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Brasília

Diferentes motivos para celebrar no domingo de Páscoa

Arquivo Geral

05/04/2015 6h30

A Páscoa chegou. É tempo de reunir a família, comer ovos de chocolate e o tradicional bacalhau de domingo. Mas não é só isso.  Os cristãos comemoram a ressurreição de Jesus Cristo. Os judeus, o fim da escravidão no Egito. Os  muçulmanos sequer acreditam na morte do profeta e, para os ateus, é apenas mais um feriado prolongado.  A celebração cristã é a mais difundida no Brasil. Mas nem todas as religiões que seguem a doutrina  comemoram da mesma forma. 

A festa católica valoriza o sacrifício de Jesus Cristo para livrar os homens do pecado, por meio de sua  crucificação e morte, e comemora sua ressurreição. Segundo o padre Lucas Fernando, da comunidade Obra de Maria, no Núcleo Bandeirante, a Páscoa celebra a passagem da morte para a vida e da escravidão para a libertação – uma referência aos judeus do Egito. “Mas o tripé do período pascoal é o jejum, a oração e a caridade”, afirma.  

ÊNFASE NA RESSUREIÇÃO

Os evangélicos também lembram o sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo, mas com “ênfase da ressurreição”, como explica a administradora evangélica Bruna Berigo, de 25 anos.

Ela, que pertence à igreja Avivamento da Fé, explica que tudo depende da “denoninação evangélica”. “Há várias igrejas e doutrinas um pouco diferentes. Mas não temos rituais como os católicos, exceto o jejum, que é praticado em qualquer época, e apresentações teatrais relembrando a história contada na Bíblia”, comenta.

“Não fazemos Quaresma (preparação católica para a Semana Santa, que envolve resguardo e penitência) ou Via-Sacra e também não deixamos de comer carne vermelha na sexta-feira”, completa. 

Liberdade

De acordo com o pastor Antônio Carlos Fernandes, o significado bíblico da Páscoa é bem diferente do comemorado na atualidade. “Na Bíblia, a Páscoa é a libertação do jugo dos egípcios. A ressurreição foi uma consequência da perfeição do Senhor, uma vez que ele não cometeu nenhum pecado, portanto, não poderia permanecer morto. E também, da Sua vitória sobre a morte. Mas as escrituras não dizem que a Páscoa é a comemoração da ressurreição do Senhor”, esclarece.

Para Fernandes, definir um sentido diferente do que Deus estabeleceu “é o mesmo que distorcer a Sua Palavra”.

Adventistas do sétimo dia seguem ritual

Os adventistas do sétimo dia também são cristãos e, portanto, celebram a ressurreição de Jesus Cristo, como católicos e evangélicos. A maior diferença entre essas religiões está nos rituais a serem seguidos. 

É costume dos adventistas participar de programações religiosas, como cantatas, na semana que antecede a Páscoa. 

No sábado, eles fazem uma ceia, uma referência à Santa Ceia, quando Jesus Cristo comeu pão e bebeu vinho com seus apóstolos. Durante a cerimônia, é realizado o ritual de lava pés. “Pessoas casadas lavam os pés dos parceiros. Os solteiros são separados entre homens e mulheres e uns lavam os pés dos outros, conforme Jesus fez com seus apóstolos. Depois, comemos um pão sem fermento e tomamos um suco de uva puro”, explica o adventista Wagner Carvalho, de 19 anos.  

Os adventistas não promovem atividades aos sábados e não consomem carne de porco ou álcool. Para este período, a única restrição alimentar obrigatória diz respeito ao  consumo de fermento durante a ceia. 


Pessach faz referência à libertação

A Páscoa judaica, chamada de Pessach,   celebra o fim da escravidão egípcia e é cheia de rezas e rituais, de acordo com a Torá, livro sagrado dos judeus. Outro ponto diferente é o tempo de duração. Enquanto a Páscoa cristã dura apenas um dia, o domingo, a judaica começa na data em que  foi celebrada a Santa Ceia:  este ano coincidentemente nesta sexta-feira,  e vai até o anoitecer do dia 11 de abril. 

