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Brasília

Consciência Negra: Igualdade requer árdua batalha

Arquivo Geral

20/11/2015 6h00

Jurana Lopes

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Celebrado hoje, o Dia da Consciência Negra  ainda está longe de ser uma data comemorativa  quando  estatísticas são analisadas. Doze anos após a instituição da data em âmbito nacional, dedicada à reflexão sobre a inserção dos negros na sociedade, os dados   apontam que eles são, na maioria das vezes, vítimas do desemprego, da violência e dos menores índices de escolaridade.

Nesta sexta (20), Dia da Consciência Negra, o Jornal de Brasília apresenta a série #‎racismonapele. Acompanhe, durante todo o dia em nossas redes sociais e no Portal do JBr., depoimentos de vítimas desse crime absurdo.

 

No último estudo da Companhia de Planejamento   (Codeplan) sobre o tema no DF, tendo 2010 como ano base, verificou- se que a maioria da população (56,2%) é composta por negros, pardos ou indígenas. Dentre as cidades  que, proporcionalmente, têm mais negros   estão  Estrutural (77%), Fercal (71%), São Sebastião (69%) e Varjão (69%), notadamente locais conhecidos por baixos rendimentos. 

Por outro lado, as menores proporções de negros foram encontradas onde há maior poder aquisitivo: Lago Sul (20%), Sudoeste/ Octogonal (25%) e Lago Norte (28%). 

A lógica é parecida quanto ao grau de escolaridade. Em 2010, apenas 7,8% dos jovens negros  tinham Ensino Superior completo, enquanto, entre os demais, esse percentual era de 18,8%. A porcentagem  sem instrução ou com Ensino Fundamental incompleto também era maior entre os negros (24,6%), enquanto 14,2% dos demais estavam na mesma situação.

Do total de negros empregados em 2010, 53% tinham carteira assinada, e 17,4%  trabalhavam na informalidade. Entretanto, as categorias   com maior segurança e estabilidade ainda eram ocupadas pela maioria de não negros. As mulheres sofrem as mais elevadas taxas de desemprego e possuem os menores salários, além de outras desigualdades. 

Desvantagem histórica precisa acabar

“Infelizmente, os índices ainda apontam   muitos problemas. Os jovens negros têm 2,5 vezes mais chance de morrer vítimas da violência do que um   branco. Além disso, as   negras não   recebem a assistência suficiente para  o pré-natal, às vezes,  por existir   preconceito”, avaliou Victor Nunes, subsecretário de Igualdade Racial do DF. Ele próprio   relata   sofrer com a discriminação racial quando é alvo de olhares preconceituosos  nas ruas.

Para Nunes, o negro nunca esteve em lugar de protagonismo na história mundial e isso reflete negativamente até hoje. “No âmbito profissional, as mulheres negras ganham 45% menos que o homem branco, mesmo  as mais qualificadas. Mais de 80% da população carcerária do Brasil é composta por negros e, apesar  das cotas   nas universidades, o número de negros estudando é muito baixo. Na UnB, são só 20% dos alunos”, informou.

O subsecretário ressalta a necessidade  da transformação por meio da educação. Segundo ele, com a inserção no currículo escolar   de disciplinas sobre a cultura   africana, com o tempo, o preconceito   pode  deixar de existir. 

Vidas de preconceito e luta

Waldicéia de Moraes, 57 anos, é professora, pastora e atua no movimento negro há vários anos. Conhecida como Wall, hoje ela faz parte do Comitê Impulsor da Marcha Nacional de Mulheres Negras e lamenta a sociedade só lembrar da questão na Semana da Consciência Negra. 

“O movimento negro já conseguiu alguns avanços, mas, agora, nosso esforço é para que aconteça a operacionalização das leis. A luta principal é para que seja implantada a disciplina de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em todas as escolas públicas e privadas do Brasil, pois os artigos 26-A,79-A e 79-B das diretrizes da educação básica garantem isso”, explicou a professora. 

Na visão de Wall, somente pela educação é possível combater e acabar aos poucos com o preconceito, a discriminação e o racismo, que ainda existem e persistem na sociedade. 

“Muitos adolescentes largam a escola porque não aguentam serem tratados de maneira diferente e desigual. Algumas pessoas desistem de lutar por uma vaga de emprego melhor porque são vítimas do preconceito. Com isso, os negros acabam sofrendo mais de fibromialgia e  de doenças psicológicas, o que já foi revelado em pesquisas”, afirmou. 

De acordo com Waldicéia de Moraes, os índices negativos em relação aos negros impedem que    a data seja um motivo de comemoração.

“Na pele”

O professor Wilson Barbosa, de 59 anos, relata que já experimentou discriminação racial e preconceito. “Sofri diversas vezes assédio moral em lojas e fui preso sem motivo. Dentro de sala de aula, alguns alunos não me respeitavam por conta da minha cor e, em alguns casos, até diretores e professores que trabalhavam comigo me tratavam de maneira diferente, muitas vezes sendo resistentes às minhas opiniões”, relembra.

Políticas públicas

Atualmente, Wilson luta pela igualdade racial e é membro do Conselho de Defesa dos Direitos do Negro no Distrito Federal. Para ele, é necessário redesenhar todos os setores da sociedade e criar políticas públicas que ampliem a questão da igualdade racial para, então, se pensar em mudanças e tratamento igualitário.

Segundo o professor, o branco precisa entender o lugar e o papel do negro na sociedade, respeitando as questões de origem da cultura afro-brasileira e africana e tratar de maneira tolerante as religiões de matrizes africanas.

Saiba mais

A Subsecretaria de Igualdade Racial informou ter projetos voltados para a reformulação do Disque Racismo, conscientização da população sobre o espaço do negro na sociedade e capacitação para novos servidores e policiais sobre igualdade racial.

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