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Política & Poder

Confira a entrevista exclusiva com a deputada distrital Celina Leão

Arquivo Geral

16/12/2014 7h29

Avaliação da deputada distrital Celina Leão: a paciência será indispensável para o governo Rollemberg. A crise financeira seria a responsável por criar dificuldades para o início da próxima gestão. “Nosso problema não é pontual, mas sim um problema com soluções duríssimas. Ou cortam-se salários ou servidores. É muito difícil tomar essas decisões”, disse, em entrevista ao Jornal de Brasília. Mesmo assim, a deputada acredita que não se pode dar a tolerância como certa. Uma das principais articuladoras do governo de transição na Câmara Legislativa, Celina resumiu: “Se a população terá paciência, depende de como o governo vai encarar as áreas prioritárias”. Ela  não confirma sua candidatura à presidência da Câmara, apesar de admitir  a possibilidade de tentar a cadeira. A parlamentar acredita também que as relações entre Executivo e Judiciário agora serão diferentes.

A senhora acha que o governador Rodrigo Rollemberg poderá governar na plenitude logo nos primeiros meses de mandato?

Não. Acho que o governador precisa pedir uma carência de um ano à população, para pôr a casa em ordem. A percepção que nós temos é de que não é um problema pontual, mas sim genérico, que mexe com todas as finanças, em especial com a folha de pagamento. É uma folha que cresceu, estourou e que não tem como resolver a curto prazo. É preciso resolver melhorando arrecadação, fazendo recadastramento de todos os servidores, vendo quem está na folha e quem não está. A folha está tendo um crescimento estranho de um mês para o outro, coisa de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões. É um problema grave que não se resolve a curto prazo. Então é bem grave.

Ficarão por aí bombas relógio, gastos como a folha de pagamento ou o Fundo da Dívida Ativa?

Com certeza. Acho que são erros cometidos após outros erros já cometidos. O antídoto para os problemas está sendo usado da forma errada. Se você quer entregar uma gestão menos pior, é dialogando com o futuro governador, procurando mecanismos de dar essa agilidade. Uma coisa que eu reclamo é da falta de transparência dos secretários de Fazenda e Planejamento, porque nós atrasamos, sim, a folha. Tivemos uma audiência na Câmara e eu fiz essa pergunta “nós vamos atrasar a folha?” e eles disseram que não. O servidor que deu cheque pré-datado, que fez uma compromisso com aquele dinheiro ficará muito mal. Até isso é uma falta de respeito, se você vai atrasar a folha, é preciso dialogar com o servidor. É falta de transparência também. Acho também que a tentativa de mascarar o problema só piora. Porque é real. Tudo está parando, existe uma crise generalizada no governo. Uma cidade que recebe ajuda do Fundo Constitucional, como nós recebemos, não conseguir administrar o próprio dia a dia do seu governo, que é a saúde e a educação. Só não tivemos nenhum problema com a segurança porque ela é paga com verbas federais. Mas mesmo assim, tivemos problemas em algumas áreas da Polícia Militar, como o serviço voluntário. Então a falta de gestão compromete muito o próximo.

Caso Agnelo tivesse sido eleito, existiria esse caos?

Com certeza, da mesma forma. Mas a solução seria dada por ele mesmo, para ele administrar no ano que vem. Só que eu acho que talvez ele seria mais sincero se fosse no governo dele para ele mesmo. A transição está um pouco complicada. Falta uma informação verdadeira, transparente, que a gente possa confiar.

Não haveria jeito de mascarar as contas?

Não tem jeito. Estamos falando de finanças. Não tem dinheiro em caixa. Como vai mascarar a falta de recursos? É uma bomba-relógio prestes a explodir. Com ele governador, ele só iria continuar a gestão e talvez não teria coragem de fazer o choque de gestão que estamos querendo fazer. Rodrigo vai ter muita dificuldade, porque qualquer tipo de tomada de decisão é de cortar na própria carne. 

A senhora já é uma das vozes do governo na Câmara Legislativa. Como vai ser esse trabalho?

