Em sua festa de 70 anos, que se estendeu até a madrugada de ontem em São Paulo, a senadora paulista Marta Suplicy, ex-prefeita da capital, confirmou que vai deixar o PT e se filiar ao PSB.
Indagada sobre a data oficial da mudança, ela respondeu: “Vai ser no momento que eles (do PSB) acharem que tem de ser”. Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, já está tudo certo na legenda para receber Marta e a filiação deve ocorrer o mais rápido possível. “Pra gente, quando antes, melhor.”
Cúpula toda lá
A cúpula de seu futuro partido se destacou na lista de convidados da festa. Em contrapartida, o senador Delcídio Amaral (MS) foi o único filiado ao PT a aparecer no evento, no salão de festas do prédio onde vive o namorado de Marta, Márcio Toledo, nos Jardins, zona sul da capital paulista. Além de Siqueira, o vice-governador de São Paulo, Márcio França, o senador Fernando Bezerra (PE) e o presidente do diretório paulistano, vereador Eliseu Gabriel, foram convidados.
Do PMDB estavam lá o vice-presidente Michel Temer, com a mulher Marcela, o ex-senador José Sarney e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Também foram o ex-ministro Nelson Jobim, hoje advogado de empreiteiras envolvidas na Lava Jato, o ministro do STF Gilmar Mendes, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e a senadora do PP gaúcho Ana Amélia.
Quem estava bem à vontade era o cabeleireiro Celso Kamura, que atende tanto Marta quanto a presidente Dilma Rousseff. Aliás, foi apresentado a Dilma por Marta. Da oposição compareceram Roberto Freire e Soninha Francine, do PPS, e o deputado Rodrigo Garcia, do DEM, secretário de Habitação.
Aguardado, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não apareceu, mas o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Arnaldo Jardim, marcou presença. O PSDB foi representado pelo ex-presidente do partido em São Paulo José Henrique Reis Lobo. O prefeito da capital, Fernando Haddad, do PT, não foi convidado para a festa.
Também foram à festa os empresários Lawrence Pih, do moinho Santo Antônio, Ivo Rosset, presidente do Grupo Rosset, e Joesley Batista, dono da Friboi.
De Samuel Cirnansck e Louboutin
Marta circulou a noite toda entre as mesas tomadas por cerca de 300 pessoas no salão de festas em um prédio nos Jardins. Elegante em um vestido branco com corpete bordado em pedrarias e saia evasé do estilista Samuel Cirnansck e sem descer do salto agulha Louboutin altíssimo, Marta explicava a ausência de petistas entre os convidados. Único petista presente, o senador Delcídio Amaral demonstrava constrangimento e procurava fazer graça com a situação: “O pessoal deve estar chegando”. Marta disse que convidou a bancada, mas senadores diziam nos dias anteriores não terem sido chamados.
Dilma tem 20 dias de prazo para mudança
A presidente Dilma Rousseff tem 20 dias para romper o isolamento político, reestruturar seu governo e apontar caminhos para sair da crise econômica. Caso contrário, será difícil manter a governabilidade e evitar a escalada da insatisfação popular. O diagnóstico e o ultimato foram repetidos, com pouca variação, durante a concorrida festa de Marta Suplicy. O evento teve um clima de “cerimônia do adeus” da senadora depois de 35 anos no PT.
Nas rodas, os convidados discutiam cenários para o governo. “Ela tem de 15 a 20 dias para sair da encruzilhada e apontar o caminho que seu governo vai seguir nos próximos três anos e nove meses. Caso contrário, será difícil assegurar a governabilidade”, dizia um dos envolvidos na articulação política atual.
O prazo coincide com a data da segunda onda de protestos, marcada para 12 de abril. Dilma terá de apresentar medidas mais concretas antes disso e pedir um “voto de confiança” à população, avaliava um. “Isso terá de ser feito sem tergiversar em assumir os erros”, ponderava.
Lula sequer foi convidado
1. A ausência mais comentada foi a do ex-presidente Lula. “Não o convidei. Na última conversa que tivemos, disse a ele que iria buscar meu caminho. Lula é o maior estadista que este país tem, mas agora não faria sentido estar aqui”, disse Marta Suplicy.
2. Marta repassou todas as etapas de seu afastamento em relação ao partido e a Dilma. Disse que, no início de 2014, viu com “clareza” que a presidente não teria condições de conduzir a economia e a política num novo mandato, o que a levou a tentar construir -inicialmente com aval discreto do próprio Lula- um movimento pela troca de Dilma pelo antecessor.
3. Diante do malogro e agora com a crise, ela diz: “O PT acabou. Aquele partido que eu ajudei a fundar fazendo reuniões na minha casa, indo de porta em porta, em assembleias, ele não existe mais”.
4. Críticas a Dilma rivalizavam com queixas dirigidas ao prefeito Fernando Haddad. Marta fazia suas próprias: “O governo dele é de uma incompetência total. Ele tenta copiar marcas modernas da minha gestão, mas a periferia está totalmente abandonada”.