Bastou a Copa do Mundo acabar para as campanhas políticas começarem a todo vapor. Um pouco antes de o assunto tomar força nas ruas, as eleições impulsionaram um mercado específico: a indústria gráfica. Apesar das novas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que prometem mudar o perfil dos negócios, empresários esperam um aumento de até 30% nas vendas de panfletos, placas e cartazes.
Estimativas declaradas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostram que os políticos estão dispostos a investir alto. As previsões oficiais preveem gastos de até R$ 143 milhões com campanhas no DF, o que corresponde a R$ 776 por voto. Isso sem contar com as doações, não registradas.
Mais caro
E os candidatos podem preparar o bolso, pois de acordo com Antônio Carlos Navarro, superintendente do Sindicato das Gráficas (Singraf- DF), o perfil do produto gráfico para as eleições de 2014 mudou, o que deve aumentar em até 70% os custos com material para campanha.
“As determinações do TSE reduziram a quantidade de produtos disponíveis e elevaram o custo dos serviços. Com a proibição para colagem de cartazes em área pública e previsão de multa para quem jogar papel nas ruas, por exemplo, muitos têm preferido encomendar cartazes móveis, que ficam em tripés e são mais caros”, explica. Ele diz ainda que a procura pelos famosos “santinhos” – pequenos panfletos com foto, nome e número – também caiu.
De acordo com Navarro, diante das novas regras, os candidatos têm procurado alternativas, como a impressão de folderes e livretos para mala direta – propaganda entregue por meio virtual ou postal.
Segundo ele, as campanhas demandam a indústria gráfica de forma pontual, não pulverizada. Isso porque a maioria dos partidos contrata apenas uma empresa. “As pequenas gráficas quase não são contatadas para este tipo de trabalho porque lhes falta infraestrutura técnica. E, quando são, exigem pagamento antecipado. Essa prática visa evitar a inadimplência, já que muitos candidatos gastam mais do que poderiam e depois não têm dinheiro para pagar”, alega.
Demanda já foi maior
No ramo gráfico há mais de 20 anos, Antônio Eustáquio, dono da Gráfica Qualidade, em Taguatinga Sul, já fez trabalhos para políticos renomados. Ele espera um aumento de 15% a 30% nas vendas durante o período eleitoral, mas diz que os negócios já estiveram melhores.
“Nas eleições passadas as vendas aumentavam até 60% nesse período. Chegávamos a recusar contratos porque não conseguiríamos atender a todos dentro do prazo. Mas as novas determinações do TSE mudaram o perfil dos trabalhos. Os cartazes padrão, por exemplo, só podem ser colocados no interior das propriedades privadas, o que fez com que a procura por eles diminuísse bastante”, afirma.
Segundo Eustáquio, os negócios nesse ramo dependem muito da estrutura das empresas, do conhecimento técnico e das indicações. “Possuo uma carteira de clientes que conhecem meu trabalho e voltam a me procurar em todo ano de eleição. Também me preparo meses antes, comprando papel e tinta extras, e possuo máquinas de ponta, que imprimem até 15 mil folhetos por hora. Isso barateia o custo dos serviços”, garante.
Inadimplência
Apesar do alto padrão dos clientes, Eustáquio não está livre da inadimplência. “Normalmente exijo que os clientes com os quais estou trabalhando pela primeira vez que paguem antecipado. Ainda assim, em todas as eleições levo calotes homéricos. Já tive prejuízos de mais de R$ 100 mil. Alguns políticos pagam atrasado, sem juros, mas acho melhor receber uma parte do que não receber nada”, lamenta.
Segundo o empresário, a exigência de nota fiscal ajudou a reduzir a inadimplência. “Assim, tenho como provar que fiz um trabalho para determinado político e, caso ele não me pague, posso registrar uma reclamação junto ao TSE”.
Reflexo
O cientista político e sociólogo Rócio Barreto acredita que até 45% dos votos conseguidos por um candidato são fruto de um bom trabalho de publicidade, propaganda e marketing.
“O material impresso ajuda a tornar o candidato e suas propostas conhecidas, o que provavelmente não seria possível, em um curto período de tempo, por meio de uma abordagem de porta em porta”, argumenta.
Pode haver mudança nas regras
O Projeto de Lei do Senado 268/ 2011, apresentado como conclusão dos trabalhos da Comissão de Reforma Política, impediria as empresas privadas de doar às campanhas até 2% de seu faturamento bruto obtido no ano anterior à eleição. Com a mudança, caberia ao Tesouro Nacional depositar os recursos em uma conta no Banco do Brasil em nome do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por fazer a divisão do dinheiro entre os partidos de acordo com sua representação no Congresso.
Acostumados com campanhas eleitorais cada vez mais caras, os partidos políticos terão de apertar o cinto se o financiamento público entrar em vigor nas eleições de 2016, como indicam os primeiros votos do Supremo Tribunal Federal (STF). Para se ter uma ideia, se a regra já estivesse em vigor, as campanhas deste ano para presidente, governador, senador e deputado (federal, estadual e distrital), orçadas em R$ 4,9 bilhões, teriam de ser produzidas com pouco menos de um quarto desse valor, aproximadamente R$ 1,15 bilhão.
Desigualdade
Para o cientista político e sociólogo Rócio Barreto, a proposta de financiamento público de campanha, nos moldes atuais, favorece apenas os grandes candidatos. “Os partidos administrariam a verba e beneficiariam os candidatos que acreditam que têm mais chances de serem eleitos. Se houvesse uma agenda, com um percentual previsto para cada candidato, seria muito mais justo”, conclui.
Ele analisa ainda que o perfil do eleitor mudou muito desde as últimas eleições, em 2010, o que exige adequação dos candidatos. As redes sociais, ressalta, são um bom meio de interação com o eleitor.