A graça foi alcançada no ano passado, mas Elaine de Aguiar, de apenas 12 anos de idade, não se esqueceu de pagar a promessa de subir o Morro da Capelinha de joelhos. O pedido que fez a Deus não foi pessoal, foi para a prima de 17 anos, hoje curada de uma pneumonia grave. “Ela é como uma irmã. Ficou em coma 30 dias e os médicos disseram que só um milagre para tirar ela daquela situação. Deus é misericordioso”, relatou emocionada a jovem, que conseguiu terminar o trajeto em pouco mais de uma hora.
Mas a adolescente não foi a única a demonstrar a fé por meio do sacrifício. Este é o quarto ano em que o cozinheiro Jarbas dos Santos, 39 anos, faz o percurso — de aproximadamente quatro quilômetros — apoiado nas mãos e joelhos. Tudo para manter a saúde da família e o emprego. “Deus nunca me deixou na mão”, disse, olhando para os céus e agradecendo mais um ano de graças alcançadas.
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Sentada em uma pedra perto do fim do percurso, onde está localizada a capela, Gilneiva Aparecida, 38 anos, chorava e abraçava a filha de 4 anos. Essa foi a primeira vez que a empregada doméstica subiu o morro. O motivo foi para agradecer a cirurgia de catarata da pequena Maria Vitória, que, além da doença congênita da visão, nasceu com paralisia cerebral. “Tento essa intervenção cirúrgica desde que ela tinha oito meses de idade e pedi essa graça para Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia — protetora dos olhos e da visão.”
O ator que representará Jesus pela segunda vez, logo mais na encenação da via-sacra, marcada para as 16 h, também estava orando na capela, localizada no cume do morro. Marcelo Augusto Ramos, advogado de 27 anos, afirmou que a encenação deste ano será igualmente maravilhosa como em todos os anos. “Entendemos a dificuldade financeira do governo. Toda a pessoa que tem fé em Deus e trabalha como voluntário neste grande evento religioso sabe que a falta de verba não iria nunca atrapalhar esse espetáculo de fé.”
Essa é a mesma opinião de um dos diretores do evento, Sebastião Borges Teles, ator voluntário há 28 anos. “Nunca fizemos essa encenação com menos de R$ 1,5 milhão, mas sabemos que o governo fez o que podia para nos ajudar com esses R$ 500 mil. Fizemos pedágio e vendemos camiseta para conseguir um dinheiro extra, e deu tudo certo”. O diretor ressaltou que os figurinos e os cenários do ano passado foram apenas reformados. “Tudo vai ser lindo com a ajuda do Divino Espírito Santo.”
Serviço
Entre as 6 h e 13h30 desta sexta-feira (3), passaram pelo Morro da Capelinha cerca de 20 mil pessoas e a expectativa é que, até o término da encenação, esse número chegue a 150 mil. A falta de água durante a subida não será problema. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) instalou por todo o trajeto do espetáculo 11 pontos de distribuição. De acordo com o supervisor de eventos do órgão, Raul Santos, foram disponibilizados 10 mil copinhos e 35 mil litros de água para os visitantes.
O coronel Anderson David de Moura, do comando-geral da Polícia Militar do DF, disse que 800 policiais farão a segurança no local. Além disso, o Corpo de Bombeiros está com 230 militares espalhados em cinco pontos do percurso e a Defesa Civil com cinco agentes em duas tendas. A Secretaria de Saúde também está com um espaço para prestar atendimento à população. Até as 13h30, ocorreram cinco atendimentos, entre eles, um por causa de escoriações no joelho e um desmaio por causa de pressão baixa; dois princípios de incêndio, rapidamente controlados; e a captura de uma cobra.
Detran
Por causa da via-sacra, nesta sexta-feira (3), o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), desde as 6 horas, controla o fluxo de veículos no Morro da Capelinha. O Detran coordena o tráfego das vias internas, do acesso e das áreas de estacionamento. Além disso, isola a área destinada ao estacionamento na Praça do Cruzeiro, localizada no topo da elevação, onde ficarão os postos de apoio dos órgãos da segurança pública e a imprensa. Durante o evento, além de 40 agentes de trânsito, o Detran disponibiliza 18 viaturas, um helicóptero, dois guinchos e uma empilhadeira.
