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Brasília

Saúde da Família é líder em gastos, mas com baixa cobertura

Arquivo Geral

22/12/2014 7h01

Líder do ranking do gasto em saúde entre as unidades da Federação, com R$ 1.042,40 por pessoa ao ano, o Distrito Federal apresenta o pior desempenho de cobertura populacional de Estratégia Saúde da Família. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), 20,06% da população é coberta pelo programa. A Secretaria de Saúde questiona os dados e garante que, aqui, a taxa é de 25,48%, enquanto a média nacional é de 56,38%.

 O Ministério da Saúde tem um terceiro dado em relação ao atendimento da Saúde da Família no DF. De acordo com a pasta, há 234 equipes implementadas e a cobertura de 29% da população. 

O programa prevê o fortalecimento da atenção primária à saúde a partir da inserção de profissionais na comunidade, incentivando o acesso aos serviços da rede pública e a prevenção de doenças. Os agentes comunitários de saúde são os responsáveis pela intermediação. De maneira multidisciplinar e articulada, a ideia é de que eles acompanhem as famílias em visitas domiciliares, nos postos e espaços comunitários. 

Expectativa

Quando lançado, o programa previa a implementação  gradual, dividida em três etapas com perspectiva de que, em 2010, 356 equipes da Estratégia Saúde da Família fossem criadas, cobrindo 50% da população. Passados quatro anos, não foi o que aconteceu e, segundo o levantamento do CFM, o número de atendimento dos agentes também é o menor do País, com 237 equipes. 

Nos últimos quatro anos, a Estratégia de Saúde da Família teve uma expansão da cobertura populacional de aproximadamente 62%. Em 2010, eram 117 equipes e 15,74% de cobertura. “Em número de equipes houve um aumento de aproximadamente 102%” informou a Secretaria de Saúde, em nota.

“Atualmente, as nossas equipes estão completas e cobrem 25,48%. O ideal neste momento  seria de cobertura próximo a 70%, considerando que 30% da população tem planos de saúde”, pondera a subsecretária da Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Rosalina Aratani Sudo. 

Segundo ela, o dobro de pessoal já seria satisfatório, “mas em quatro anos, não tivemos concursos públicos para agente comunitário de saúde. Sem eles, não há como atuar”. 

A representante da pasta ressalta que a porcentagem diz respeito apenas à Estratégia Saúde da Família. “Temos 69,3% de cobertura de Atenção Primária à Saúde, que é a junção do trabalho das equipes com o dos centros de saúde tradicionais”, afirma. “A atenção primária teve uma evolução muito grande em termos de estruturação do serviço, melhorias dos locais e de equipamentos”, destaca. 

Saiba mais

O levantamento do CFM teve como ponto de partida relatórios resumidos de execução orçamentária do ano de 2013, enviados por todos os estados à Secretaria do Tesouro Nacional e disponibilizados pelo Ministério da Saúde. 

O Conselho Regional de Medicina (CRM) informou que  vem cobrando da SES “por meio de frequentes fiscalizações nas unidades de saúde, respostas urgentes aos inúmeros problemas que afetam a área”. 

O Programa Mais Médicos do Governo Federal trouxe 70 médicos para o Distrito Federal. O Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab) conta em 2014 com 26 médicos, sendo que todos estão atuando nas equipes de saúde da família.

Localidades vulneráveis

Atualmente, o Distrito Federal possui nove Clínicas da Família – Unidades Básicas de Saúde (UBS)  que recebem 41 equipes da Estratégia Saúde da Família. Um médico, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem e cinco agentes comunitários compõem cada grupo de Saúde da Família. 

Um dentista e um técnico em saúde bucal podem integrar o grupo. Cada equipe é responsável pelo cuidado da população cadastrada, que é composta por aproximadamente 3,5 mil pessoas, o que totaliza 125 mil beneficiados. 

Lugares

As equipes estão em 163 centros, clínicas e postos de saúde rurais e urbanos ou até mesmo em casas alugadas. 

De acordo com a subsecretária da Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Rosalina Aratani Sudo,  “os locais prioritários são os de maior vulnerabilidade, com riscos de adoecimento. Em termos geográficos, quanto mais distante do Plano Piloto, mais vulnerável é”.

Atendimento pode ser em domicílio

A subsecretária da Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Rosalina Aratani Sudo, explica que “as unidades ficam o mais próximo possível da moradia das pessoas. Assim, tanto elas podem ir ao local como os profissionais às residências”. Cada agente comunitário atende a 200 famílias e deve fazer pelo menos uma consulta por mês nas casas dos pacientes. 

Aratani destaca que todos os tipos de atendimentos são feitos, independentemente do ciclo de vida. “Mas não trabalhamos com especialidades. São feitas consultas, exames clínicos, verificação de pressão, teste de glicemia, eletrocardiograma ou solicitação de demais exames, quando há necessidade”, disse.

