Jurana Lopes
Especial para o Jornal de Brasília
Depois de muita polêmica, a Secretaria de Saúde (SES-DF) cancelou um empenho de R$ 2,5 milhões, que seria pago por um tipo de material pouco utilizado na rede hospitalar, para fazer enxertos em cirurgias ortopédicas. A média anual de operações feitas com o produto é menor que dez. Já a quantidade comprada seria suficiente para, pelo menos, 50 anos. A pasta alega que o pedido de compra foi feito na gestão anterior.
O excesso de produtos foi notado quando a secretaria, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar contabilizaram todo o estoque da rede pública de saúde. Os produtos ficam estocados na Farmácia Central, localizada no SIA. A contagem começou no início do mês e deve terminar no final de junho. O objetivo é fazer uma melhor distribuição dos produtos.
Problema antigo
De acordo com Tadeu Palmieri, subsecretário de Atenção à Saúde, as aquisições em excesso se estendem há mais de 30 anos. “Sempre existiu o hábito de comprar uma grande quantidade de materiais para estocar. Essas compras nunca obedeceram um controle sensato. Com isso, acabam os materiais mais utilizados e ficam outros, que são menos usados, mas adquiridos na mesma quantidade dos que são mais necessários”, relatou.
Para o subsecretário, o que existe é uma falta de logística e organização. “Por isso, estamos fazendo a contagem de todo o material utilizado em cirurgias para depois distribuir aos hospitais conforme a necessidade”, explicou.
Segundo Palmieri, serão recolhidos todos os produtos de órteses, próteses e materiais especiais armazenados nos hospitais que fazem cirurgias ortopédicas, ficando apenas o suficiente para as emergências. Depois disso é que ocorrerá a redistribuição.
A finalidade do recolhimento, além de contabilizar, é organizar os materiais. Pois, em alguns hospitais, faltam determinados materiais, enquanto sobram em outros.
Informatização
O subsecretário argumenta ainda que a situação ocorre porque falta um sistema informatizado para registrar a utilização dos produtos. Atualmente, as cirurgias ortopédicas são feitas em oito hospitais regionais: de Ceilândia, Taguatinga, Gama, Santa Maria, Paranoá, Sobradinho e Planaltina.
R$ 40 mil em remédio desperdiçados
Com o excesso de produtos, muitos materiais acabam vencidos. Isso ocorreu com um tipo específico de placa usada para um exame pós-parto, o que causou um prejuízo de aproximadamente R$ 40 mil. Por causa disso, a Secretaria de Saúde pretende fazer compras escalonadas, ou seja, de acordo com as necessidades que forem surgindo.
“Precisamos economizar. Às vezes, existe um medicamento mais barato disponível, mas usa-se o mais caro. Só para ter uma ideia, o nosso maior gasto na rede é de um antibiótico chamado Anfotericina Lipossomal. São R$ 15 milhões anualmente. É essencial, mas não para todos os casos. Então, estamos reduzindo os estoques deles e oferecendo outros tão eficientes quanto, mas mais baratos”, explicou o subsecretário de Atenção à Saúde, Tadeu Palmieri.
Ele avisa que um “choque de gestão” é necessário, mas leva tempo. “Não é uma mudança rápida, que vai acontecer em três meses. Precisamos mudar o sistema de informática, contratar pessoal, buscar alternativas de logística”, enumera.
Segundo Palmieri, o objetivo é também dar transparência ao uso dos produtos: “Enquanto se tem dinheiro, não se percebe a deficiência. Mas, quando falta, é preciso gerir melhor. Temos que ter controle de estoque, saber para onde vai”.