Menu
Brasília

Cartório de Sobradinho: 40 anos nos registros da história

Arquivo Geral

07/02/2016 7h00

Carla Rodrigues

[email protected]

Ela sobe e desce as escadas do trabalho como uma jovem. Mas logo avisa: “Não vou ficar toda hora subindo e descendo não. Escolham um lugar para a fazer a foto”. Essa é  Sebastanya  Isabel Araújo dos Santos, a funcionária mais antiga do 2º Cartório de Ofício de Sobradinho. Ela trabalha no local há 40 anos, o que a enche de orgulho e lota sua vida de boas memórias.

Assim que chegou a Brasília, a pernambucana conseguiu um emprego no local. “Foi em 1975. Fui entrevistada, junto com outras pessoas, e me selecionaram. Disseram para eu escolher um chefe e, como não tinha trabalhado ainda com mulher, escolhi a única que tinha na sala. E justamente ela era de Sobradinho”, lembra. De lá para cá, dona Tânia, como é chamada carinhosamente pelos colegas, perdeu as contas de quantos casamentos e registros já fez. “Foram muitos. Não dá para saber. Só ontem, por exemplo, fiz 14”, conta a escrevente.

E por mais que o trabalho seja corrido, Sebastanya ama o que faz.  Por isso, os funcionários do cartório decidiram homenageá-la colocando seu nome na placa da recém- criada sala de casamento do local. “Eles fizeram uma votação, um concurso, para escolher o nome. Eu não sabia, até então, que seria homenageada. Mas descobri um dia, conversando com uma colega, que soltou uma coisa do tipo ‘quando fizerem sua sala’. Eu estranhei, né? E perguntei que sala era essa. Aí, me contaram”, lembra.

Ela estranhou, mas gostou. E muito. Para Sebastanya, é uma honra que uma sala do local leve seu nome. “Eu achei muito bom, né? Eles escolheram, quiseram, e eu achei muito legal. Até porque já realizei muitos casamentos aqui”, diz a tabeliã, ressaltando que também separou muita gente. “Tem gente aqui que casou comigo e se divorciou comigo. Tem um casal que eu já uni e separei mais quatro vezes. Já até avisei que eu não caso mais os dois”, conta a escrevente.

Exemplo

Não é à toa que  Sebastanya  é a funcionária mais antiga do local. Além de amar o que faz, ela é exemplar. A começar pelas vestimentas, calça e camisa sociais combinando, exatamente da mesma cor. Os sapatos impecáveis e o cabelo cuidadosamente arrumado. “Sempre venho assim”, ressalta. Tânia, como é chamada, também não dispensa o uso do crachá. “Eu sou muito correta para as coisas”, diz.

Por ser “caxias”, Sebastanya  gosta de cada coisa em seu lugar. Tanto é que lutou para conseguir o local ideal no cartório. Antes de vir para Brasília, ela trabalhava como escrevente de crimes: “Eu não gostava daquilo. Achava triste”. Quando foi contratada no atual serviço, trabalhou na seção de reconhecimento de firma, o que tampouco lhe agradava. “Eu gosto de gente. Aquilo não era para mim”, diz.

Coleção de histórias ao longo da vida

Entre uma repartição e outra,  Sebastanya chegou até a responder pelo cartório, entre 2000 e 2004. Hoje, faz exatamente o que gosta. Além de uniões, registra nomes de recém-nascidos. “Eu gosto muito. Conheço as pessoas. Me aproximo”, afirma. Mas ela  não se intimida em falar do que não gosta, inclusive nomes sugeridos por pais e mães.

“Há muitos anos, veio um pai querendo colocar o nome do filho de Dione, com D. Eu falei: ‘Não é legal, parece nome de mulher. Coloca Johnny, com J’. Mas ele insistiu, disse que o filho era brasileiro”, lembra. E não é que o conselho seria escutado 15 anos mais tarde? “Um dia, veio um homem, sentou na minha frente e disse que tinham colocado o nome errado no filho neste cartório. E eu perguntei ‘Como você diz que eu errei se foi o senhor que quis assim?’”, recorda-se. 

Sebastanya  não teve papas na língua. “Ele não me reconheceu no primeiro momento. Mas peguei os registros e falei para ele: ‘Lembra que eu disse para o senhor não fazer isso?’”. O homem recordou. “Aí que ele foi me reconhecer. E mudou o nome do menino. Colocou Johnny, com J. Ele pediu para eu mudar porque o filho sofria piadas na escola. Eu avisei”, destaca.

Até 12 nomes

Essa é apenas uma das histórias de  Sebastanya  no cartório. Nos 40 anos de trabalho, ela encontrou pais que colocam até 12 nomes em um só filho. “Teve um que colocou mais de dez nomes nos filhos. Nos dois. Aí, claro, eles cresceram e vieram trocar. Era Geraldo José Guilherme…Uma loucura. E eu dizia para não fazer isso”, afirma. 

A escrevente é casada e, durante todo esse tempo, dividiu sua vida entre o cartório, seu marido e seus filhos. “Construí minha vida graças a esse cartório. Meus filhos se formaram devido ao salário que recebi aqui”, orgulha-se. Por isso, fica difícil pensar em aposentadoria: “Não reflito sobre isso. Enquanto tiver trabalho, continuo firme”.

Saiba mais

O 2º Ofício de Registro Civil e Notas e Títulos e Documentos de Sobradinho é localizado na quadra Central da cidade, no edifício Sylvia. A recém-inaugurada sala de casamentos fica no subsolo do local. O telefone do cartório é (61) 3298-3300.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado