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Brasília

Uso de focinheira ainda é ignorado por donos de cachorros no DF

Arquivo Geral

01/02/2015 8h15

A Lei Distrital  2.2095/1998 determina que donos de cães de grande porte coloquem coleira e focinheira em seus animais em locais públicos. Apesar disso, ataques de cães a adultos, crianças, a outros animais e até aos próprios donos continuam ocorrendo. Embora os momentos de fúria possam estar relacionados à personalidade, raça e tamanho do cão, a inobservância às regras ainda é a principal causa de incidentes. 

Um   episódio    recente  foi o de um cão da raça Bullterrier que atacou uma cadela Yorkshire, na Rua 4 Norte, em Águas Claras. O incidente ocorreu quando os donos passeavam com os cachorros pela quadra. Uma moradora da região diz ter visto o momento em que o Bullterrier, sem focinheira, atravessou a rua e mordeu de forma violenta o pescoço da cadela. 

A cena só teria cessado após o animal ser esmurrado pelo dono da Yorkshire  e por uma outra pessoa, que ajudou dando chibatadas no bicho. Acreditando que a cadela estava morta, o adolescente que estava com o Bulterrier, de aproximadamente 15 anos, teria ido embora sem prestar socorro. 

Sem tempo

O professor Paulo Geraldo Fernandes, 64, dono da Yorkshire Latifa, de 13 anos, diz não ter contado com tempo de salvá-la. “Antes que eu pudesse pegá-la no colo, ele a atacou. Mordia, soltava e voltava a morder. Eu cheguei a cair no chão tentando separá-los”, lembra.

Acostumado a passear com a cadela pela região, o professor conta que muitas pessoas choraram ao ver a cena. “Achei que ela estivesse morta porque estava com os olhos abertos e não se mexia. Foi uma senhora que também passeava com seu cão que viu que ela ainda respirava”, conta. 

“Outra vizinha me ofereceu carona até a clínica veterinária. Quando chegamos lá, a Latifa acordou. Ela sofreu escoriações no pescoço e precisou ser medicada com antinflamatório e soro”, lamenta Paulo Geraldo.

Nilza Aparecida Lopes, autônoma, 30, foi uma das pessoas que presenciaram o ataque. “Fiquei chocada com tamanha brutalidade. E se fosse uma criança no lugar da Latifa? Achei absurdo o dono do Bullterrier não ter prestado socorro”, conta. 

Sensibilizada, ela decidiu ajudar. “Ele estava com a cachorrinha no colo, desmaiada e com sangue na boca. Dei carona para eles”, relata.

Versões diferentes

Após o susto, Latifa passa bem e já se recuperou do ataque sofrido no fim do ano passado. O professor Paulo Geraldo Fernandes e sua esposa chegaram a procurar o  proprietário do Bulterrier, que seria pai do garoto que passeava com o animal no momento do incidente. “Ele visitou a Latifa na clínica,  mas se ofereceu para pagar apenas parte do tratamento, avaliado em mais de R$ 1 mil. Vamos registrar um boletim de ocorrência. Estou esperando conseguir mais testemunhas”, explicou. “O cão estava sem focinheira e sendo guiado por um garoto franzino”, concluiu.

O aposentado Maurício José, proprietário do Bulterrier, 44 , afirma que era ele, e não o filho, que passeava com o animal no momento do ataque. “É uma cadela, a Uly. Ela é mansa e costuma obedecer a nossos comandos, mas nesse dia saiu correndo arrastando a coleira. Não corri atrás dela porque estou doente”, explica. 

Segundo ele, Uly estava com a focinheira minutos antes do ataque. “Só que caiu quando ela começou a correr”, diz. “Cachorro é para nos dar alegria. Depois disso, não quero mais ficar com ela”, conclui.

Parcerias que acabaram de forma trágica

Outro caso que ganhou repercussão nos últimos meses foi o fim trágico da parceria entre um dono e seu cão, no Itapoã. O aposentado Miguel dos Santos Oliveira, de 82 anos, foi atacado no quintal de sua casa. A mordida atingiu o pescoço da vítima, que morreu minutos depois.  

De acordo com a filha de Miguel,  ele  não se sentia seguro onde morava, por isso  resolveu criar um casal da raça Pit Bull. Segundo a família, o cão, chamado Xeriscom, nunca havia atacado ninguém. 

No  Rio Grande do Sul,  outro ataque canino chocou o País. Uma mulher de 38 anos foi morta pelo próprio cão, também da raça Pit Bull, durante um assalto em Novo Hamburgo. Joana Keller Ott, de 38 anos, passeava com seu cachorro,  quando foi abordada por criminosos em uma motocicleta. 

Um dos bandidos teria anunciado o assalto e empurrado a mulher, que caiu no chão. Nesse momento, o cão teria se assustado e a atacou no pescoço. Ela morreu minutos depois.

Dono foi algoz

Em reportagem publicada no dia 15 de dezembro, o  JBr. também mostrou a prisão de um homem, de 24 anos, suspeito de esfaquear um cachorro no Setor Leste do Gama. 

De acordo com a Polícia Civil, quem prestou queixa foi a dona do animal. Segundo testemunhas, crianças invadiram o quintal da mulher para atirar pedras em seu cão, que avançou em um dos garotos para afastá-lo, mas não o machucou. 

Segundo a esposa do suspeito, no entanto, o marido matou o cachorro para defender o filho, de um ano. A criança foi encaminhada para o Hospital Regional do Gama (HRG), onde não teria sido constatada nenhuma lesão.

Entendimento da legislação

Segundo o Capítulo III, parágrafo 1º, da Lei Distrital 2.095 de 1998, é permitida a permanência de cães nas vias e logradouros “quando portadores de Registro Geral  Animal (RGA) e conduzidos com coleira e guia, por pessoas com tamanho e força necessários a mantê-los sob controle”. 

“Cães de grande porte, de raças destinadas a guarda ou ataque, usarão também focinheira quando em trânsito por locais de livre acesso ao público”, completa o parágrafo 2º. 

No entendimento do advogado Paulo Marcelo Borges, o inciso 1º não distingue o tamanho dos cães “o que leva a crer que todas as raças e tamanhos devem seguir essa ordem. Já no inciso 2º, entende-se que devem usar focinheira todos os cães das raças de guarda e ataque”.

O adestrador de cães Ubiratan Júnior orienta os donos a utilizarem a própria guia ou um pedaço de pau para  afastar o cachorro da vítima em caso de ataque.  “Se estiver  com a guia, enrole no pescoço do cão e puxe para trás. Um pedaço de pau ou cabo de vassoura também pode ser usado”, explica.

 Segundo o adestrador, o ideal é educar os cães para que sejam estáveis. “A maioria dos animais  agressivos não é maltratada, como muita gente acredita. Pelo contrário, eles são mimados e não têm limites. Assim como as crianças, eles precisam de referências, de liderança”, afirma.

 

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