A Páscoa chegou. É tempo de reunir a família, comer ovos de chocolate e o tradicional bacalhau de domingo. Mas não é só isso. Os cristãos comemoram a ressurreição de Jesus Cristo. Os judeus, o fim da escravidão no Egito. Os muçulmanos sequer acreditam na morte do profeta e, para os ateus, é apenas mais um feriado prolongado. A celebração cristã é a mais difundida no Brasil. Mas nem todas as religiões que seguem a doutrina comemoram da mesma forma.
A festa católica valoriza o sacrifício de Jesus Cristo para livrar os homens do pecado, por meio de sua crucificação e morte, e comemora sua ressurreição. Segundo o padre Lucas Fernando, da comunidade Obra de Maria, no Núcleo Bandeirante, a Páscoa celebra a passagem da morte para a vida e da escravidão para a libertação – uma referência aos judeus do Egito. “Mas o tripé do período pascoal é o jejum, a oração e a caridade”, afirma.
ÊNFASE NA RESSUREIÇÃO
Os evangélicos também lembram o sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo, mas com “ênfase da ressurreição”, como explica a administradora evangélica Bruna Berigo, de 25 anos.
Ela, que pertence à igreja Avivamento da Fé, explica que tudo depende da “denoninação evangélica”. “Há várias igrejas e doutrinas um pouco diferentes. Mas não temos rituais como os católicos, exceto o jejum, que é praticado em qualquer época, e apresentações teatrais relembrando a história contada na Bíblia”, comenta.
“Não fazemos Quaresma (preparação católica para a Semana Santa, que envolve resguardo e penitência) ou Via-Sacra e também não deixamos de comer carne vermelha na sexta-feira”, completa.
Liberdade
De acordo com o pastor Antônio Carlos Fernandes, o significado bíblico da Páscoa é bem diferente do comemorado na atualidade. “Na Bíblia, a Páscoa é a libertação do jugo dos egípcios. A ressurreição foi uma consequência da perfeição do Senhor, uma vez que ele não cometeu nenhum pecado, portanto, não poderia permanecer morto. E também, da Sua vitória sobre a morte. Mas as escrituras não dizem que a Páscoa é a comemoração da ressurreição do Senhor”, esclarece.
Para Fernandes, definir um sentido diferente do que Deus estabeleceu “é o mesmo que distorcer a Sua Palavra”.
Adventistas do sétimo dia seguem ritual
Os adventistas do sétimo dia também são cristãos e, portanto, celebram a ressurreição de Jesus Cristo, como católicos e evangélicos. A maior diferença entre essas religiões está nos rituais a serem seguidos.
É costume dos adventistas participar de programações religiosas, como cantatas, na semana que antecede a Páscoa.
No sábado, eles fazem uma ceia, uma referência à Santa Ceia, quando Jesus Cristo comeu pão e bebeu vinho com seus apóstolos. Durante a cerimônia, é realizado o ritual de lava pés. “Pessoas casadas lavam os pés dos parceiros. Os solteiros são separados entre homens e mulheres e uns lavam os pés dos outros, conforme Jesus fez com seus apóstolos. Depois, comemos um pão sem fermento e tomamos um suco de uva puro”, explica o adventista Wagner Carvalho, de 19 anos.
Os adventistas não promovem atividades aos sábados e não consomem carne de porco ou álcool. Para este período, a única restrição alimentar obrigatória diz respeito ao consumo de fermento durante a ceia.
Pessach faz referência à libertação
A Páscoa judaica, chamada de Pessach, celebra o fim da escravidão egípcia e é cheia de rezas e rituais, de acordo com a Torá, livro sagrado dos judeus. Outro ponto diferente é o tempo de duração. Enquanto a Páscoa cristã dura apenas um dia, o domingo, a judaica começa na data em que foi celebrada a Santa Ceia: este ano coincidentemente nesta sexta-feira, e vai até o anoitecer do dia 11 de abril.
Na Pessach, a Torá proíbe os judeus de consumirem grãos fermentados, chamados chamêts, de um dos cinco principais cereais – trigo, cevada, centeio, aveia ou espelta – ou seus derivados. A única exceção é a matsá (pão ázimo), preparada com cuidados especiais.
Santa Ceia
De acordo com Hermano Wrobel, presidente da Associação Cultural Israelita de Brasília (Acib), Jesus era judeu e no momento da Santa Ceia comemorava a Pessach. Em alusão a este momento, a ceia do primeiro dia é uma das tradições.
“As famílias se reúnem e as crianças fazem perguntas sobre a história do nosso povo a seus pais. É o momento de relembrarmos o quanto nossos antepassados foram perseguidos e nos orgulharmos por nossa cultura continuar forte”, diz.
Ele explica que o costume de não comer alimentos fermentados tem a ver com a história: “Na pressa de fugir do Egito para se livrarem da escravidão, os judeus deixaram o trigo para trás. Por isso não consumimos fermento na Páscoa”.
No lugar dos cereais, há uma série de alimentos feitos com a matsá na ceia da primeira noite e outros que possuem significado para o povo judeu, como é o caso do ovo, que representa prosperidade; da água com sal, que relembra as lágrimas dos judeus escravizados, e do vinho kosher, feito com uva pasteurizada, que não fermenta.