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Brasília

Crime bárbaro no Guará por vingança

Arquivo Geral

21/08/2013 7h00

Vingança seria o motivo pelo qual um homem e dois adolescentes incendiaram o morador de rua Edvan Lima da Silva, 49 anos, no último dia 1º, em uma praça da QI 18 do Guará I. Segundo a polícia, a adolescente de 17 anos,  apreendida no dia 8, teria assumido a culpa. Ela teria   articulado o crime porque havia sido assaltada por um morador de rua   na mesma praça, dias antes. No entanto, a jovem não soube responder se Edvan era o   ladrão.

 

A polícia chegou até o trio depois de ouvir o depoimento de outros moradores de rua que também dormiam na praça, e após analisar as imagens do circuito de segurança de um posto de combustível na QI 7. O vídeo flagra o momento em que eles chegam ao posto e compram a gasolina despejada em um saco plástico. As imagens mostram ainda o momento em que um jovem, supostamente Wesley Lima da Silva, 18 anos, paga pelo combustível e os três saem  em direção à praça.

 

De acordo com o delegado-chefe da 4ª DP (Guará), Jefferson Lisboa, as imagens das câmeras do posto ajudaram a polícia a chegar ao trio. “No dia 7 chegamos até o adolescente e no dia seguinte encontramos a menor, que seria namorada dele. O Wesley foi capturado nesta terça-feira, depois que os adolescentes deporam na DCA”, explica.

 

A polícia tomou conhecimento dos menores dias antes da prisão, mas só pode ir até eles depois de um mandado da Justiça. Segundo a delegada-chefe adjunta da Delegacia da Criança e do adolescente (DCA I), Viviane Bonato, a polícia teve que esperar a ordem judicial porque não houve flagrante.

 

Indiciamento 


O único adulto, Wesley responderá pelo crime de homicídio qualificado e mais duas tentativas de homicídio. Ele pode pegar a pena máxima, que é de 30 anos de prisão. Ele pode responder ainda por aliciamento de menores.

 

Os adolescentes responderão pelo ato infracional equiparado ao crime de homicídio. Eles podem pegar até três anos de internação. Os dois já estão em unidades de internação. A jovem está no antigo Ciago, no Recanto das Emas, e o menor de 15 anos foi encaminhado para o antigo Caje, na Asa Norte.

 

Sem arrependimentos 

 

No depoimento na Delegacia da Criança e do Adolescente I (DCA), os adolescentes teriam confessado o crime com naturalidade e debochado da situação. A delegada Viviane Bonato disse que eles não demonstraram arrependimento. “São jovens frios, sem pudor e compaixão. O de 15 anos confirmou a ida ao posto de gasolina, mas negou ter ateado fogo. Já a adolescente disse ter jogado a gasolina nos moradores e confessou que teve a ideia de incendiá-lo”, afirma.

 

O adolescente de 15 anos tem passagem pela polícia por roubo. A menor não tinha antecedentes e seria filha de um policial federal. No entanto, a polícia não confirma a informação, “para preservar a família da jovem”. Ela teria dito na delegacia que encomendou a morte do morador de rua, em uma conversa com os dois aliados.

 

Sob efeito de drogas


O suspeito preso ontem tem vários antecedentes criminais. Quando era menor de idade, foi apreendido por tráfico de drogas, roubo, receptação, desacato e porte de drogas. Na delegacia, ele disse ter cometido o crime porque estava sob efeito de drogas. “Segundo ele, todos estavam sob efeito de maconha e ele teria consumido ainda comprimidos de LSD”, explica o delegado Jefferson Lisboa.

 

Assassinato trouxe medo e tristeza


Edvan morreu no Hospital Regional da Asa Norte três dias após dar entrada. Ele sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus em 63% do corpo. No dia do crime, ele e mais três moradores de rua dormiam na praça. Os companheiros conseguiram fugir. Ele não acordou no momento e, por isso, não teria conseguido se livrar das chamas que se propagaram rapidamente.

 

Com base nos depoimentos, a polícia informou que os suspeitos passaram pelo local, observaram as vítimas e foram ao posto de combustíveis.

 

Insegurança


Depois do ocorrido, moradores de rua e das casas próximas da praça passaram a sentir medo. A dona de casa Márcia dos Santos Ferreira, 37 anos, disse que viu Edvan em chamas e que agora evita passar pelo local. “Não sinto mais segurança. Ainda mais sabendo que os responsáveis por essa tragédia são menores de idade. Quando é que as nossas autoridades vão se conscientizar de que menor que pratica crime não é inocente?”, questiona.

