir políticas e projetos do governo.  Tem um deputado distrital do PSDB na base do governo, mas o PSDB não participa do governo.

Como ficam os rachas internos no PSDB-DF, na sua gestão?

O PSDB nunca, em Brasília, foi um partido como é em nível nacional: o maior partido de oposição, estruturado, com vários governadores, com uma bancada de 54 deputados federais, senadores… Nós estamos reestruturando o partido, criando núcleos de base, como sempre defendeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,  em todas as cidades, condomínios e áreas rurais do DF. Queremos construir um projeto para a nossa cidade, com a participação de quem mora aqui, que sabe dos problemas. O PSDB vai apresentar para a sociedade um projeto alternativo e diferente para o DF.

O partido, então, já se organiza para as eleições de 2018?

Temos grandes chance de conquistar a Presidência da República. Se não houver uma grande mudança, a tendência é de o PSDB assumir os rumos do País em 2018. Agora, no Distrito Federal, temos que estar preparados para apresentar para a sociedade uma proposta. Não estamos trabalhando um nome, mas o PSDB terá, com certeza, em 2018, um programa de governo, mas construído por toda a sociedade. 

Como é o relacionamento do governador Rodrigo Rollemberg com a bancada do DF no Congresso Nacional?

Por incrível que pareça, ainda não tivemos uma reunião da bancada com a presença do governador. E, olha, que ele criticava muito com o Agnelo, que, em quatro anos de governo, nunca se reuniu com a bancada. A coisa está caminhando da mesma forma. Talvez em função dessas dificuldades, ele não encontre tempo para conversar. Mas eu vejo que a bancada poderia ajudar até mais do que já ajudou. Quando a gente não sabe o que o governador pensa e não sabe quais as prioridades do DF no Congresso, você acaba não contribuindo tanto. Está faltando mais diálogo e eu espero que, neste ano, possamos estar mais próximos.

O senhor não se reuniu com o governador nenhuma vez ao longo do ano passado?

Sim. Em duas oportunidades.  Mas para ser comunicado do que já foi feito. Ele nunca me pediu nenhuma opinião. E eu disse claramente a ele, depois das eleições, que eu gostaria de ser governo. Não dá para pegar o partido como o PSDB e apenas comunicar o que já foi feito. Não funciona assim. Estamos conversando, mas não existe nada de concreto com relação à participação no governo. O PSDB é um partido que tem muitos bons quadros, além da experiência. Somos um partido que sabe fazer. Podemos contribuir muito e estamos dispostos a isso, não pelo próprio governador, mas pela cidade. Mas precisa haver um entendimento que devemos participar das decisões.

Então o PSDB não reconhece que o deputado Raimundo Ribeiro, que tem espaço no governo, não representa o partido?

Não. Esta é participação do deputado distrital. O governo sabe disso e isso é problema do governo. Eu não entro nessa discussão. Nas votações (na Câmara Legislativa), em 2015, o deputado Raimundo Ribeiro  ficou em quarto lugar em número de ausências. É  estranho. Ele (Raimundo Ribeiro) age de forma independente. O PSDB hoje não é governo. Estamos conversando para ver se ainda podemos ajudar ou não. Mas tem que mudar muita coisa para a gente poder participar deste governo.

O governo Rollemberg recebe muitas  críticas por não ter uma equipe. Como o PSDB encara essa situação?

O governador ganhou a eleição, mas ele não estava preparado para o governo. Acho que faltou fazer uma transição. O partido do governador é pequeno, não tem representação. E foi o primeiro governador que, no primeiro dia de mandato, não exonerou todos os cargos comissionados. Ele manteve os efetivos comissionados do governo anterior, que não deu certo. Tanto que não foi nem para o segundo turno. E manteve os cargos porque não tinha quadros. Trouxe muita gente de fora, trouxe programas de outros estados incompatíveis com nossa realidade, exatamente por falta de equipe. Não vai dar certo também ter grande parte dos petistas no governo, que já demonstraram que não têm compromisso e nem condições de continuar no governo – nem local, nem federal. O PSDB tem grandes quadros, mas não quer participar do governo por cargos. O que queremos discutir são políticas de governo e de Estado.  O governo está patinando, aprendendo agora. E não dá para governa no improviso. O Governo Federal e o Governo de Brasília estão governando, ainda, no improviso. 

Podemos dizer que há um planejamento do PSDB para ter “Izalci no Buriti”?

Eu não diria que seria Izalci no Buriti. O PSDB tem tradição de gestão e vai apresentar um projeto alternativo de poder, tanto em nível nacional quanto local. Chegamos a uma situação, em nível nacional, que vamos levar 20 anos para recuperar o que construímos nos oito anos que governamos o Brasil. 

