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Brasília

Chacina ganha repercussão com relatos de quem lembra o episódio

Arquivo Geral

21/08/2015 6h00

Os policiais militares suspeitos de participação em uma operação violenta contra a comunidade da Estrutural, em 1998, vão a júri popular na próxima segunda-feira, como informou o Jornal de Brasília em matéria publicada ontem. 

Dezessete anos depois do episódio que ficou conhecido como o “massacre da Estrutural”, o julgamento dos integrantes da corporação trouxe à tona uma parte da história da cidade que nunca foi esquecida, além de ter tido repercussão entre os que vivenciaram aquele período. Até hoje, não se sabe o número de vítimas no confronto, pois muitos moradores, além de torturados, ficaram desaparecidos, conforme relatos da comunidade.

Segundo o deputado distrital Wasny de Roure, mais do que as questões ambientais e de moradia de risco do local, levantadas pelo governo na época por causa do lixo da Estrutural, a operação da Polícia Militar teve um contexto político. 

“A corporação ficou no meio de um fogo cruzado entre o governo e os moradores em um clima de completa vulnerabilidade. Além disso, a Estrutural foi usada pela oposição como um instrumento para desestabilizar o governo, ou seja, mostrando que o governo não estava preocupado com aquela comunidade carente”, afirma. 

De acordo com o deputado, a PMDF sempre foi muito respeitada e preparada para qualquer ação. “Na minha opinião, não acredito que a corporação seja criminosa. Não estou dizendo que ela nunca tenha cometido nenhum excesso, mas, no geral, isso sempre foi algo muito pontual. Nunca fez parte da história da PM”, acrescenta. 

“Ação covarde”

Procurado pelo JBr., o ex-senador Luiz Estevão também comentou o caso. Segundo ele, o período foi um dos momentos mais tristes da história do Distrito Federal. “Foi uma ação covarde do governo, que invadiu uma área, que não tinha iluminação, com tropas de choque, viaturas e policiais a cavalo para lutar contra famílias indefesas”, afirma. 

Luiz Estevão ressalta ainda que a polícia não foi a única responsável pela situação. “A PM não teria invadido se não fosse a ordem do governo. A coorporação foi orientada a fazer aquilo”, completa.

A deputada distrital Celina Leão ressalta o julgamento, mesmo depois de 17 anos. Segundo ela, os moradores da Estrutural mereciam o desfecho dessa história. 

“É o momento de se fazer Justiça. As famílias precisavam disso”, declara ela, alertando para o dever da coorporação e do governo local. “O julgamento ainda não aconteceu, mas, independente dessa história, qualquer tipo de abuso da polícia ou do próprio governo precisa ser punido”, conclui.

A reportagem procurou a Associação dos Policiais Militares do DF, mas não consegui contato.

Operação era uma ação “paralela”

Ao JBr., o senador Cristovam Buarque destacou, ontem, que espera a decisão da Justiça. “Vamos aguardar o que a Justiça tem a dizer. Quem é culpado tem que pagar pelo o que cometeu”, afirma o senador, alegando que “a Operação Tornado não teve nada a ver com o governo”. Segundo Cristovam, a operação era uma ação “paralela”. 

Em matéria publicada ontem, o JBr. errou ao citar Alexandre Nogueira Martins como um dos réus a serem julgados pela operação na próxima semana. Alexandre comunicou que o seu nome foi retirado do processo, o que foi confirmado pelo Tribunal de Justiça do DF. 

Portanto, são dez os réus a serem julgados: Luiz Henrique Fonseca Teixeira, Carlos Chagas de Alencar, Rodrigo Moreira de Souza, Wolney Rodrigues da Silva, Antônio da Costa Veloso, Francisco Alves de Lima, Vangelista Pereira de Souza, Cássio Marinho, Marcio Serra Freixo e Eduardo Araújo de Oliveira. Eles serão julgados pelas mortes de Luciano Pires Aquino e Milton de Sá, e tentativa de homicídio de Roberto José dos Reis Filho, conhecido como Azul. Daniel de Souza Pinto Júnior, que também seria julgado, morreu este ano, conforme informa o advogado  Ennio Ferreira.

Memória

Segundo o advogado da comunidade e, em específico, do morador que sobreviveu ao massacre, Roberto José Filho, o Azul, hoje protegido pelo Ministério Público do DF (MPDFT), Ennio Ferreira Bastos, a confusão começou em agosto de 1998, quando a comunidade foi transferida da antiga Estrutural, onde, hoje, é a Cidade do Automóvel, para se instalar no endereço atual. O problema foi quando o governo decidiu, mais uma vez, remover os moradores de lugar. 

Segundo Ennio, ao transferir a comunidade, o governo assinou um termo de acordo com todo mundo. Portanto, os moradores não podiam ser removidos novamente. “Aquela área não era uma invasão, era um assentamento”, afirma o advogado, ressaltando que a comunidade não aceitou ser transferida pela segunda vez, o que deu início a uma guerra contra a Polícia Militar e o governo. 

No dia 6 de agosto de 1998, durante operação da Polícia Militar, o soldado Rubens Gomes de Faria, 32 anos,  foi atingido por disparo de arma de fogo e morreu na Estrutural. Dois dias depois, a PM fez operações na região.

Saiba mais

O julgamento dos policiais militares está marcado para a próxima semana (entre os dias 24 e 28), a partir das 9h. O senador Cristovam Buarque, governador do Distrito Federal na época, não comparecerá à sessão.

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