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Política & Poder

Dona Dirce, viva em Goiás, consta como morta em relatório

Arquivo Geral

10/12/2014 21h10

Com espanto e uma gargalhada, Dirce Machado da Silva, ex-filiada ao extinto Partido Comunista Brasileiro (PCB), recebe a notícia de que, apesar de ouvida pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), aparece citada em passagem do relatório entre os “mortos e desaparecidos” da época da ditadura militar.

O nome dela surge inadvertidamente no relatório da comissão no capítulo dedicado à Revolta de Trombas e Formoso, um movimento camponês ocorrido no norte de Goiás na década de 1950 e que teve seus participantes perseguidos durante a ditadura. “Este fantasma está com 80 anos”, brinca dona Dirce ao receber a reportagem em sua casa, em Goiânia. Dirce diz que soube da pesquisa da CNV por meio da Comissão da Anistia e que teve dois contatos com a Comissão da Verdade. Gravou depoimento em vídeo. “Eu relatei tudo sobre Trombas”, diz. “E mesmo assim deu nisso”, terminando a frase com uma risada.

Sem filiação partidária, dona Dirce deixa claro que sua militância atual é a ajuda prestada aos colegas da região onde já morou. “Eu sou ainda o apoio daquela turma. Minha casa é feita para abrigar doente, para tudo. Às vezes tem duas, três famílias que vêm de lá para tratamento de saúde. De Trombas, de Formoso, Porangatu, Iporá”.

Dona Dirce, como é chamada, dá ainda informações sobre os outros incluídos pela Comissão da Verdade entre os mortos e desaparecidos “sem dados” do episódio de Trombas e Formoso. Ela conta, por exemplo, que Bartolomeu Gomes da Silva morou na região do Bico do Papagaio, no Tocantins e, apesar de ter ficado “perturbado” por causa da tortura, segundo afirma Dirce, enfrentou um câncer antes de morrer. Ela não sabe dizer as causas das mortes de Geraldo Tibúrcio e de Geraldo Marques da Silva, mas, no último contato que tiveram, moravam em Anápolis e em Goiânia, respectivamente. Nenhum morreu na prisão.

Aos 20 anos, dona Dirce foi com colegas do PCB aos povoados de Trombas e Formoso para ajudar na organização dos camponeses estabelecidos em terras devolutas e que enfrentavam fazendeiros.

Em 1962, quando o líder camponês José Porfírio de Sousa se elegeu deputado estadual, o governo concedeu o título de posse das terras, conquista revogada em 1964, após o golpe militar. A ditadura passou a perseguir os moradores dos povoados. Dirce foi presa com o irmão, César, seu então marido, José Ribeiro da Silva, e outros colegas. Todos foram brutalmente torturados.

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