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Brasília

Programa de coleta seletiva completa um ano, mas cumpriu apenas 6,9% da meta de 10%

Arquivo Geral

15/03/2015 8h30

A Coleta Seletiva no Distrito Federal fez aniversário em fevereiro, mas o programa está longe de receber os parabéns. A meta para o primeiro ano era coletar 10% dos resíduos da região, mas apenas 6,9% das 175 toneladas previstas conseguiram ser recolhidas no ano passado e somente 2% foram para a reciclagem. Segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), houve falha na implementação do programa e muitos recicláveis são apanhados fora das condições.  

“Se me perguntasse uma nota, eu diria que não passamos de ano. Temos que estudar mais”, avalia Heliana Kátia Campos, diretora-geral do SLU, embora considere que houve um avanço na Coleta Seletiva. “Estamos analisando os pontos negativos e positivos e teremos que fazer diversas ações. Estamos muito longe do ideal e ainda não chegamos no razoável. Não podemos ter retrocesso”, ressalta.   

Ela classifica a forma com que o programa foi implementado como infeliz. “Não houve tempo suficiente para a população entender a Coleta Seletiva porque não é algo simples. É uma mudança cultural e leva tempo”, afirma. Para isso, seria importante que houvesse “uma educação constante, quase insistente em escolas, shoppings, locais de trabalho. Teve no início, mas não foi permanente. Pelo contrário, foi insuficiente”, afirma.

Ranking

A Coleta Seletiva separa as 31 cidades do DF  e a área rural em quatro lotes. Deles, apenas o primeiro ultrapassou a meta (veja a infografia): o núcleo formado por Brasília, Guará, Cruzeiro, Sudoeste/Octogonal e Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) teve índice de 102,8% da coleta de recicláveis. 

O planejamento inicial era de que 1,83 mil toneladas de lixo seco fossem recolhidos, mas o número chegou a 1,89 mil toneladas. A região rural também teve espaço de destaque no balanço anual do programa. O alcance foi de 93% da expectativa: apenas 36,28 toneladas a menos que o previsto inicialmente.  

O déficit mais amplo ficou por conta de outras nove cidades, incluídas no segundo lote, que tiveram desempenho de 32%. Foi recolhida menos da metade das toneladas previstas para o trecho composto por Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Gama, Samambaia, Santa Maria, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II e Park Way. A meta está ainda mais distante e, das 1,52 mil toneladas previstas, apenas 479,9 foram recolhidas. 

Qualidade dos materiais está abaixo do ideal

Apesar de a coleta ter sido de 6,9% e, portanto, ultrapassando a metade da expectativa, de 10%, o grande problema é a qualidade dos materiais. “Hoje, o resíduo vem muito misturado”, esclarece a diretora-presidente do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Heliana Kátia Campos. Assim, é grande a dificuldade de recolher apenas papelão, plástico, vidros e metais – os recicláveis – já que geralmente há restos de comida mesclados. Por isso, 70% do que é coletado vira rejeito. 

A diretora-presidente acredita que esse grande percentual de material rejeitado se dá tanto pela falta de cultura de reciclagem do brasiliense quanto pelo processo de coleta. Com a mistura de resíduos o material perde valor e o trabalho dos coletores é prejudicado.

Jornada

Todos os dias, equipes como a composta por Fábio Barroso, 33, Dorivan da Conceição, 29, e Antônio Rodrigues, 20, buscam o lixo seco em todas as cidades. Eles percorrem 26 quilômetros da parte norte de Águas Claras e dizem recolher uma média de cinco mil quilos diariamente. 

Recolhimento cheio de dificuldades

O  JBr.acompanhou um dia de trabalho de equipes que recolhem lixo pela cidade e as dificuldades ficam evidenciadas. Nos condomínios, há centenas de contêineres que separam ambos os tipos de lixos, mas poucos são aqueles que contém apenas recicláveis. Por isso, a equipe precisa remover cada saco individualmente para verificar se, no fundo, há algum tipo de lixo úmido. 

“Se não fosse tudo misturado, nós economizaríamos pelo menos duas horas por dia. Perdemos muito tempo conferindo todos os sacos”, revelou o catador Fábio Barroso. Porém, há condomínios que já têm o costume de separar. Na Rua 101 (de Águas Claras), por exemplo, encontraram um contêiner inteiro de materiais secos e apenas o viraram no caminhão – o processo durou poucos minutos, diferente do necessário quando os sacos precisam ser conferidos.

Na Rua das Figueiras, os recicláveis são reservados dentro do prédio, para que não sejam misturados. Outros dois problemas enfrentados pelos profissionais são o grande número de carros estacionados nas ruas, que impedem a passagem do caminhão, e a ação de catadores que rasgam os sacos a procura de bons materiais. 

Depois de cheio, o caminhão vai à Usina de Incineração de Lixo Especial, no P Sul, onde o peso é conferido, e partem para as cooperativas de reciclagem. Ali, todo o material é classificado, separado, compactado e segue para indústrias.

A cooperativa Recicle a Vida, em Ceilândia, recebe os materiais coletados pelo GDF desde o início e, de todos os mecanismos arrecadados, esse é o que tem pior retorno. O associado Cleusimar Andrade, 38, conta que a estrutura do local foi montada vislumbrando um convênio com o governo, mas “a Coleta Seletiva foi uma decepção”. 

Mas, apesar de considerar o início do projeto pouco interessante, o associado considera que “de pouco tempo para cá, a coleta tem melhorado”. Segundo ele, o SLU tem pegado firme com a empresa que faz a coleta.

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