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Brasília

No DF, consumidor é o que mais falta faz

Arquivo Geral

05/05/2016 6h00

Jéssica Antunes

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Não está fácil ser comerciante no Distrito Federal. Só no primeiro trimestre do ano, quase 300 lojas fecharam as portas diante da crise econômica. Quem quer se manter ativo ou até mesmo tenta sair da ilegalidade sofre, mas usa a criatividade para cativar fregueses. Em São Sebastião, uma ex- ambulante instalou uma placa implorando por clientes em seu novo ponto comercial. “É desespero para pagar as contas”, explicou. 

Teresa dos Santos, a dona Teresa, tem 54 anos. Ela tinha uma barraca onde vendia lanches em frente ao Instituto Federal de Brasília (IFB) da cidade há quatro anos. A Agência de Fiscalização a autuou pela irregularidade e  ela teve de se virar em 15 dias. “Eu aluguei uma loja correndo, estou cheia de dívidas e agora preciso pagar o aluguel de R$ 1,3 mil. Foi a solução para não parar”, contou. 

Por isso e para chamar a atenção dos clientes, a empreendedora instalou na frente do estabelecimento uma faixa que diz “Precisa-se (sic) de clientes urgente”, no último sábado. A propaganda   surtiu certos resultados, e curiosos foram ver do que se tratava. 

Para o reformador de sofá Herney Fernando Santos,   26 anos, a criatividade chama a atenção. “É uma forma   legal de conquistar a simpatia do cliente”, considera. Como comerciante, ele diz que o mercado está em baixa, mas que já vê muita gente comparecendo ao ponto de dona Teresa, apesar de seu segmento, que inclui bares, restaurantes e lanchonetes, apresentar uma retração de 1,44% em fevereiro.

São duas semanas na área comercial da Quadra 9. Alguns clientes antigos andam um pouco mais pelo tempero dela, mas Teresa diz que ainda está fazendo a clientela. “É alho, cebola, cheiro verde, açafrão e amor, porque amo o que eu faço e isso vai para a panela”, diz. Hoje, conta com a ajuda do filho e do sobrinho para tocar o empreendimento. 

“Um leão por dia”

Adelmir Santana, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio- DF), revela que o DF ocupa o sétimo lugar do País em número de lojas fechadas. “Ser comerciante sempre foi muito difícil, e o que estamos vivendo é um retrato   triste. É matar um leão por dia”, considera.

Criatividade em tempos de vacas magras

Para o presidente da Fecomércio, valer-se de trocadilhos como o de dona Teresa é muito interessante. “É preciso criatividade em situações complicadas como essa em que os clientes compram apenas o essencial. O   desemprego   afeta 282 mil brasilienses. A falta de confiança e a alta da inflação  geram receio”, afirma Adelmir Santana. 

Mas, para Edson de Castro, presidente do Sindicato do Comércio Varejista, a tentativa não deve surtir efeito, apesar de achar que o setor alimentício nunca entra em crise. “É criativo, mas os clientes podem ver como uma brincadeira. Acham bonito, engraçado, mas não entram”, considera. Porém,   recomenda: ela precisa achar o preço adequado ao público. Hoje, Teresa cobra R$ 19,50 o quilo. 

Castro elenca os motivos que tornam a vida do comerciante mais difícil: a alta de impostos, da inflação e dos alugueis e a insegurança, além do preço do dólar e a instabilidade política.

A retração das vendas vem desde o ano passado, quando a capital encerrou 2015 com queda de 18,69% no setor de comércio e serviços: pior desde 2006.

Saiba mais

Do setor de comércio, os únicos segmentos que apresentaram alta nas vendas foram material de construção (9,53%); suprimento de informática (8,93%); artigos de armarinho, souvenires e bijuterias (4,65%) e comércio varejista de bebida (0,50%). Já no de serviços, foram os de manutenção e serviços em TI (0,52%) e cabeleireiros (0,29%).

As maiores quedas foram em cama, mesa e banho (-16,46%), cosmético e perfumaria (-16,36%); vestuário e acessórios (-13,11%), serviços de sonorização, fotografias e iluminação (-18,70%); organização de feiras, congresso e festas (-10,55%) e atividades de condicionamento físico (-8,94%).

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