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Brasília

Após dois anos, Polícia Civil conclui investigações do caso Antônio Araújo e indicia dois militares

Arquivo Geral

02/07/2015 17h30

Mais de dois anos se passaram desde a morte violenta do auxiliar de serviços gerais Antônio Pereira de Araújo em Planaltina. O crime, envolvendo dois policiais militares, que teoricamente deveriam garantir a segurança da população, chocou e teve muita repercusão por todo o Distrito Federal. No entanto, agora, a família e a sociedade podem respirar aliviadas. A Polícia Civil divulgou, nesta quinta (2), a conclusão das investigações indiciando os policiais militares Silvano Dias de Sousa e Carlos Roberto José Pereira por tortura seguida de morte. Segundo a corporação, o homem foi espancado e encaminhado para a delegacia da cidade com ferimentos graves, no entanto, morreu logo após ser liberado.

De acordo com o diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, os envolvidos no crime não confessaram a agressão. Porém, um dos seis policiais que participaram da ocorrência, testemunhou para a corporação. “Demoramos tanto tempo para concluir as investigações porque não queríamos ser injustos com inocentes. Dentre os policiais envolvidos na ocorrência, somente dois agiram contra os mecanismos legais”, desabafou Seba. 

Policiais continuam soltos

Com a denúncia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a juiza da 2ª Vara criminal negou o pedido de prisão preventiva, mas impôs aos policiais que fiquem afastados das atividades. No entanto, os militares continuarão a ser remunerados. “Ambos devem prestar serviços internos, de natureza administrativa, para a corporação. Além disso, os dois ficam proibidos de se aproximarem da família da vítima ou de qualquer outra testemunha ligada ao caso”, determinou a magistrada. Se condenados, a pena é de oito a 16 anos, podendo ser aumentada devido ao crime cometido por agentes públicos.

Segundo o MPDFT, o pedido de prisão preventiva foi expedido após os policiais simularem que, após o desaparecimento, a vítima teria se consultado em um posto de saúde do Núcleo Bandeirante. Além disso, de acordo com o órgão, os indiciados teriam combinado o teor do depoimento de uma das testemunhas ouvidas na delegacia com o proprietário da chácara, onde Antônio foi abordado antes de ser morto. Porém, segundo o documento, “a juíza não viu motivos que demonstrassem que os acusados tumultuaram as investigações”. 

O crime

Segundo a delegada responsável pelo caso, Renata Malafaia, no dia 26 de maio de 2013 a vítima saiu de casa, por volta das 14h30, afirmando que iria para a residência de um irmão para assistir a um jogo de futebol. Na ocasião, ele aproveitaria, também, para ver a sobrinha recém-nascida. Mas não apareceu nem retornou para casa. “No dia do desaparecimento, Antônio estava lutando contra o alcoolismo e se encontrava em abstinência, com muitas alucinações”, informou a delegada. 

Durante a madrugada do dia 27, o auxiliar foi visto próximo a um conjunto de chácaras, no Córrego do Atoleiro. “Uma das propriedades pertencia a um policial militar. Como a vítima estava tendo alucinações e conversava sozinho o PM ficou com medo de ser um assalto e pediu o apoio de duas viaturas da corporação”, detalhou Renata. Um dos carros oficiais, com três policiais, chegou primeiro ao local. “Nesse momento, dois militares o abordaram de forma muito violenta, jogaram ele no chão e iniciaram as agressões. O terceiro se manteve impacial”, resumiu Malafaia. 

A segunda viatura, com outros três policiais, chegou ao local e Antônio foi, então, encaminhado para a 31ª Delegacia de Polícia, em Planaltina, com quatro costelas quebradas e uma hemorragia interna. Sem nenhuma passagem, ele foi liberado e saiu andando. Cerca de 1,5km depois, caiu próximo a um matagal, onde morreu e foi encontrado somente seis meses depois, em novembro de 2013. “Acreditamos que os policiais não sabiam  da gravidade do quadro de saúde da vítima. Ele chegou na DP completamente sujo de terra e não reclamava de dores. Na delegacia, Antônio bebeu sete copos de água e pedia a toda hora para rever os irmãos. Não sabíamos, mas a ingestão de água, durante uma hemorragia interna agrava, ainda mais, a situação”, afirmou a delegada. 

Falsas denúncias atrasaram as investigações

Com a repercussão do crime, muitas pessoas procuravam a Polícia Civil para testemunhar. Segundo Renata Malafaia, algumas delas atrasaram as investigações. “Não sei se foi um pedido dos indiciados, mas muitas pessoas nos procuravam para dar pistas falsas sobre o caso. Em uma dessas denúncias, a pessoa relatou que a vítima havia sido agredida por um dos irmãos. Pouco tempo depois, tornou a nos procurar, afirmando ter sido coagida por policiais para prestar o falso depoimento”, alertou Malafaia. 

Família

Durante todo esse tempo, por preferência da família, a ossada de Antônio permaneceu no IML. “Eles queriam evitar o sofrimento da exumação, caso fosse necessária”, contou Seba. Mas, segundo o diretor, em nenhum momento os parentes da vítima perderam a esperança em solucionar o caso. “Eles repetiam, a todo instante, que confiavam no nosso trabalho e na resolução do crime. Hoje, finalmente, pudemos falar que eles poderão enterrar, de forma digna, Antônio”, concluiu o diretor.

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