Centenas de pessoas gingando pararam quem passava pela Torre de TV na comemoração dos 56 anos de Brasília. O som dos berimbaus, ouvido de longe, não deixava confundir: ali havia capoeira. A luta ministrada principalmente na periferia é apresentada à toda a população brasiliense nos aniversários da cidade e reuniu mais de 600 pessoas na manhã de ontem, na sexta edição do Kilombrasília.
“É o quilombo do grupo de capoeira Sol Nascente dentro de Brasília”, explicou o organizador Mestrando Mancha. O grupo nasceu em Ceilândia, mas já tem filiações em vários estados brasileiros. Aqui, ensina a mais de mil crianças, adolescentes, adultos e idosos em cidades como Samambaia, Taguatinga e Recanto das Emas.
Mortais
Victor Ribeiro tem 12 anos, mora em Santo Antônio do Descoberto e, descalço, já consegue dar mortais após oito meses de aulas. “Mudou minha vida”, diz. Com ele, a mãe e a irmã ingressaram no grupo e, desde então, muita coisa estaria diferente. Tesoura, como é chamado na capoeira, diz que isso o ensinou a ter respeito e dedicação.
“É uma boa ideia apresentar no aniversário de Brasília porque muitas pessoas podem conhecer e se interessar pela capoeira. Também é uma manifestação cultural, um alívio depois de tanta manifestação política”, disse o garoto.
Professor de história de uma escola pública de Ceilândia, Luiz Eduardo já dedica 17 de seus 53 anos à capoeira. Luizão, como é conhecido, diz que o movimento representa resistência. “De um jeito ou de outro, doa a quem doer, a resistência vai continuar”, frisa. Para ele, a apresentação surge para comemorar que a periferia ocupe espaços públicos. “Esse espaço também é deles. A praça é do povo e tem que ser ocupada pelo povo mesmo”.