Eu acho que vai ser sempre da forma que nós colocamos nosso mandato, sempre para contribuir com a cidade.  Fazer o que é certo, que muitas vezes desagrada as pessoas. A população tem consciência de como estamos pegando o governo. Tenho certeza que a vontade de fazer, o combate à corrupção e a forma como o Rodrigo tem colocado seus pilares do trabalho vão ajudar muito para que nós façamos um governo bem melhor do que o que está aí, é um governo que vai marcar pela gestão, pela transparência. E eu quero fazer parte desse processo. Ajudei a construir esse projeto e quero ajudar para que nossa cidade saia da crise que enfrenta.

Rollemberg vai ter condições de formar uma base sólida o suficiente para aprovar os projetos do governo?

Acredito que sim, dialogando com os deputados. Existe maturidade para isso e pelo fato dele já ter sido parlamentar, acho que isso será possível.

O governo Agnelo teve uma base muito ampla, de 21 deputados, e isso não funcionou bem. O governador eleito aprendeu com essa experiência?

O Rodrigo tem falado em ter uma base mais enxuta, de tentar construir com menos parlamentares e construir com todos tudo aquilo que for bom para Brasília. Não é ideia dele fazer a política do toma lá dá cá. Mas está correto, porque ganhou a eleição com essa proposta, esse projeto político. Acho que conseguirá construir com os deputados, mudando a forma de negociar, trazendo um amadurecimento para o parlamentar. Será positivo para a cidade.

O governo de transição está tendo dificuldades na Câmara Legislativa. Por que isso está acontecendo?

Isso é matemática. Dos deputados que estão lá e ficaram com Rodrigo no segundo turno, são apenas cinco deputados. Então é claro que ele não tem maioria. Mas tem dialogado com todos os deputados. Pontualmente, ele tem tido derrotas e vitórias, o que é absolutamente normal. Agnelo ainda tem a caneta na mão até o fim do ano. Então ainda tem condição de manter a base que criou. Mas Rodrigo tem tido vitórias também. Algumas coisas não saíram como a gente queria, mas são coisas que a gente já vê e faz contas antecipadas, dependendo do tema. Mas ele já está construindo com aqueles que ficam e os que vêm uma futura base.

Pode facilitar o diálogo conseguir eleger o presidente da Câmara. A senhora é candidata?

Acho que está cedo em falar em candidatura. Fiz um compromisso de não tratar esse tema enquanto não resolvermos as votações na Câmara. Os interesses são diversos e as pessoas confundem as estações entre disputas políticas que são absolutamente normais. A gente está tratando com muita tranquilidade. Não quero ser a candidata do Rodrigo, mas sim dos deputados. Isso que traz legitimidade. Estou aguardando também. Temos outros convites e estamos analisando outros convites e vendo o que melhor para o nosso governo.

Já se falou em um blocão que criará dificuldades ao próximo governo. Existem essas articulações, os lados estão claros?

Não. Não acredito que isso vá acontecer para criar dificuldades ao governador. Você imagina como a população vai encarar isso. Estamos começando um governo em um caos total. E o deputado que foi eleito para resolver os problemas já começar o mandato já dificultando a vida do governador, que já enfrentará dificuldades. Acredito que eles podem montar blocos, com toda a legitimidade que os deputados têm. Mas não para tentar dificultar a vida do governador. Se isso acontecer, émuito ruim para os parlamentares que tentarem uma manobra dessas. A população está torcendo para dar certo. Já estamos com tanto problema. Isso não cria um problema. Qualquer que for a presidência da Câmara, com tantos problemas que vamos pegar, ela vai ajudar o governo. Porque a população não vai perdoar a Câmara se ela não fizer isso. Diferentemente de outros momentos, quando o GDF tinha dinheiro para abrir secretarias, conseguir barganhar. O momento é outro, de sacrifício, onde a própria oposição, no caso o PT, tem contribuído com o governo Rollemberg, para ajudar a fechar os problemas que estão aí. É um momento em que vai ser feita uma unidade por Brasília. Acredito que qualquer que for o presidente, ligado ou não ao Rodrigo, ele vai ajudar.

No seu primeiro mandato, a senhora foi uma das poucas vozes de oposição e agora vai fazer parte da base. Qual vai ser a diferença no trabalho?

