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Brasília

Maus-tratos a cães são confirmados em canil clandestino no Jardim Botânico

Arquivo Geral

22/12/2015 6h30

Maltratados supostamente há muitos anos, cães de um canil clandestino no Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, ganharam, ontem, a liberdade. De acordo com o Conselho Regional de Medicina Veterinária do DF (CRMV), eles viviam enjaulados e sem cuidados. Por volta das 20h,  todos os 81 animais, entre machos, fêmeas e filhotes, número divulgado pela Delegacia Especial do Meio Ambiente (Dema), foram retirados da casa onde funcionava o negócio, após uma força-tarefa de quem ficou comovido com a história. Testemunhas afirmaram que o canil funcionava há, pelo menos, quatro anos. 

Após denúncia, agentes da Dema e veterinários do CRMV visitaram o local pela manhã. A  Agência de Fiscalização (Agefis), inclusive, chegou a interditar o local. No entanto, apenas no fim da tarde, o resultado da perícia criminal confirmou maus-tratos, supostamente por parte da proprietária, a aposentada Edmê Maria de Oliveira, 73 anos, segundo o conselho. Após o laudo, ela foi encaminhada para a delegacia, onde assinou um termo circunstanciado e foi liberada. 

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Lares temporários

“Agora, os cães ficarão sob a responsabilidade de uma depositária fiel em lares temporários  até a decisão judicial, que vai definir se eles voltam para o canil ou não. Enquanto isso, nenhum animal pode ser vendido ou doado durante 90 dias. Esse prazo pode renovado”, explicou o delegado-chefe da Dema,  Ivan Francisco Dantas. 

Segundo ele, há muitas reclamações dos vizinhos no condomínio, mas não havia nenhuma denúncia na delegacia até o momento. “Quando chegamos ao local, constatamos que os animais viviam em situações precárias, enjaulados e com condições de higiene inadequadas. A própria autora declarou não ter autorização dos órgãos ambientais competentes para o funcionamento do canil, mas negou os maus-tratos”, completou. 

A aposentada foi autuada em flagrante por maus-tratos a animais e poderá pegar de três meses a um ano de reclusão. “Durante o depoimento, ela garantiu que vai entrar com um pedido para restituir os cães. No entanto, apenas o juiz poderá determinar isso”, concluiu Dantas.

Bichos mutilados e dispensados

Segundo a coordenadora técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária do DF (CRMV), Simone Gonçalves, que acompanhou a perícia criminal, o cenário é lamentável. “O espaço não comporta a quantidade de animais. Não é à toa que eles estavam muito estressados e agitados. Além disso, alguns apresentavam lesões, outros sequer tinham pelos”, afirmou.

Simone aproveitou o caso para alertar a população. “As pessoas costumam achar que apenas agressão física caracteriza maus-tratos. Na verdade, qualquer situação que não prioriza o bem-estar animal é errada”, acrescentou. Mais do que isso, ela ressaltou a importância de se adquirir um animal de estimação em ambientes seguros. “As famílias precisam pesquisar canis cadastrados no CRMV. Esses estabelecimentos possuem responsáveis técnicos, ou seja, médicos veterinários que vão fazer a avaliação e a fiscalização do ambiente”, concluiu. 

A veterinária Paula Galvão Teixeira explicou que, além de tudo, alguns cães da mesma família estavam amontoados em pequenas baias de concreto e arame. Como resultado, o cruzamento desses animais acabou gerando filhotes deformados, sem patas ou olhos, como se os pequenos cães tivessem sido mutilados. Os que não serviam para a venda, eram dispensados.

Vendidos por até R$ 7 mil cada

Os filhotes eram encaminhados às feiras da cidade, onde eram comercializados por até R$ 7 mil, confirmou o delegado-chefe da Dema, Ivan Francisco Dantas. O canil era registrado no Kennel Clube, o que deixava muitos clientes confiantes. Entre as raças encontradas no condomínio estão Maltês, Yorkshire, Lulu da Pomerânia, West Terrier e Shih-tzu.

Segundo a administradora da ONG SRD Proteção de Animais, Catiucia Ferro, que acompanhou a ação da polícia desde cedo, o ambiente é insalubre. “Os animais não têm acompanhamento veterinário, as fêmeas dão cria uma atrás da outra, e o cheiro no local é insuportável”, acrescentou.

 De acordo com ela, a proprietária assumiu que deixou de criar a raça Pug, pois não gerava lucro. “De fato, era um comércio, e os cães eram tratados como objetos. Os Pugs exigem mais cuidado, por isso, ela deixou de criá-los. Eles têm o focinho muito pequeno, o que dificulta a amamentação”, concluiu Catiucia Ferro.

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