Por tudo o que considerou até agora, o senhor concorda que há uma crise de gestão no DF?

Sem dúvida. Como disse, as coisas são feitas no improviso. O governo, no primeiro dia, deve já dizer o que vai fazer, como e quando. Faltam políticas públicas em todas as áreas neste governo.

O senhor observa que os  moradores do Distrito Federal vive uma desesperança?

E o reflexo vem na política. As pessoas de bem vão se afastando, não querem participar. Não está fácil encarar o eleitor, como político, porque ainda tem essa questão de generalizar. Agora, o que o eleitor tem que fazer é começar a acompanhar os políticos em quem votou. É preciso entender que não dá para se votar em pessoas, é preciso votar em propostas concretas. 

Até porque a gente vive uma crise de gestores públicos que, além de boas intenções, realmente entendam o funcionamento da máquina pública, concorda?

É também preciso considerar que a legislação brasileira hoje inibe as pessoas a fazerem qualquer coisa, pois podem responder por isso. Eu tenho grande respeito pelo Ministério Público – sou um dos deputados que mais prestigiam o Ministério Público, por exemplo -, mas hoje a meninada de 20 anos que tem condições passa em concurso e não tem aquela vivência  da realidade e decide muito em cima do papel.   Temos muitos jovens no Ministério Público e na Justiça, que às vezes impedem… Hoje, no Brasil, considera-se todo mundo desonesto, até que se prove o contrário. 

Esta, inclusive, é uma das principais reclamações do setor produtivo:  a burocracia que emperra os negócios no DF.

Por isso as empresas estão migrando para outros estados. Vão ficar aqui para quê?

Como o senhor avalia a intenção do governo de estabelecer parcerias público-privadas (PPP), principalmente nas áreas de saúde e educação?

Você tem carreiras de Estado que não podem ser terceirizadas nunca e é preciso respeitar isso. Agora, algumas atividades podem ser terceirizadas.  O Estado de Goiás está fazendo parcerias público-privadas para gerir os hospitais e a educação. Só que, lá, os secretários e o governador já vêm estudando e trabalhando isso há muito tempo, estão sabendo o que estão fazendo. Não dá para olhar o que está sendo feito em Goiás e querer implementar aqui. É preciso fazer a coisa com muita competência. O que o governador está tentando fazer ainda é uma alternativa, mas tem que saber fazer. É preciso respeitar as carreiras de Estado e ter muto controle das organizações sociais, acompanhar… as coisas precisam ser muito controladas, se não, não dá certo.

O senhor disse que não tirou férias no recesso legislativo para preparar o voto em separado que será apresentado na Comissão Mista de Orçamento, sobre as contas da presidente Dilma Rousseff, que foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União. 

Eu participo da Comissão Mista de Orçamento e tenho consciência de que o papel do deputado não é só apresentar leis, mas fiscalizar. E eu tenho feito muito isso. E fui surpreendido no último dia de sessão, com o voto de um senador de Rondônia, que aprovava as contas da presidente Dilma com ressalva, por mais que o Tribunal tenha feito toda aquela fundamentação, provando que houve crime de irresponsabilidade fiscal, pedaladas e uma série de irregularidades. Então, eu, que participei da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, quando li o relatório, achei uma aberração. Desqualificou completamente o trabalho  do Tribunal de Contas, como se não respeitar a lei fosse uma coisa comum. E olha que eu ainda critiquei o Tribunal, porque não mencionaram a Petrobras. A rejeição das contas não toca nesse assunto. Então, apresentei um voto em separado, pela rejeição das contas, mencionando também a Petrobras e outros problemas que o governo tem. Mas, para consertar esse País, não tem jeito. A presidente Dilma tem que ser afastada, porque esse governo não tem mais credibilidade. Ninguém vai investir nesse País com esse governo. Não tem mais jeito.

Mas o senhor não acha que o processo de impeachment perdeu o fôlego no Congresso Nacional?

Não é só isso, é que o Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como presidente da Câmara dos Deputados, acaba prejudicando um pouco o processo. Também não sei se, caso o PMDB assumir, vai resolver. Porque, na prática, o PMDB participou do governo esse tempo todo. Minha esperança é o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que notificou recentemente o vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma será notificada, para já fazer as defesas com relação às contas de 2014. Eu acho que tem elementos suficientes, inclusive, para rejeitá-las e ter novas eleições. Acontecendo isso, assume o presidente da Câmara dos Deputados e eu espero que já seja outro. Mas, independentemente disso, o presidente da Câmara assume e nova eleição é convocada em 90 dias.

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