 

A comerciante Solange Ferreira, 44 anos, que trabalha no quiosque ao lado de onde Edvan foi queimado, lembra do morador de rua como uma pessoa calma e diz não acreditar na justificativa dada pelos acusados. “Ele não incomodava ninguém, trabalhava o dia todo e vinha aqui apenas para dormir. Nunca soube de confusão envolvendo ele. Foi terrível e confesso que fico triste em saber que foram menores de idade que cometeram o crime. Triste por serem adolescentes e mais triste ainda por saber que eles não pagarão por essa trágica morte”, lamenta.

 

Pense nisso 

 

A morte do índio Galdino  não   sairá tão cedo da memória do brasiliense. Dezesseis anos se passaram e as circunstâncias  dos crimes têm semelhanças. O que Brasília aprendeu com a morte do pataxó?

 

Memória 

 

Santa Maria

No ano passado, em Santa Maria, um comerciante da região contratou cinco homens, pelo valor de R$ 100, para atear fogo em dois moradores de rua. O mandante do crime, Daniel de Abreu, afirmou que eles “atrapalhavam seu negócio”. Por isso, tomou a decisão de mandar matá-los. Uma das vítimas, José Edson Freitas, de 26 anos, morreu após sofrer queimaduras em 63% do corpo. Outro ficou ferido após ter 20% do corpo queimado.   Em março deste ano, o Tribunal do Júri de Santa Maria condenou três dos cinco acusados do crime. Daniel, apontado como mandante, foi condenado a 23 anos e dez meses de prisão. Edmar Pereira da Cunha Júnior e Lucas de Sá foram condenados, cada um, a 23 anos e oito meses de prisão. Todos haviam sido denunciados por tentativa de homicídio e homicídio qualificado – o MP apontou que o crime foi cometido com promessa de recompensa, uso de fogo e recurso que dificulta a defesa da vítima. Outros dois réus, Daniel Cardoso e Gervano Balbino, foram absolvidos a pedido do Ministério Público. 

 

Taguatinga


Duas semanas depois, um crime semelhante ocorreu no centro de Taguatinga. Dois pedintes foram mortos com tiros na cabeça enquanto dormiam embaixo de algumas árvores. As vítimas estavam sem documentos. O acusado da violência está preso.  Na denúncia, consta que o homicídio foi motivado por acerto de contas relativo a drogas. De acordo com  o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), o homem apresenta várias passagens pela polícia e responde a outro processo de homicídio.

 

Índio Galdino


Há 16 anos, em 1997, cinco jovens de classe média em Brasília decidiram “brincar” de uma forma inusitada e cruel durante a madrugada, depois de uma festa com os amigos. Primeiro, compraram gasolina e uma caixa de fósforo. O segundo passo foi atear fogo em um índio que dormia em uma parada de ônibus na W3 Sul.  O índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 44 anos, que estava na cidade para comemorar o Dia do Índio, acordou em chamas e horas depois morreu no hospital com 95% do corpo queimado. Os rapazes foram reconhecidos, presos e condenados a 14 anos de prisão, porém, conseguiram regalias e cumpriram apenas oito anos. Um dos condenados, inclusive, se tornou servidor público no ano passado. Eron Chaves Oliveira foi aprovado, em 2012, em concurso público para assumir o cargo de agente de trânsito do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Ele aparece em uma lista de 27 nomes de pessoas que se declararam deficientes, conforme publicação no Diário Oficial do Distrito Federal, de 23 de maio deste ano.

 

W3 Sul


No mesmo local onde atearam fogo no pataxó Galdino Jesus dos Santos, que ficou conhecido como Praça do Índio, em 2010, um servidor público matou dois moradores de rua com tiros na cabeça. Ele estaria incomodado com a presença das vítimas nas proximidades de sua casa. Depois de preso pelo duplo homicídio, a polícia descobriu que o homem era também o autor do assassinato de outro morador de rua em 2006, em Taguatinga.

 

Areal


 No ano passado, dois moradores de rua foram encontrados mortos no Areal, próximo ao albergue público Conviver. De acordo com a polícia, os homens estavam sem documentos e dormiam sob uma árvore. A perícia encontrou no local cápsulas de munição de pistola calibre 40. Os disparos foram efetuados  por um homem encapuzado, que chegou de bicicleta.

 

 

 

 

 

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