Uma cidade plana, arborizada, bem iluminada e com poucos meses chuvosos. Essas características de Brasília contribuem para o uso da bicicleta não só para o lazer, mas também como meio de transporte. O que se vê cada vez mais pelas principais vias da capital é a presença de ciclistas. Além de saudável, a iniciativa economiza dinheiro e tempo no trânsito.
Há quem se pergunte se Brasília poderia ter sua mobilidade tão voltada para a bicicleta como ocorre em países da Europa. Para Renata Florentino, coordenadora-geral da ONG Rodas da Paz, a capital ainda precisa avançar muito em relação às ciclovias. No entanto, pode se inspirar em cidades como Rio de Janeiro, Bogotá e Santiago.
“Essas três cidades sulamericanas não possuem trânsito tranquilo, mas foram feitas adaptações que contribuíram para o uso da bicicleta. Um exemplo é a redução de velocidade das vias. No Rio de Janeiro, existem várias com velocidade de 30 km, o que incentiva o uso da bicicleta. Além disso, a quantidade de ciclovias é muito grande e elas interligam os bairros, coisa que não acontece no DF. Se a pessoa quiser sair de Taguatinga, por exemplo, até o Plano Piloto, tem que se arriscar nas rodovias”, explica.
O que chama a atenção da coordenadora é que, finalmente, a “magrela” tem sido vista como transporte limpo, saudável, econômico e prático. E não depende só do governo para se consolidar, pois, mesmo em cidades em que não foram feitas ciclovias nem outros incentivos, houve aumento da prática.
Renata também destaca a falta de segurança e pede agilidade nos projetos voltados para o incentivo da bicicleta como meio de mobilidade.
A insegurança também impede que pais deixem os filhos pedalarem livremente, aponta a representante da ONG. “É necessário garantir rotas seguras nos percursos entre a casa e a escola. Dessa maneira, a cultura entre de ir ao colégio de bicicleta volta a acontecer. Isso era muito mais frequente”, lembra.
Menos crianças e mais adultos pedalam
Pedro Rodrigues, 50 anos, é ciclista há mais de 35 anos. Hoje, possui uma loja voltada a essa paixão. Segundo ele, a venda de modelos infantis tem sido cada vez menor, e isso é motivo de preocupação. “A tendência atual é de as pessoas descobrirem a bicicleta cada vez mais tarde. A criançada só se diverte com os eletrônicos, e os pais têm medo de deixar os filhos andarem de bike por causa da insegurança. Mas isso faz com que a criança seja menos ativa e contribui para o aumento da obesidade”, analisa.
O ciclista acredita que a cidade tem tudo para incentivar o uso desse meio de transporte, pois é plana, possui vias largas, poucas esquinas, e altitude e clima que contribuem para o pedal.
Porém, ele chama a atenção para as condições da malha cicloviária do Distrito Federal. “As ciclovias estão começando a ser implementadas, mas isso deve ser acelerado, porque hoje temos um transporte em colapso, com muito engarrafamento. A tendência é que a bicicleta seja cada vez mais utilizada, pois, além de prática, ela é um meio de transporte econômico. Por causa disso, a venda de bicicletas para adultos cresceu nos últimos cinco anos”, afirma.
Pedro acredita que pequenas ações, como a implementação de vestiários e bicicletários em órgãos públicos e em locais de grande movimento, incentivariam a prática.