Na Pessach, a Torá proíbe os judeus de consumirem grãos fermentados, chamados chamêts, de um dos cinco principais cereais – trigo, cevada, centeio, aveia ou espelta – ou seus derivados. A única exceção é a matsá (pão ázimo),   preparada com cuidados especiais. 

Santa Ceia

De acordo  com Hermano  Wrobel, presidente da Associação Cultural  Israelita de Brasília  (Acib), Jesus era judeu e no momento da Santa Ceia comemorava  a Pessach. Em alusão a este momento, a ceia do primeiro dia é uma das tradições.

“As famílias se reúnem e as crianças fazem perguntas sobre a história do nosso povo a seus pais. É  o  momento de relembrarmos o quanto nossos antepassados  foram perseguidos e nos orgulharmos por nossa cultura continuar forte”, diz.

Ele explica que o costume de não comer alimentos fermentados tem a ver com a história: “Na pressa de fugir do Egito para se livrarem da escravidão, os judeus deixaram o trigo para trás. Por isso não consumimos fermento na Páscoa”. 

No lugar dos cereais, há uma série de alimentos feitos com a matsá na ceia da primeira noite e outros que possuem significado para o povo judeu, como é o caso do ovo, que representa prosperidade; da água com sal, que relembra as lágrimas dos judeus escravizados, e do vinho kosher, feito com uva pasteurizada, que não fermenta.

Tradição envolve as crianças
Outra tradição interessante entre os judeus envolve a matsá. Na noite da ceia, o pão, que tem formato quadrado, é partido em três pedaços e o do meio é escondido em algum cômodo da casa para que as crianças o encontrem.
 “Há um livro, escrito em hebraico e português, que serve de roteiro para a época da Pessach. Mas, antes de mais nada, este é um momento de reflexão, para lembrarmos da nossa história e pensarmos em como utilizar nossa liberdade de maneira saudável na atualidade”, comenta Hermano  Wrobel, presidente da Associação Cultural  Israelita de Brasília  (Acib). 
 
JESUS NÃO MORREU
 
Diferentemente dos cristãos, os muçulmanos celebram a Páscoa no décimo dia do Muharram, primeiro mês do calendário islâmico. Como no judaísmo, a Páscoa islâmica comemora a libertação dos escravos israelitas do Egito. Apesar de reconhecerem Jesus como um profeta, que realizou milagres com o consentimento de Deus, os muçulmanos não acreditam que Ele tenha sido crucificado.
 
Segundo o professor universitário da Universidade Federal do Pará (UFPA) Said Mounsif, imam (condutor de orações) da comunidade muçulmana no Pará, existe uma divergência com relação ao que aconteceu com Jesus. “Enquanto católicos celebram sua ressureição como o principal milagre da igreja, os muçulmanos acreditam que Cristo não morreu. Após a última ceia, o profeta Jesus teria sido arrebatado, indo ao reino dos céus sem ser submetido ao calvário da crucificação”, explica.
 
Ainda assim, Mounsif incentiva muçulmanos convertidos a não perderem o contato com suas famílias de outras religiões durante a comemoração da Páscoa cristã. “A família, quando se reúne, é uma felicidade para a comunidade muçulmana”. 
 
SÓ MAIS UM FERIADO
 
Hélio Cunha é ateu. Para ele, a Páscoa não tem um significado especial. “Vejo as pessoas fazendo penitência, deixando de comer carne, se confessando. Acho bonita a mobilização e fé, mas eu não acredito”, diz. 
 
Isso não o impede de gostar da Páscoa. “É um recesso. Aproveito para viajar  e descansar. Este ano vou ficar por aqui mesmo, recarregando as baterias”, brinca.
 
Para Cunha, mais importante do que a crença  é respeitar as diferenças. “Não faço chacota com os rituais ou desdenho da fé de ninguém. Cada um acredita no que quer”, conclui.

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