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Brasília

Remoção de barracos no Recanto das Emas continua nesta sexta

Arquivo Geral

20/03/2015 7h00

Mais de 390 construções irregulares foram derrubadas, na manhã de ontem, na região da fazenda Capoeira Grande, Recanto das Emas. De acordo com a Secretaria da Ordem Pública e Social  (Seops), a área, de 193 hectares, pertence a particulares e à  Terracap, mas começou a ser  parcelada indevidamente há cerca de 15 dias. Representantes da Frente Nacional de luta Campo e Cidade (FNL) são acusados pela Seops de invadir e  vender ilegalmente  as terras. Para piorar, a região é uma Área de Proteção Ambiental (APA). Hoje, os trabalhos continuam.  

Os invasores não apresentaram resistência. Não houve embate com a polícia ou registros de detidos. De acordo com o coronel Alexandre José da Silva, subsecretário da  Seops, o início dos trabalhos estava previsto para as 8h30. Porém, só após uma reunião entre o coronel Lemos, do Departamento Operacional da Polícia Militar, e os dirigentes da FNL, por volta das 10h30, é que os moradores teriam começado a deixar o local. 

“A operação visa a reintegração de posse da fazenda. Após a reunião, o coronel Lemos deu 30 minutos para que os moradores desocupassem a área e, felizmente, esta determinação foi atendida sem maiores incidentes”, disse Silva. 

Segundo ele, a maioria das pessoas que  ocupavam os lotes mora em casas da região. “Por isso eles retiraram suas coisas e foram embora pacificamente. Ninguém nos procurou para pedir ajuda governamental”, alegou. 

 Operação

A ação é uma iniciativa  da Seops,   Agência de Fiscalização (Agefis),  Delegacia Especializada em Meio Ambiente (Dema) e   PM. Ao todo, 422 homens da PM e do Corpo de Bombeiros, além de 78 funcionários da Seops, Agefis, Terracap, SLU e Caesb auxiliaram na operação.

 “Cerca de 2,5 mil barracos foram erguidos. Já derrubamos mais de 390 e trabalharemos até o pôr do sol”, afirmou Silva. Por ser uma APA, de Cerrado virgem, até uma cobra foi encontrada entre os escombros durante a ação.  Por volta das 12h30, as atividades foram paralisadas por alguns minutos, em função da forte chuva.

“Taxa de inscrição” custou R$ 30

Enquanto a operação acontecia, moradores corriam contra o tempo para retirar pertences e o material utilizado na montagem dos barracos. Mesmo debaixo de chuva, muitos deles carregaram, sozinhos, pedaços de madeira e lona. 

Os moradores afirmam ter pago uma “taxa de  inscrição”,  de R$ 30, à FNL. A tarifa seria para ajudar nos custos com ações do movimento, já que  dirigentes não teriam renda fixa. No comprovante de pagamento dado aos contribuintes, a taxa era discriminada como “doação”. Mas muitos deles  garantem que, se não pagassem, não conseguiam um pedaço de terra.  “Os dirigentes arrecadaram muito dinheiro com isso. Ouvi dizer que foram mais de R$ 35 mil em 15 dias”, contou o eletrotécnico Elieser Cassimiro,   28 anos.   

Afonso da Conceição, montador, 26, discorda do vizinho. “Eles não obrigavam ninguém a pagar a taxa. Além disso, não fugiram. Estão em negociação com o GDF para garantir nossas terras”, reclamou.

A dona de casa Maria das Dores,   31, foi buscar as coisas da irmã, que pagou a taxa  na esperança de conseguir um terreno. “Ela mora de aluguel em Alexânia (GO). Minha mãe vendeu um carro para   comprar esse terreno. Agora vim buscar o que sobrou. Mas acho que minha irmã acabará voltando para cá quando a polícia sair”, admite. 

Situação parecida com a de Evaldo Gonçalves da Silva, ajudante de obras, de 41 anos, que mora de aluguel em Samambaia. “Assim que a polícia sair eu volto. É a minha única chance de conseguir uma casa”.           

 Versão Oficial

A Seops informou que “a região onde ocorrem as retiradas fica perto de uma área de preservação ambiental, onde estão, ao menos, dez nascentes do Rio Bartolomeu”.  Segundo a pasta, “a Polícia Civil já avisou que pretende encaminhar peritos para avaliar se houve algum tipo de crime ambiental no local”. Sobre a propriedade das terras, a Seops explicou que “ área é objeto de disputa judicial entre a Terracap e particulares. A Terracap quer explorar comercialmente a região, enquanto  os particulares afirmam que as terras são públicas e pertencem ao DF. A reportagem tentou contato com integrantes da FNL, mas não obteve retorno.  Em sua página no Facebook, o grupo postou uma nota de repúdio à derrubada. No texto, a FNL afirma que com esta atitude “o governador eleito pelos pobres trabalhadores demonstra seu compromisso com a elite grileira de terras do DF”. A Frente Nacional ainda diz esperar que o governo reavalie  a decisão.

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