Para o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, os indicadores de saúde e as condições de trabalho revelam que a saúde não é uma prioridade.

 “Recentemente, um grupo ligado aos planos de saúde mostrou que os beneficiários de planos privados pagaram, em média, R$ 179,10 por mês para contar com a cobertura de seu plano. Isso representa cerca de R$ 2,15 mil por ano, quase o dobro do que os governos pagam pelo direito à saúde pública”, afirmou .

Gasto abaixo

No ano passado, o gasto per capita em saúde foi de R$ 1.098,75. O quantitativo, de acordo com a análise do CFM, está abaixo dos parâmetros internacionais e representa apenas metade do que gastaram os beneficiários de planos de saúde do Brasil no mesmo período. 

“Enquanto estados e municípios se esforçam para aplicar o mínimo previsto em lei, a União deixa de gastar, por dia, R$ 22 milhões que deveriam ser destinados à saúde pública”, criticou o presidente.

Atendimento

 Alexandrina de Andrade, 78 anos, foi ao Posto de Saúde da Família, no Riacho Fundo. Este é um dos 163 locais onde tem equipes de Saúde da Família no DF. Com pressão alta, a idosa foi consultada e recebeu o encaminhamento para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante.

Com uma deficiência na perna direita, ela usa um andador para ajudar na locomoção. “Eu sou bem atendida. Tem um doutor que gosto muito, mas ele está de licença. Ele ia lá em casa de vez em quando”, conta.

Ponto de Vista

Para Helena Eri Shimizu, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, a atenção básica à saúde no DF “até que melhorou muito, mas ainda é insuficiente”. Ela entende que há uma falta de priorização governamental relacionada a isso. “A porta de entrada da população no SUS deveria ser na atenção básica que, de forma eficaz, resolveria 80% dos problemas de saúde”, garante. 

Pacientes elogiam a praticidade

A pensionista Osmarina Bezerra, 49 anos, revela que já se consultou mais de uma vez no Posto de Saúde da Família do Riacho Fundo. Ela revela que a primeira impressão foi satisfatória. “O atendimento é bom e aqui costuma ficar vazio”, afirma.

Como não há hospital público no Riacho Fundo, essa é uma das saídas de quem precisa atendimento médico próximo de casa. A maior vantagem apontada pelos frequentadores é realmente a proximidade com a residência.   

Para a dona de casa Lídia Teixeira, 60 anos, a clínica vale a pena: “Vim marcar uma consulta para começar o acompanhamento. Aqui não costuma ser cheio e é próximo de casa. E, se descobrirem algum problema, encaminham pra UPA ou hospital. É ótimo! E ainda explicam tudo direitinho”, elogia.

Consultas

Funcionário público, Francisco de Assis, 49 anos, faz acompanhamento há quatro anos no posto por problemas de pressão arterial . “As consultas são iguais às dos hospitais, mas é mais perto de casa e menos cheio. O atendimento é bom, não tenho do que reclamar”, relata.

Enquanto a proximidade com as residências, o pouco movimento  e o baixo tempo de espera para o atendimento são vistos com bons olhos no Posto de Saúde da Família do Riacho Fundo, a poucos quilômetros dali, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante, pacientes sem gravidade esperavam por horas por atendimento. 

 Quantidade de médicos estava abaixo do ideal

A reportagem do Jornal de Brasília esteve na  Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante e recebeu a confirmação de que havia dois médicos da especialidade de Clínica Geral e três pediatras no local.

De acordo com a administração da UPA, o ideal é de quatro a cinco clínicos estejam presentes, mas há falta de profissionais no quadro. Mesmo assim, os dois seriam os únicos escalados na ocasião.

O serralheiro Diego do Nascimento, 21 anos, acredita que o problema não é a demanda de pacientes. “Não está cheio, só falta eles trabalharem”, critica. Por mais de quatro horas, ele esperou atendimento. 

No punho, a pulseira da cor verde evidenciava que o caso não era urgente. Com tosse e febre, ele reclama do descaso. “Não estamos aqui porque queremos. A pulseira é verde, mas também tem que ser atendido. Parece que tem que estar morrendo para ver o médico”, diz.

Quando questionado sobre o programa Saúde da Família, ele confessa não estar por dentro do assunto. “Até conheço, mas só por notícias. Nunca estive em uma clínica nem fui procurado nem tiveram em minha casa. A atenção básica não parece ser importante”, destaca. 

Classificação

Quem chega à UPA faz uma ficha e passa pela Classificação de Risco. A pulseira vermelha é para emergências, sem risco de morte; a laranja para casos muito urgentes, com risco de perda da função de órgão; amarela, cuja condição do paciente pode se agravar sem atendimento; e a verde, para casos não urgentes.

 

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