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Brasília

Distrito Federal registra oito casos de desaparecimentos por dia

Arquivo Geral

16/11/2015 6h00

Só quem vive o drama de ter um familiar ou amigo desaparecido sabe como é angustiante não encontrar respostas para  inúmeros  questionamentos.  De janeiro até meados de   outubro deste ano, a Polícia Civil  do Distrito Federal  fez o registro de 2.386   ocorrências: uma média mensal de 265 desaparecimentos, ou oito casos diários.

Até  19 de outubro, 71,4% das vítimas   haviam sido encontradas. Ou seja,   682 continuavam sumidas. Entretanto, a Polícia Civil explica que   existem ainda as situações em que familiares   encontram os parentes e não comunicam o fato às autoridades.

“Acontece muito de a polícia estar investigando e descobrir que o desaparecido já foi encontrado. Por isso, é essencial que a família registre o aparecimento”, ressalta Paulo Henrique de Almeida, diretor da Divisão de Comunicação da PCDF. De acordo com o delegado, é importante registrar o desaparecimento imediatamente. Em casos de crianças ou adolescentes, ele orienta a procurar informações com amigos, namorados e pessoas próximas antes de ir até a delegacia.

Jovens

Segundo levantamento da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), adolescentes entre 13 e 17 anos representam a maior parcela de desaparecidos nos nove primeiros meses do ano:  883   (38%). Entre os principais motivos estão conflitos familiares, violência doméstica, consumo de drogas ou passeios com amigos e namorados  sem o conhecimento da família. 

Algo que prejudica a localização   é a falta de um cadastro único de vítimas  no DF. O governo não possui nenhum tipo de ferramenta de busca voltada para o problema em questão.

 A SSP-DF informou que vai criar um grupo de trabalho com a participação de representantes da Polícia Civil para buscar referências de iniciativas exitosas em outras unidades da Federação a fim de criar um projeto.

Banco de dados

Segundo o delegado Paulo Henrique de Almeida, a PCDF está elaborando um banco de dados   para ser disponibilizado na internet, como já ocorre em outros estados. Segundo ele, independentemente da quantidade de tempo que a pessoa tenha desaparecido, a polícia nunca para as investigações. Entretanto, ele  faz uma observação: “Quanto mais tempo passa, mais difícil fica de encontrar a pessoa, pois as pistas vão esfriando e desaparecendo. Mesmo assim,     não é impossível solucionar o caso”.

Ele destaca também que a internet tem sido uma aliada nas investigações de ocorrências de desaparecimento.

Serviço

Quem souber de alguma informação sobre Adriana França, desaparecida  em Santa Maria, pode ligar nos seguintes telefones: (61) 9519-0406, (61) 9508-3079 ou (61) 9532-1160.
 
Qualquer informação sobre o paradeiro de Anilde Ribeiro, que morava em Planaltina,  pode ser repassada pelo telefone (61) 8211-1353.
 
Redes sociais podem ser  aliadas
 
No mês passado, a secretária Mikelly Alves, de 28 anos, divulgou nas redes sociais a foto do filho, Pedro Henrique Alves Borges, de 12 anos, que desapareceu após sair da escola, no Cruzeiro. Ela fez um apelo desesperado para  que quem encontrasse o garoto a procurasse. Graças à ampla divulgação, ele foi localizado no mesmo dia, por volta da meia-noite.
O desencontro ocorreu porque, no caminho da escola para o  trabalho da mãe, no Sudoeste, Pedro pegou o ônibus errado. “Quando ele percebeu que estava perdido, decidiu ir para a Rodoviária do Plano Piloto e pegar a linha que vai para a Vila do RCG, no Setor Militar Urbano, pois já moramos lá. Mas  o celular   descarregou e ele disse que não pediu socorro a ninguém porque ficou com medo. Graças a uma pessoa que tinha visto meu apelo na internet, ele foi localizado”, relatou.  
No início deste mês, ocorreu um caso semelhante. A estudante Jaqueline Alves,  17, desapareceu em Planaltina. Segundo a família, a jovem  não voltou   para casa depois da escola. Segundo a mãe, Jadel Alves, 51 anos, babá, a menina  foi encontrada oito dias depois, quando   uma pessoa a reconheceu, nas proximidades do Vale do Amanhecer. A jovem não   explicou o que aconteceu.
 
Ponto de Vista
 
De acordo com Eliana Mendonça Vilar, doutora em psicologia clínica, um desaparecimento   representa   trauma em qualquer família. “Ter alguém desaparecido pode ser pior, em termos psicológicos, que perder um ente querido, pois é uma situação que ocorre de maneira brusca. Causa angústia profunda, elevado nível de dramatização, tristeza e sentimentos de culpa, aflição e pode se transformar   em depressão”, explica. Segundo a especialista, em casos de morte, a família entra em luto e, com o tempo, passa a aceitar. Porém, no desaparecimento existe a perda, mas  não   respostas.  Eliana destaca a necessidade de a família receber o apoio de amigos e pessoas próximas, além de não desistir da busca. “O apoio é fundamental, pois evita que os familiares desenvolvam algum tipo de transtorno mental, como o luto patológico ou a depressão. Além disso, é importantíssimo nunca perder a esperança de encontrar o ente querido, independentemente do tempo que se passou”, afirma. A psicóloga acrescenta ainda que retomar as atividades sociais é uma forma de se proteger de transtornos  psicológicos.
 
