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Brasília

Motoristas não largam celular ao volante

Arquivo Geral

01/06/2015 7h20

Jurana Lopes

Especial para o Jornal de Brasília

Por lei, dirigir e utilizar o celular ao mesmo tempo é proibido. Além de cometer uma infração, o motorista que usa o aparelho, seja em caso de ligação ou mensagens, põe em risco a sua vida e a de outras pessoas e pode ser penalizado. Segundo o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), de janeiro a março de 2014, o órgão registrou 3.888 infrações relacionadas ao uso do celular na direção de veículo. No mesmo período deste ano, foram 6.216 pelo mesmo motivo. Isso representa um aumento de 59,8%, 2.328 multas a mais por uso do celular ao volante na capital federal.

De acordo com uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), 84% dos condutores reconheceram que falam ao celular ou digitam mensagens quando estão ao volante. A pesquisa foi realizada com motoristas do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas reflete uma tendência em todo o Brasil. 

Recorrência

O que mais preocupa o Detran-DF é que os condutores têm utilizado mais o aparelho para digitar mensagens do que para conversar, o que tira mais ainda a  atenção. O diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do órgão, Silvain Fonseca, explica que o uso do celular é uma das infrações mais cometidas pelos motoristas do DF – só perde para excesso de velocidade e consumo de álcool. 

“Flagramos muitos condutores digitando mensagens enquanto estão dirigindo. Isso é ainda mais perigoso porque a desatenção no trânsito é maior. Os motoristas do Distrito Federal estão criando o péssimo hábito de passar mensagens quando estão em engarrafamentos. Enquanto digitam em um congestionamento, muitos condutores fecham os outros veículos, deixam o carro descer ou ir para a frente, resultando em colisões”, destaca.

Segundo Fonseca, até motociclistas são flagrados usando o celular enquanto estão no trânsito. “Já pegamos motociclistas que, inclusive, levantam o capacete para falar ao telefone. Outros param nos semáforos e passam mensagens, o que coloca em risco não só a vida deles, mas a de motoristas e pedestres”, afirma o diretor do Detran-DF.

Apesar dos riscos, prática é constante

O diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, Silvain Fonseca, informa   que há condutores que cometem uma série de infrações ao mesmo tempo, como consumir bebida alcoólica, usar o celular, ultrapassar a velocidade permitida e não usar o cinto de segurança, o que pode resultar em acidentes graves.

A pesquisa da  Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia  ouviu 1.020 pessoas e todas admitiram que desvios de atenção são capazes de causar acidentes. Além disso, 91% dos motoristas responderam que a desatenção pode levar a colisão com o veículo da frente ou a atropelamento de pedestres. Segundo o levantamento, os condutores mais jovens são os que mais falam ao celular dirigindo.

A estudante Ana Vasconcelos, de 22 anos, confessa que utiliza o celular quando dirige e que o uso é mais para enviar mensagens do que para ligações. “Mesmo sabendo dos riscos, eu mando mensagens enquanto dirijo. Geralmente digito quando estou em um engarrafamento ou quando o semáforo fecha. Tenho medo de bater o carro, mas a minha ansiedade não me deixa largar o celular. Apesar disso, nunca fui multada”, afirma.

Condutores persistem

Everton Carneiro, 27 anos, é supervisor de vendas e utiliza o celular o tempo inteiro por conta do trabalho. “Minha função exige o uso frequentemente e não tem como eu parar o carro a cada ligação que faço ou atendo. Quando estou parado em um sinal, mando mensagem. Hoje, todo mundo faz isso. Quem disser que não usa o telefone ao volante está mentindo. Eu entendo os riscos, mas faz parte do meu trabalho”, relata. Para ligações, Everton costuma usar, inclusive, fones de ouvido. Na semana passada, ele foi multado porque estava conversando no celular com os fones, o que também é proibido pela legislação de trânsito.

Mesmo sabendo dos riscos, os motoristas insistem em dirigir e usar o aparelho celular, como o gerente de loja Ivan Brito, 38 anos. “Uso o aparelho mais para ligações. Não utilizo para passar mensagens. Apesar do costume, nunca recebi multa”, conta. Questionado sobre possíveis consequências, o gerente reconhece que o aparelho tira a atenção e explica que a correria do dia a dia obriga as pessoas a utilizarem o telefone enquanto estão no trânsito.

Há quem condene o uso do aparelho no trânsito. É o caso da motorista Kelly Cristina Félix, 30 anos. Ela conta que já presenciou motoristas saindo da pista por estarem distraídos com o celular, além de ver várias batidas acontecerem pelo mesmo motivo. “Não uso o telefone enquanto estou no trânsito porque, além de ser proibido, é perigoso. É uma distração que pode causar acidentes e tirar a vida de outras pessoas”, explica.

Embriaguez

Há quem diga que usar o celular no trânsito é tão perigoso quanto dirigir alcoolizado. Segundo Wagner Nogueira, coordenador de campanhas da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), o risco de usar o telefone celular enquanto dirige não pode ser comparado com os efeitos de conduzir sob efeito de álcool.

Saiba mais

O motorista que fala ao celular enquanto dirige está quatro vezes mais propenso a se envolver em acidentes. Estudos demonstram que a pessoa que fala ao celular enquanto dirige tem sua atenção retardada em 50%, além de atrapalhar o manuseio da direção.

 Usar o celular ao volante é uma infração média, prevista no artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A penalidade para o infrator é de quatro pontos na CNH e multa no valor de R$ 85,13.

 
Álcool e celular são diferentes na direção
 Para o coordenador de campanhas da SBOT, Wagner Nogueira, dirigir embriagado ou usar o telefone ao volante não podem ser comparados. “O efeito da bebida é duradouro, e o celular não. Quem dirige alcoolizado perde o reflexo, enquanto que quem usa o celular continua com seus reflexos intactos. Porém, o problema do aparelho é que tira a atenção do condutor e, dependendo do assunto tratado, o motorista fica muito tempo envolvido, podendo ocasionar acidentes. Nem mesmo o uso do viva-voz resolve porque o motorista  pode ficar tão envolvido que praticamente se desliga do trânsito”, ressalta.
Para Nogueira, o objetivo da SBOT ao realizar a pesquisa é diminuir o número e a gravidade dos acidentes de trânsito. “Temos um compromisso social com base na educação permanente para evitar acidentes. O número no Brasil é muito alto, e  as vítimas sempre sofrem lesões que precisam ser tratadas e, muitas vezes, são sequelas irreversíveis. Para se ter uma ideia, por ano, a cada três vias brasileiras, há registro de 250 mortes por acidentes. Isso é fruto da falta de educação no trânsito, e o motorista quase sempre é o causador”, diz.

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