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Brasília

Indústrias do DF têm realidade aquém do potencial

Arquivo Geral

25/05/2015 6h00

A indústria do DF é, em todo o Brasil, a que tem a menor participação na economia local. De acordo com relatório de 2014 da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o segmento contribui com apenas 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB) da capital, quase um quarto da média nacional. Como agravante, nunca houve políticas públicas relevantes para fortalecer o setor. Há  pelo menos 14 anos, o crescimento está estagnado e, de 2002 a 2012, a participação da indústria brasiliense no PIB local teve variação negativa de 0,3%.

O fato de ser a menor unidade da Federação, geograficamente, não pode ser desculpa. O presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Jamal Jorge Bittar, lembra que investimentos em tecnologia de ponta, por exemplo, podem trazer retorno e ocupar pouco espaço. “Em áreas de mil m², dá para produzir mais riqueza do que a indústria tradicional em 20 mil m²”, afirma.

A atual gestão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) admite a negligência com o setor nos últimos anos e diz que o momento é de buscar soluções junto aos empresários. O titular da pasta, Arthur Bernardes,  reluta a indicar os motivos para a situação, mas aponta o desvirtuamento de programas de incentivo, como o Pró-DF, como vilões. “Política de desenvolvimento, nos últimos 50 anos, não existiu. Devemos surgir com uma para depois falarmos em criação de polos e simplificação de processos (burocráticos)”, resume.

Quem sofre

A Refrigerantes Cerradinho está desde 2002 no Polo JK, zona na divisa de Santa Maria com Valparaíso, na Região Metropolitana do DF, que deveria servir exclusivamente para o desenvolvimento industrial da cidade. Se a empresa tivesse optado por se instalar cerca de 3 km adiante, em Valparaíso, as coisas poderiam ser mais fáceis hoje.

“Um dos nossos projetos de marketing é crescer no DF e aflorar sentimento de regionalismo nos consumidores, mas está cada vez mais difícil. Não podemos ficar com esse sonho se não conseguirmos competir com o vizinho que está a alguns quilômetros”, desabafa o diretor da empresa, Flávio Grillo.

Em Goiás, há uma série de programas de incentivo, como o Banco do Povo, que facilita o financiamento de equipamentos para a fábrica, e o Funmineral, que ajuda na expansão física dos negócios.

Falta de incentivos no DF

Há, em Goiás, até mesmo uma agência, a Goiás Fomento, criada por decreto, com papel de agente financeiro dos fundos de desenvolvimento industrial do estado.

A despeito da realidade oposta vivida no DF, a RefriCerradinho expandiu-se nos últimos 13 anos e produz, hoje, cerca de um milhão de litros de bebidas variadas por mês. O diretor, Flávio Grillo, conta que a carga tributária da capital não é tão diferente em relação aos vizinhos. O problema, para ele, é a “completa falta de incentivos”.

“Um plano de estímulo tem um caráter único, que é gerar competitividade para as indústrias. É um entendimento unânime e veio de fora. Incentivos fiscais, por exemplo, não são lucro para o empresário”, elucida Grillo.

Tentativas

O presidente da Fibra, Jamal Jorge Bittar, menciona tentativas recentes de melhorar a situação do empresariado como “limitadas e tacanhas”. O programa Ideas Industriais, por exemplo, lançado em 2013, deveria ter sido um marco, pois se propunha a financiar espaço físico e capital de giro para a indústria. A ideia era atrair empresas de fora e fortalecer o setor produtivo, mas falhou em seu propósito.

“O maior malefício é a falta de políticas públicas e a ausência do Estado como estimulador de verdade. Isso, por si só, gera prejuízo ao empresário”, afirma Bittar. “Não precisa ter ação pontual e negativa. A omissão provoca desequilíbrio na capacidade de produção”, diz.

Segundo ele, isso espanta indústrias para áreas em que o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é mais barato, onde há descontos no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para produtos e há condições de financiamento e linhas de crédito mais amigáveis, como Luziânia (GO) e Anápolis (GO). Essas cidades, diz, não são distantes e atraem o empresariado de maneira mais ostensiva do que o DF.

Bittar ainda credita o acanhamento do parque industrial à especulação do mercado de imóveis, responsável pelo aproveitamento indevido de algumas áreas de desenvolvimento. “O Setor Industrial do Gama é um grande canteiro de obras. Houve mudança na destinação dos terrenos e as indústrias foram se extinguindo. Virou investimento imobiliário”, critica.

“DF é o lugar ideal para atrais indústrias”

A fábrica de cimento da Votorantim, em Sobradinho, se instalou no DF devido à necessidade. É um empreendimento que vai para onde há pontos de mineração compatíveis. A empresa se vê beneficiada por estar próxima ao centro do poder, apesar de admitir a falta de incentivos. Parte da indústria da construção civil, a empresa compõe o setor mais forte da produção do DF, cerca de 4% do PIB.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Arthur Bernardes, acredita que a solução é olhar ao redor. Para ele, a salvação começa pelo fortalecimento da Região Metropolitana. “Os ônus de lá são nossos porque eles usam  serviços do DF. Do ponto de vista geográfico e econômico, o DF é o lugar ideal para atrair indústrias e fomentar a indústria”, sugere Bernardes.

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