O nível de responsabilidade é o mesmo. Acho que meu eleitor espera sempre o meu trabalho como uma fiscalizadora, uma pessoa que chama a responsabilidade para si, como sempre fiz. Eu nos últimos dias fiz várias representações para garantir que a gente não pegue os cofres públicos mais arrombados do que já estão. Uma delas é sobre o Fundo Especial da Dívida Ativa e a outra sobre o Centro Administrativa. Eu ainda não senti diferença. Eu continuo fazendo um trabalho muito ligado à fiscalização e quero continuar fazendo. Só muda a forma de atuar, porque você pode fazer um pouco mais quando você é da base, é possível ser mais ouvida. Quando se reclama de algo, dizem que é só porque é da oposição. Mas agora eu tenho a liberdade de dizer o que está errado. Agora me vêem como alguém que quer ajudar o projeto. Brinquei até com a deputada Arlete Sampaio (PT) de que se o Agnelo tivesse me ouvido em pelo menos 50% das minhas colocações, o governo não estaria desse jeito ou talvez ele não teria perdido a eleição. Vários problemas que tivemos foram pontuados por nós, da oposição, e sempre falava. Fui relatora de todos os projetos de reestruturação de carreira de servidores públicos e fiz um discurso sobre isso. Achava que tínhamos que nos preocupar se havia condições financeiras para dar aqueles aumentos. Naquele momento fomos avisados pelo próprio governo que havia recursos para isso. É uma responsabilidade nossa. Estar na base hoje faz a responsabilidade aumentar.

Com uma base mais enxuta, vai ser possível uma independência maior da Câmara em relação ao governo?

Acho que sim. Mas isso é bom até para o governo. Uma dependência da Câmara ao Buriti não mostra que o governo vai ser bom. É um grande equívoco achar isso. Até porque ela não refletiria a vontade de população se falasse amém para tudo. É uma coisa engraçada. O PT pôde contar com a oposição para votar projetos importantes, de créditos, de recursos internacionais. As coisas que foram positivas nós sempre votamos.

Qual é o melhor jeito de pedir a paciência da população nesse primeiro ano de governo?

Eu brinquei sobre a carência de um ano, porque acho que é o tempo necessário para colocar tudo em ordem. Nosso problema não é pontual, mas sim um problema com soluções duríssimas. Ou cortam-se salários ou servidores. É muito difícil tomar essas decisões. Continuar com a folha alta do jeito que se encontra é uma decisão do governo. Não sei qual será a posição do Rodrigo, mas ele deve enxugar a máquina pública, para diminuir contratos, rever valor de preços, atacar e combater corrupção. Um ano é um tempo hábil para arrecadação e fomentar o empresariado, criar programas com o terceiro setor. É um ano de usar criatividade, trazer a população para dentro do governo. Rodrigo usa muito bem a participação popular.

A população vai ter paciência?

É uma boa pergunta (risos). Eu acho que a população não tem tanta paciência para aguardar. Recebo muitas mensagens nas redes sociais com as pessoas falando “tomara que chegue janeiro logo”, já em uma expectativa de que as coisas se resolvam logo no primeiro mês. A gente sabe, por conhecer a máquina e o problema, que em janeiro não haverá problemas resolvidos, mas eles podem ser minimizados. Se a população vai ter paciência, depende de como o governo vai encarar as áreas prioritárias. Como é o caso do problema da saúde, que acarreta mortes e não tem como ser negligente. É preciso tomar providências mesmo, enfrentar a burocracia, priorizar a saúde e trazer a gestão em curto prazo para atender a população. Aí o resto das coisas a população tem um pouco mais de paciência. Mas nem pode ter paciência em relação à saúde. Então é preciso dar uma resposta de imediato. O que temos que fazer é cuidar das áreas que são mais afetadas pela falta de gestão e que causam problemas irreversíveis. Recentemente, três pessoas morreram em um dia por negligência nos hospitais. É preciso haver um plano pronto, no dia primeiro. O mato alto a população reclama e às vezes até fazem mutirão. É o tipo de coisa que a população tem mais tolerância. Mas acho que vamos ter muito problema na educação, porque em janeiro temos a folha do servidores e pagamento de férias. A folha vem com mais um terço porque todos tiram férias ao mesmo tempo. Temos que antecipar esse problema, da falta de dinheiro. 

 

 

 

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