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Brasília

Carro de pai assassinado no Guará II é encontrado; suspeito continua foragido

Arquivo Geral

02/02/2016 18h20

Eric Zambon e Carla Rodrigues

O corpo estirado de Eli Roberto Chagas, de 51 anos, em frente ao Colégio Rogacionista, na Área Especial 8 do Guará II, próximo à QE 38, é um aviso: nem as proximidades das escolas no DF   estão seguras. Servidor do Senado, o morador da cidade  esperava pelos filhos, um menino de 12 e uma adolescente de 15, próximo ao portão quando, por volta das 11h30, foi abordado e morto a tiros ao tentar fugir. O assaltante levou seu carro recém- comprado, um      Toyota Corolla de cor prata, e não havia sido preso até o fechamento desta edição.

Procurada, a Secretaria de Segurança não divulgou balanço preliminar dos latrocínios — roubos seguidos de morte — deste ano. No entanto, o JBr. somou seis, contando com o de ontem. No ano passado, conforme os dados oficiais, foram 44. Ou seja,  enquanto a média em 2015 era  de três por mês, o número neste início de ano é o dobro. 

“Não pode ficar assim”

Exaltado, o primo da vítima, Carlos Roberto Chagas, militar de 52 anos, cobrou das autoridades a aplicação mais rígida de leis e investimentos em segurança. “Brasília está difícil de viver. O governador tem que correr atrás. Não tem condições de um menor continuar matando. Não pode ficar assim”, esbravejou, antes mesmo da confirmação sobre a idade do autor.

Conforme o diretor da escola, Ademar Tramontin, Eli era um pai dedicado, acostumado a pegar os filhos na escola. O irmão da vítima, José Fernando Chagas,   57, revelou que buscá-los   ontem    teria um sabor especial, pois ele havia acabado de comprar o carro. “Estava novinho,   tinha pegado agorinha da concessionária”, emocionou-se.

Uma testemunha, que andava de bicicleta, disse ter visto a movimentação e contou que  não houve enfrentamento por parte do servidor, mas ele teria se assustado com a abordagem e tentado escapar. “Eu vi quando ele correu para trás da árvore, e o menino deu dois, três tiros nele. Depois, fugiu”, relatou. O criminoso parecia menor de idade   e vestiria um uniforme escolar.

O crime aconteceu exatamente às 11h33. “A vítima chega, faz a volta, estaciona o carro virado para a avenida, para debaixo da árvore e aguarda dentro do veículo. Nisso, chega esse rapaz, sozinho, e a aborda pelo lado do passageiro. Tudo leva a crer que os vidros estavam abertos”, detalhou    o delegado 4ª DP (Guará), Rodrigo Larizzatti.  “Quando a vítima tenta fugir, são efetuados quatro disparos”, relatou. 

Para Larizzatti, o suspeito agiu calmamente: “Quando a vítima tenta fugir, daria para o camarada entrar no carro e ir embora. Mas ele não fez isso. É um crime brutal”.

Versão oficial

O governador Rodrigo Rollemberg comentou o caso: “Toda morte é muito impactante, é uma tragédia. Nós temos que identificar o assassino e buscar prendê-lo o mais rápido possível. O comandante-geral da PMDF, coronel Marcos Antônio Nunes de Oliveira, está buscando o que podemos fazer para reforçar o policiamento na porta das escolas. Nós já estamos agilizando procedimentos na Ciade”. Rollemberg ressalta que, no ano passado, foi registrado o menor número de homicídios dos últimos 22 anos por cem mil habitantes. “Neste mês de janeiro, já reduzimos em relação ao mês de janeiro do ano passado”, destacou.

Características indicam autor do crime

O carro da vítima teria sido abandonado por dois homens no Setor de Oficinas Sul, a poucos quilômetros da escola.  De acordo com o delegado da 4ª DP (Guará), Rodrigo Larizzatti,  diante do relato da testemunha e das imagens das câmeras, a Polícia Civil chegou à provável identidade do atirador.  “Ele estaria usando camiseta de colégio e levava mochila. É novo, alto, magro e, possivelmente, menor de idade. Tudo leva a crer que pode se tratar de aluno da rede pública”, disse o responsável pelas investigações. 

O delegado ainda não descarta a hipótese de homicídio, embora latrocínio seja a principal linha de investigação.  “O atirador  estava sozinho, mas não descartamos que tenha existido algum apoio”, disse Larizzatti, destacando que a  última ocorrência de latrocínio no Guará é de 2014.

Diretor teria pedido mais segurança

O diretor do Colégio Rogacionista, Ademar Tramontin, disse ter encaminhado ofício ao 4º Batalhão da Polícia Militar pedindo reforço no policiamento antes mesmo do crime. Ao ver o corpo de Eli no chão, ele teria levado a esposa e os filhos do servidor para dentro, enquanto os outros estudantes teriam demorado na saída e feito uma oração.

O diretor revelou as imagens da câmera de segurança no portão de entrada. Apesar da visibilidade prejudicada, é possível ver a silhueta da vítima tentando se esquivar dos tiros e se protegendo atrás da árvore. O homem cai e, depois, o carro dele é levado, mas não é possível visualizar o autor. Segundo Tramontin, é o primeiro crime desse tipo nas imediações da escola.

A PM  alega que começou a Operação Volta às Aulas com rondas. No instante do crime, uma equipe patrulhava outra área do Guará. 

Medo

Os pais de estudantes e moradores das redondezas se disseram espantados com a violência, mas comentaram que há um clima de insegurança na região. “Eu quero me mudar para Goiânia, porque eu estou com medo de matarem meu filho”, desabafou a dona de casa Vera Lúcia da Silva, 47 anos, moradora da QE 38. Ela teme que “seu menino” seja alvo de vingança de gangues, algo corriqueiro na cidade.

A estudante de Direito Carla Pires, 44 anos, disse não morar mais no Guará, mas afirmou ter vivido na cidade por 23 anos. Mãe de aluno do Rogacionista, ela se disse surpresa com a ousadia do assaltante. “Poderia ter sido comigo. Geralmente, fico uns 15 minutos esperando meu filho. Sempre vejo viatura aqui na frente, hoje que, pelo visto, não tinha”, disse.

Outra mãe de aluno, a comerciante Evande Gomes, 36 anos, discordou da opinião de Carla. Para ela, há pouco policiamento em frente à escola e no Guará. “Eu tenho uma coleção de oito ocorrências por furto ao meu carro”, contou a moradora da quadra em frente ao local do crime. “A verdade é que é cada um por si. Minha filha estuda aí, e o colégio é bom, mas como fica a segurança dela?”, criticou. Ela disse que, agora, a orientação é para sua menina não voltar mais para casa sozinha.

O delegado Rodrigo  Larizzatti proibiu uma empresa ao lado de divulgar as imagens da câmera de segurança. “Eu proibi a empresa (que filmou o crime) de fornecer qualquer imagem. Imagina se o indivíduo percebe essa divulgação toda. Está todo mundo revoltado, aí ele percebe que a coisa está virando contra ele e vê a imagem na TV, o que ele vai fazer? Vai desaparecer. E eu não quero que ele desapareça”, esclareceu o delegado.

Saiba mais

A vítima trabalhava no gabinete do senador Eduardo Amorim. Em nota de pesar, a assessoria  do parlamentar comunicou que o político está de luto e descreveu Eli como “exemplo de lealdade e dedicação ao trabalho”. O homem tinha função de assistente técnico com especialidade em processo industrial gráfico e era efetivo da casa desde 1984.

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