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Brasília

Sequestro em hotel: dia difícil de esquecer

Arquivo Geral

01/10/2014 6h50

Ary Filgueira e Jéssica Antunes

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José Aílton de Sousa, 48 anos, tinha acabado de entrar no trabalho quando um hóspede do 13º andar do hotel Saint Peter, no Setor Hoteleiro Sul, pediu sua presença em um dos apartamentos. Foi recebido com um revólver apontado para a sua cabeça. “A partir de agora, senhor Aílton, você é meu refém”, disse o homem,  mais tarde   identificado como Jac Souza dos Santos.  

A cena e as oito horas de tensão vividas na última segunda-feira dificilmente se apagarão da memória.  “Foi o dia mais difícil da minha vida até hoje”, afirma o morador de Novo Gama (GO),  na Região Metropolitana, a 37 km do local do trabalho. Mesmo diante da ameaça de um atentado, ainda agiu com solidariedade e pediu a liberação dos colegas rendidos primeiro.

Um dia depois de ter vivido o pior drama da vida, José Aílton abriu as portas de casa para a reportagem do JBr..   Apesar da fisionomia cansada, ele contou os detalhes do sequestro para mais uma equipe de jornalismo. Alías, o dia foi assim: “Um entra e sai da imprensa”, afirmou ele. 

Centenas em risco

José Aílton, que faz bico de garçom quando está de folga do hotel, disse que pensou que  tratava-se de um assalto quando Jac apontou a arma. Mas logo percebeu que a situação era mais grave quando o suspeito ordenou que vestisse o colete com os falsos explosivos. Em seguida, o algemou e determinou que o hotel fosse esvaziado. Naquele dia, lembra o mensageiro, havia 400 hóspedes. 

Pai de dois filhos e avô   de duas crianças – o mais novo com dois anos -, ele disse que não parava de pensar na família. Sentiu um misto de pânico, medo, aflição. Mas que foi se transformando em coragem no decorrer do tempo. “Queria passar tranquilidade  a ele. Como pareci calmo, fui me acalmando também”, descreveu.

Mesmo tendo chance de desarmá-lo por várias vezes nas oito horas em que eles ficaram no quarto, José Aílton contou que temeu por sua vida e pela das outras pessoas que estivessem próximas dos explosivos que o sequestrador afirmou ter espalhado pela cidade. “Ele falou que tinha na Rodoviária do Plano, na Interestadual, Aeroporto, além do colete”, pontuou. 

Mas a tranquilidade demonstrada pelo sequestrador passou para José Aílton. O humor de Jac só oscilava   quando ele olhava para a janela e, segundo a vítima, via os policiais. Mesmo com a experiência de ter trabalhado com explosivos no garimpo, ele não desconfiou que as bananas de dinamites eram réplicas das verdadeiras. 

Tensão tomou conta de quem estava perto

Se para   os  funcionários e hóspedes do hotel Saint Peter o dia   foi permeado de tensão, para quem trabalha próximo ao local não foi diferente. A recepcionista dos Correios  Elizângela Batista, 34, prédio que fica ao lado, define a situação como “surreal, inacreditável”. “Eu até achava que os explosivos eram reais, mas não fiquei com medo. Era como um filme de ação”, analisa. Ela conta que aproveitou a situação para tirar fotos com celebridades que estavam hospedadas no hotel, como os irmãos Minotauro e Minotouro, lutadores do MMA.

Apesar do vendaval de emoções, ontem, a rotina dos funcionários parecia ter voltado à normalidade. “Nem tem sinal do que aconteceu aqui. É como se nem tivesse nada”, diz a recepcionista.

“O cara é louco”, afirmou o taxista Edvar Ferreira da Silva, de 57 anos. Há 15 anos, ele trabalha no ponto ao lado do Saint Peter e revela que “foi a situação mais estranha que vi nesse setor”. A vantagem, diz, foi o aumento no número de corridas no dia do acontecimento. “Muitas pessoas queriam ir embora”, diz.

Para o também taxista Frank Maia, 33, foi frustrante receber a notícia de que a arma e a bomba eram falsas. “O cara vai ter uma pena pequena. Ele passou o dia inteiro incomodando todo mundo, deveria ficar mais tempo preso”, opinou. 

Da  oração à redenção

Ainda que a situação  estivesse tranquila, José temia que algum   atirador de elite arriscasse acertar o sequestrador e errasse o tiro, fazendo com que ele detonasse as bombas. “Nesse momento, rezei muito para Nossa Senhora Aparecida”, lembra ele, que é católico.

Faltavam quatro minutos para as 16h  quando Jac resolveu se entregar. “Ele pediu uma bandeira do Brasil. Mas o negociador explicou que só a entregaria pessoalmente. Isso o deixou enfurecido”, afirma. “Mas eu o acalmei dizendo que o policial só estava fazendo o seu trabalho”, emenda. 

No fim, Jac se aproximou  e disse: “Olha, seu Aílton, você não precisa se preocupar porque esse armamento é uma réplica”. “Tive vontade de agredi-lo. Mas senti pena dele. Deus dê outra vida para ele”.

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