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Brasília

Em um ano, DF registra 231 novos casos de Aids

Arquivo Geral

02/12/2015 6h00

Jurana Lopes

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A Aids não escolhe  gênero, idade, orientação sexual ou grau de instrução. Dos 231 novos casos de  Síndrome da Imunodeficiência Adquirida  identificados no Distrito Federal em 2015, os maiores índices foram entre pessoas com Ensino Superior completo, Ensino Médio completo e Superior incompleto, nessa ordem. De 1980 até 2015, foram 10,9 mil registros no DF. Os dados são do Boletim Epidemiológico de HIV e Aids, divulgado pelo   Ministério da Saúde ontem, Dia Mundial da Luta Contra a Aids. 

Dos novos pacientes, 179 são   homens e 52   mulheres, sendo 35     gestantes. No ranking nacional de taxa de detecção da doença por cada 100 mil habitantes, Brasília aparece na 26ª posição entre as capitais. Por último, está   Rio Branco (AC).

Faixa etária

De acordo com Sérgio D’Ávila, gerente de DST/Aids da Secretaria de Saúde, nos últimos seis anos, a maior incidência  no DF tem ocorrido entre homens, de 20 a 39 anos, sendo a maioria dos casos na população homossexual. “Apesar do perfil predominante no DF, temos notado um aumento significativo da doença entre   jovens  de 15 a 24 anos. Além disso, são quatro casos masculinos para cada caso feminino”, informou.  Sobre a relação entre grau de instrução e aumento da doença, D’Ávila acredita que os dados revelam que informação não significa educação.

A taxa de mortalidade  a cada 100 mil habitantes no DF, em 2014, foi a menor do País: 4,2, enquanto a média nacional foi de 5,7. “Temos o índice de mortalidade abaixo da média, foram cerca de 120 óbitos em 2014. Porém, nesses casos de morte, o que percebemos é que foram   pacientes que tiveram o diagnóstico tardio”, explicou. 

No ano passado, foram detectados, além dos 231 casos de Aids, 589 pessoas portadoras do HIV, que   estão sob tratamento.

Fazer o teste é fundamental, alerta governo

O gerente de DST/Aids da SES- DF, Sérgio D’Ávila, alerta: “Para evitar que a Aids se manifeste, é preciso iniciar o tratamento assim que descobrir o HIV. Quanto mais pessoas tiverem o vírus tratado, menor será a proliferação da doença. E o que destacamos nessa data é que as pessoas se protejam, usem preservativo, façam o teste de HIV regularmente e, caso o resultado seja positivo, iniciem o tratamento o mais rápido possível”, destacou.

Ele acredita que é possível chegar   à meta estabelecida pelas Nações Unidas  e alcançar 90% das pessoas portadoras de HIV, submeter ao tratamento 90% das diagnosticadas e ter 90% dessas pessoas com carga viral indetectável. D’Ávila aconselha procurar um   centro  de saúde ou o Centro de Testagem e Aconselhamento, na Rodoviária do Plano Piloto, e fazer o teste. 

Em parceria com o governo, a ONG Elos disponibilizará, até   sexta-feira,  o serviço de testagem rápida com fluido oral, em que não é necessário tirar sangue. O resultado sai em 15 minutos. 

Menos casos registrados no País

A taxa de detecção de Aids no Brasil caiu 5,5% de 2013 para 2014, passando de 20,8 casos por 100 mil habitantes para 19,7. No ano passado, foram diagnosticados 39.951 casos e, em 2013, 41.199, segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids de 2015.

A queda de 5,5% é a maior redução anual de detecção de novos casos, diz o Ministério da Saúde. “Também foi o ano em que mais fizemos testes no Brasil. Outra tendência importante é a queda da morte por Aids”, destacou Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério. 

Desde 2003, houve queda de 10,9% na mortalidade de pacientes com Aids no País. De 1980 a 2014, foram registrados 290,9 mil óbitos. Segundo Marcelo Castro, ministro da Saúde, hoje, cerca de 405 mil brasileiros fazem tratamento, mas a expectativa é que 781 mil tenham a doença e não saibam. Por ano, é gasto cerca de R$ 1,1 bilhão com o tratamento. 

Jovens

No entanto, o número de casos notificados entre jovens de 15 a 24 anos vem aumentando nos últimos anos. Em 2004, foram 3,4 mil casos de Aids nessa faixa etária, uma taxa de detecção de 9,5 por 100 mil habitantes. Em 2014, foram 4,6 mil notificações e uma taxa de detecção de 13,4 por 100 mil habitantes.

“Estamos em uma sociedade mais liberal, e os nossos jovens estão mais relaxados, o que nos preocupa. A Aids é uma doença grave, que causa mortes. Porém, como o tratamento tem sido cada vez mais eficaz, acho que os jovens perderam um pouco da preocupação em se proteger do vírus”, declarou Castro.

