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Brasília

Se chover, melhor se preparar para a falta de energia

Arquivo Geral

19/12/2014 7h00

Do altar para a cozinha. Desde o início do período chuvoso no Distrito Federal, as velas de dona Ana Moura, que antes serviam para os momentos de oração, se tornaram ferramentas importantes nos afazeres de casa. O motivo: quedas de energia. A falta de luz, conta a moradora do Cruzeiro Velho, é recorrente quando chove. E o caso não é isolado. Além da aposentada, outros brasilienses também vêm sofrendo com as interrupções no sistema elétrico. Só ontem, a Companhia Energética de Brasília (CEB) recebeu 299 reclamações por serviços, ou seja, mais de 12 por hora.  Anteontem, foram 554.

 Na 213 Norte, a situação ainda é problemática. Moradores do Bloco D relatam que as frequentes quedas de energia estão dando prejuízos. O prédio inteiro deverá pagar R$ 15 mil em reparos no sistema elétrico. Até agora um dos elevadores não voltou a funcionar. O aquecedor, que leva água aos apartamentos, também queimou. Caso seja necessário trocar o aparelho, a despesa aumenta para R$ 22 mil. Soma que afeta   o bolso dos residentes, com incremento de taxas extras  do condomínio. 

 “Aqui sempre acontece isso. Chove, falta luz. Horas e horas sem luz. Dessa última vez, ficamos praticamente três dias sem energia elétrica. Tem gente que perdeu a geladeira. Não tem eletrodoméstico que aguente”, diz o zelador do bloco, Paulo Sergio, 32 anos. Há dez anos trabalhando no prédio, ele afirma que a quadra é uma das principais afetadas  porque o sistema elétrico no local ainda é   aéreo, em vez de subterrâneo. “Estamos atrasados. A CEB já deveria ter feito isso”, reclama. 

 Moradora do bloco, a servidora pública Leonor Barbosa,   57 anos, conta que o filho, residente de Medicina no HUB, teve que concluir os trabalhos na casa da avó. “Ele tinha várias coisas para fazer e não conseguiu, porque a luz não voltava. É uma situação absurda”, diz. Além disso, depois das últimas chuvas, a geladeira da casa teve problemas. O painel   queimou. “Não pode ter uma nuvem pesada no céu que cai a energia. Isso é rotina aqui. A gente já fica esperando que a luz acabe. Prepara as velas, separa as lanternas. É assim”, ressalta. 

 Com problemas nas pernas e coluna, ela conta que teve dificuldades para sair do apartamento nos últimos três dias. “Não posso ficar subindo escada. Já fiz até cirurgia. Dói mesmo”, salienta. 

Outra preocupação de Leonor com a recorrente queda de energia é a segurança dos condôminos, pois o portão da garagem fica aberto quando falta luz. “Aí, você vai lá fora, e vê o mato imenso. Um bandido vem se escondendo, entra na garagem e faz o que quiser com as pessoas. É muito perigoso”, critica. 

Companhia aponta situação   atípica
 
 Procurada pela reportagem, a Companhia Energética de Brasília (CEB)  respondeu que “problemas de falta de energia com as chuvas não acontecem somente no Distrito Federal”. A assessoria disse também que as falhas no sistema elétrico em parte da cidade são decorrentes da “chuva atípica que alagou prédios e redes subterrâneas de energia. Algo que há muito tempo não presenciávamos na capital”.
 
  Questionada também sobre o emprego de verba em melhorias, a companhia disse apenas que o ocorrido “em nada tem a ver com falta de investimentos”. Desde a chuva que provocou os alagamentos, destacou a assessoria de imprensa, “a CEB Distribuição foi às ruas com toda a sua equipe de manutenção, até quem estava de folga trabalhou para solucionar os problemas. O tempo de espera dos moradores deveu-se à gravidade deles”.
 
Não é normal
 
 Para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), interrupções no fornecimento de energia não devem ser consideradas normais. Além disso, a CEB têm a obrigação de ressarcir os consumidores pelas falhas, responsáveis pelo posicionamento da concessionária no ranking de desempenho das distribuidoras. A companhia de Brasília foi considerada a quinta pior empresa de energia de grande porte do País em 2013. 
 
Compensações
 
 Só neste ano, CEB já gastou R$ 3,3 milhões em compensações de continuidade para o consumidor. Em 2013, a quantia chegou a R$ 9 milhões. Os valores são estabelecidos de acordo com os indicadores de continuidade individuais, que revelam a duração (DEC) e a frequência (FEC) nas interrupções no fornecimento de energia de acordo com os limites estabelecidos pela agência. 
 
 “Quando há transgressão desses limites, a distribuidora deve compensar financeiramente o consumidor em até dois meses após o mês de apuração do indicador. Ressalta-se que a quantidade de pagamentos efetuados não é necessariamente igual ao número de consumidores compensados, uma vez que um mesmo consumidor pode ser compensado mais de uma vez no ano”, explicou a assessoria de imprensa da Aneel.
 
Demora para atender chamado
 
 “Eu cheguei em casa, fui ligar o computador, mas o modem e o adaptador estavam queimados por conta da queda de energia”, relata Flávio Moura,   35 anos, morador  do Cruzeiro. “As fiações são bem antigas. Moro aqui desde meu nascimento e não lembro de elas terem sido trocadas. Acho que isso é o primeiro problema e o segundo é a questão da quantidade de funcionários da CEB para atender as demandas”, aponta. 
 
 Na região, que também teve casas invadidas pela chuva da última terça-feira, também é comum a queda de energia. “As velas já ficam separadas quando começa a chover. A gente já sabe que vai faltar luz. Ficamos preparados”, diz a aposentada Alzinete dos Santos, de 66 anos. A dona de casa não teve objetos queimados porque “se preparou para o pior”, como ela mesmo afirma. “Já tiro tudo da tomada. Não deixo nada”, salienta. 
 
 Enquanto as quedas continuam acontecendo com frequência, dona Ana Moura, mãe de Flávio, ora para que a saga da energia termine logo. “Desta última vez, ligamos umas dez vezes para a CEB. A justificativa é sempre a mesma: é muita demanda para poucos funcionários. Então, penso, tem que resolver esse problema”, defende. 
 
Prejuízo
 
Na   214 Norte, a dona de um café  Léa Texeira,   36 anos, calcula os prejuízos. “Perdi pão de queijo, frios, picolés,   sorvetes.  E o que mais nos incomoda não é a última chuva   nem a recente queda no sistema. O problema é ser recorrente”, ressalta. Ela diz   que quem arca com as despesas, infelizmente, são os proprietários dos estabelecimentos. “São pelo menos R$ 10 mil desta vez. Ontem, não abrimos. Então, não lucramos”, afirma.
 

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