Sem pistas de Adriana, 26 anos

A dona de casa Maria Ivoneide de França, 49 anos, sofre há dois anos com o sumiço misterioso da filha   Adriana França, de 26 anos (idade atual). No dia 18 de outubro de 2013, em Santa Maria, a jovem   saiu para   trabalhar e foi vista pela última vez na parada de ônibus. Maria Ivoneide não acredita que se trate de uma fuga, pois argumenta que Adriana  não tinha motivo e não iria abandonar o filho pequeno, Diogo Henrique, hoje com nove anos. 
 
“Adriana sempre foi uma boa filha, nunca saía sem avisar. Uma pessoa apegada com a família e  apaixonada pelo filho. Tenho certeza absoluta de que ela não iria deixar a gente”, conta. De acordo com Maria, a filha havia se separado há menos de um ano e o ex-marido, pai de Diogo,  não aceitava o fim do relacionamento. “Ele chegou a agredi-la e ameaçá-la”, relata. 
 
Desde então, a dona de casa perdeu a paz.  “Eu nunca mais consegui ter uma noite de sono. Ainda tenho esperanças de que ela esteja viva, mas tem horas que não consigo ser forte e me desespero. A dor que   sinto não desejo nem para o meu pior inimigo. Quando um filho morre, a dor é grande, mas   existe o conforto de saber onde ele está enterrado. No meu caso, só existem possibilidades”,    emociona-se. 
As irmãs de Adriana sempre divulgam fotos na internet com a esperança de receber  alguma informação. A família já recorreu ao Ministério Público e a Polícia Civil investiga o caso.  Maria   conta que a ocorrência é tratada como homicídio, o que a deixou sem chão. 
“Eu gostaria que ela fosse encontrada viva. Mas, se   tiver sido morta, o que eu mais quero é fazer um enterro digno. Só assim terei um pouco de paz”, diz.
Procurada, a PCDF informou não poder dar detalhes do caso. 
 
 
Divulgação em contas
Atualmente, 27 famílias com entes desaparecidos  são acompanhadas pelos centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), de acordo com a Secretaria   de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs).  A pasta   organiza    fotos de  menores, idosos e pessoas com deficiência ou com transtorno mental desaparecidos e as envia, há mais de dez anos, aos parceiros (CEB, Caesb e Elevamídia, de mídia em elevadores), que as divulgam  para os clientes. 
 
A Sedhs informou, ainda, que a Polícia Civil encaminha mensalmente a planilha de todos os boletins de desaparecidos do mês. Depois, a secretaria envia os dados às unidades do Creas para  o primeiro contato com a família e, se necessário, acompanhamento técnico.
 Em situações em que o menor tenha retornado à família, pode ser realizada intervenção que previna   novas fugas, bem como a desaparecimentos futuros em função de violações de direitos vivenciadas.  
 
Distribuição de folhetos
Para a irmã de Anilde, Ozenilda Ribeiro (a penúltima da esquerda para a direita), as perguntas sem respostas sobre o paradeiro dela são a pior parte. “É péssimo não saber o que se passou. Nunca se imagina que vai acontecer com a gente, mas isso pode ocorrer em qualquer família e não desejo essa dor e essa angústia para ninguém”, desabafa. Os irmãos Diogo, Sayonara    e  Camila Ribeiro não desistem de encontrar a mãe e, por isso, onde vão, distribuem folhetos com as fotos de Anilde. 
 
Três filhos em busca de Anilde
 
A família de Anilde Ribeiro, desaparecida em abril de 2009, vive um drama constante. Os três filhos dela, Sayonara Ribeiro, 29 anos, Diogo Ribeiro, 28, e  Camila Ribeiro, 24, convivem diariamente com a angústia de não saber  o paradeiro da mãe, de 55 anos (idade atual).
 Ela saiu de casa em 2009  para fazer uma visita a uma das irmãs, que mora em Tocantins. Dona Anilde chegou bem ao destino, mas  desapareceu no dia que iria embarcar de volta para Planaltina. Dois meses depois, ela entrou em contato por meio de um telefonema, mas disse apenas que estava bem.
 
Após a ligação, a mãe dos jovens nunca mais deu sinal de vida e a família decidiu registrar o boletim de ocorrência. Os filhos explicam que Anilde apresentava problemas psicológicos e início de esquizofrenia quando desapareceu. “Depois que minha avó morreu, em 1999, minha mãe começou a ter depressão. Com o tempo,   foi piorando e o médico suspeitava que ela tivesse esquizofrenia”, relata Sayonara.
religiosidade
 De acordo com os filhos, a mulher passou a demostrar religiosidade de forma excessiva, saía nas ruas se dizendo devota de Santa Rita de Cássia e pedia dinheiro e alimentos para ajudar pessoas necessitadas.
 
Camila tem a esperança de que a mãe esteja viva, fazendo caridade em algum lugar do País. “Depois de apresentar esses distúrbios psicológicos, ela sempre ajudava o próximo. Tenho fé de que ela esteja em algum lugar fazendo isso. O que pode ter acontecido também é ela ter perdido a memória e, por isso, nunca ter dado um sinal de vida”, afirma a jovem.
Várias pistas falsas, de pessoas que diziam saber do paradeiro da mãe, tentando agir de má-fé, foram recebidas.  Camila pretende  viajar para São Paulo em busca da mãe. Os filhos já procuraram por Anilde em Tocantins e em municípios de Goiás e Minas Gerais que ficam na Região Metropolitana  do DF. 
“Minha mãe gostava muito de viajar. Por isso, achamos que ela está viva. Sempre pensamos nela, nos sentimos preocupados porque ela já é uma senhora. Somos obrigados a conviver com a angústia e a aflição de não saber onde ela está, se está bem. Em datas comemorativas, como Natal e Dia das Mães, é uma tristeza imensa. O que mais queremos é encontrar a nossa mãe”, conta Diogo.
 

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