Quanto à faixa etária, a maior concentração está entre as pessoas de 25 a 39 anos. Entre o número total de casos registrados no País de 1980 a junho de 2015, os homens foram maioria entre os infectados. Eles responderam por 65% dos casos, e as mulheres, 35%.

Preconceito ainda existe e é grande

No momento em que foi diagnosticada com Aids, há nove anos, Isabel, 62 anos, pensou que nunca mais poderia ter uma vida normal. Ela recebeu a notícia após ficar totalmente debilitada e parar em um hospital. A Aids, contraída por meio de uma agulha usada para injetar drogas, tinha se proliferado. 

“Tive a pior reação. Pensei que iria morrer, e o médico me disse que meu caso era muito grave. Passei cerca de seis meses internada, fazendo tratamento, pois outras doenças tinham atingido a minha imunidade. Além disso, tomava diariamente 18 comprimidos para combater a Aids”, lembrou.

Isabel saiu do hospital, voltou ao trabalho, mas, quando descobriram que ela estava com a doença, a demitiram e, desde então, ela nunca mais conseguiu emprego. “Me viram   tomando muitos remédios e logo desconfiaram. Me demitiram sem dar satisfação. O preconceito é muito grande com quem tem Aids. Até hoje ainda existe isso. Meus parentes se afastaram e acabei sozinha no mundo”, relatou. 

Por conhecidos, ela soube da existência da Organização Não Governamental (ONG) Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale), que funciona no Recanto das Emas e acolhe pessoas portadoras da doença. Lá, recebeu abrigo e moradia e conseguiu reconstruir, aos poucos, a vida.

“Fui me recuperando, continuei o tratamento e hoje tenho uma vida tranquila, diferente da que eu tinha antes de descobrir a Aids. Porém, não é fácil conviver com a doença. Me submeto a exames com bastante frequência e tenho que tomar meus medicamentos, que agora são só quatro comprimidos. Por isso, o conselho que dou para todo mundo é que se proteja da Aids”, concluiu Isabel. 

Tendência de aumento entre homens

A taxa de detecção de Aids em homens tem apresentado tendência de crescimento nos últimos dez anos, enquanto o inverso ocorre entre as mulheres. A taxa tem tido propensão de aumento também entre as gestantes. Entre os anos de 2005 e 2014, houve elevação de 30% nesses casos.

Waldézio, de 44 anos, descobriu a Aids em 1991. Ele ficou desesperado quando soube, preferiu ignorar o resultado do exame de sangue e não procurou tratamento. Somente em 1997, ele decidiu procurar ajuda médica, quando começou a sentir outros sintomas: “Me isolei do mundo por muito tempo depois que a Aids se manifestou, mas decidi me tratar. Depois, conheci minha esposa, também portadora da doença. Tivemos dois filhos, nenhum com o vírus”.

Mesmo se cuidando, a mulher de Waldézio faleceu em 2004. Ele se revoltou com a situação e parou novamente o tratamento. Passou dois anos sem utilizar nenhum dos medicamentos e ficou entre a vida e a morte durante dois meses. A Aids tinha se manifestado de forma mais agressiva. Aos poucos, Waldézio se recuperou.

Efeitos colaterais

“Depois desse susto, voltei a tomar o medicamento. Mas contraí tuberculose devido à minha baixa imunidade e interrompi o tratamento. Coloquei a desculpa na doença, mas, após recuperado, voltei a me medicar. Hoje, tomo quatro comprimidos e, por causa deles, estou sentindo efeitos colaterais, principalmente, na minha função motora”, explicou Waldézio. 

Hoje, ele mora   na ONG Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale) e reclama que, por causa da doença, contraída por meio de agulhas compartilhadas na juventude, não consegue ter uma vida normal. “Não desejo essa doença para ninguém. É muito triste. Não consigo escrever direito por causa do efeito colateral do remédio. Às vezes, tenho sintomas de depressão, e qualquer febre pode nos levar à morte. As pessoas acham que porque existe remédio não precisam se prevenir, mas não é bem assim”, finalizou.

Serviço

A ONG Fale abriga atualmente 147 pessoas portadoras da Aids e vive de doações. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelo telefone 3331-3536.

Saiba mais

A concentração de casos de Aids identificados de 1980 a junho de 2015 é maior nas regiões Sul e Sudeste com, respectivamente, 53,8% e 20% do total de casos. Em seguida, vêm o Nordeste, com 14,6%, o Centro-Oeste (5,9%) e o Norte (5,7%). 

De acordo com o Ministério da Saúde, observa-se tendência de queda da taxa no Sudeste nos últimos dez anos e de estabilização na Região Sul. O Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste apresentam tendência significativa de crescimento.

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