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Brasília

Gráficas do DF lucram com a disputa eleitoral

Arquivo Geral

24/07/2014 7h20

Bastou a Copa do Mundo acabar para  as campanhas políticas   começarem a todo vapor. Um pouco antes de o assunto tomar força nas ruas, as eleições impulsionaram um mercado específico: a indústria gráfica. Apesar das novas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que prometem mudar o perfil dos negócios, empresários esperam um aumento de até 30% nas vendas de panfletos,  placas e cartazes. 

Estimativas declaradas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostram que os políticos estão dispostos a investir alto. As previsões oficiais preveem gastos de até R$ 143 milhões com campanhas   no DF, o que corresponde a R$ 776 por voto. Isso sem contar com as doações, não registradas.

Mais caro

E os candidatos podem preparar o bolso, pois de acordo com Antônio Carlos Navarro, superintendente do Sindicato das Gráficas   (Singraf- DF), o perfil do produto gráfico para as eleições de 2014 mudou, o que deve aumentar  em até 70%  os custos com material para campanha. 

“As   determinações do  TSE reduziram a quantidade de produtos disponíveis e elevaram o custo dos serviços. Com a proibição para colagem de cartazes em área  pública  e previsão de multa para quem jogar papel nas ruas, por exemplo, muitos   têm preferido encomendar cartazes móveis, que ficam em tripés e são mais caros”, explica. Ele diz ainda que a  procura pelos famosos “santinhos” – pequenos panfletos com foto, nome e número – também caiu.

De acordo com Navarro, diante das novas regras, os candidatos têm procurado   alternativas, como a impressão de folderes e livretos para mala direta – propaganda entregue por meio virtual ou postal.  

Segundo ele, as campanhas   demandam a indústria gráfica de forma pontual, não pulverizada. Isso   porque a maioria dos partidos contrata apenas uma empresa.  “As pequenas gráficas quase não são contatadas para este tipo de trabalho porque lhes falta infraestrutura técnica. E, quando são, exigem pagamento antecipado. Essa prática visa evitar a inadimplência, já que muitos candidatos gastam mais do que poderiam  e depois não têm dinheiro para pagar”, alega. 

Demanda já foi maior

No ramo gráfico há mais de 20 anos, Antônio Eustáquio, dono da Gráfica Qualidade, em Taguatinga Sul, já fez trabalhos para políticos renomados. Ele espera um aumento de 15% a 30% nas vendas durante o período eleitoral, mas diz que os negócios já estiveram melhores. 

“Nas eleições passadas as vendas aumentavam até   60% nesse período. Chegávamos a recusar contratos porque não conseguiríamos atender a todos dentro do prazo. Mas as novas determinações do TSE mudaram o perfil dos trabalhos. Os cartazes padrão, por exemplo, só podem ser colocados no interior das propriedades privadas, o que fez com que a procura por eles diminuísse bastante”, afirma.

Segundo Eustáquio, os negócios nesse ramo dependem muito da estrutura das empresas, do conhecimento técnico e das indicações. “Possuo uma carteira de clientes que conhecem meu trabalho e voltam a me procurar em todo ano de eleição. Também me preparo meses antes, comprando papel e tinta extras, e possuo  máquinas de ponta, que imprimem até 15 mil folhetos por hora. Isso barateia o custo dos serviços”, garante.

Inadimplência

Apesar do alto padrão dos clientes,  Eustáquio não está livre da inadimplência.  “Normalmente exijo que os clientes com os quais estou trabalhando pela primeira vez que paguem antecipado. Ainda assim, em todas as eleições levo calotes homéricos. Já tive prejuízos de mais de R$ 100 mil.  Alguns políticos   pagam atrasado, sem juros, mas acho melhor receber uma parte do que não receber nada”, lamenta.

Segundo o empresário, a exigência de nota fiscal ajudou a reduzir a inadimplência. “Assim, tenho como provar que fiz um trabalho para determinado  político e, caso ele não me pague, posso registrar uma reclamação junto ao TSE”.

Reflexo

O cientista político e sociólogo Rócio Barreto  acredita que até 45% dos votos conseguidos por um candidato são fruto de um bom trabalho de publicidade, propaganda e marketing. 

“O material impresso ajuda a tornar o candidato e suas propostas conhecidas, o que provavelmente não seria possível, em um curto período de tempo, por meio de uma abordagem de porta em porta”, argumenta.

Pode haver mudança nas regras

O Projeto de Lei do Senado 268/ 2011, apresentado como conclusão dos trabalhos da Comissão de Reforma Política, impediria as empresas privadas de doar às campanhas até 2% de seu faturamento bruto obtido no ano anterior à eleição. Com a mudança, caberia ao Tesouro Nacional depositar os recursos em uma conta no Banco do Brasil em nome do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por fazer a divisão do dinheiro entre os partidos de acordo com sua representação no Congresso.

Acostumados com campanhas eleitorais cada vez mais caras, os partidos políticos terão de apertar o cinto se o financiamento público entrar em vigor nas eleições de 2016, como indicam os primeiros votos do Supremo Tribunal Federal (STF). Para se ter uma ideia, se a regra já estivesse em vigor, as campanhas deste ano para presidente, governador, senador e deputado (federal, estadual e distrital), orçadas em  R$ 4,9 bilhões, teriam de ser produzidas com pouco menos de um quarto desse valor, aproximadamente R$ 1,15 bilhão. 

Desigualdade

Para  o cientista político e sociólogo Rócio Barreto, a proposta de financiamento público de campanha, nos moldes atuais, favorece apenas os grandes candidatos. “Os partidos administrariam a verba e beneficiariam os candidatos que acreditam que têm mais chances de serem eleitos. Se houvesse uma agenda, com um percentual previsto para  cada candidato, seria muito mais justo”, conclui.

Ele analisa ainda que o perfil do eleitor mudou muito desde as últimas eleições, em 2010, o que exige adequação  dos candidatos. As redes sociais, ressalta, são um bom meio de interação com o eleitor.

Saiba mais
 
Em outubro de 2013, a Câmara dos Deputados concluiu a votação da chamada Minirreforma Eleitoral (Lei 12.891/2013). Na ocasião, os parlamentares decidiram proibir que as propagandas eleitorais fossem veiculadas por meio de faixas, placas, cartazes ou bandeiras em bens particulares. Em locais públicos, como postes de iluminação e viadutos, também havia sido vetada qualquer propaganda eleitoral, inclusive com a utilização de bonecos. 
 
A exceção ficaria por conta das bandeiras, folhetos e adesivos. Sendo que os últimos seriam permitidos, desde que tivessem dimensão máxima de 50 por 40 centímetros.  
 
No último dia 24 de junho, porém, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a Minirreforma Eleitoral não seria aplicável às Eleições Gerais de 2014. A maioria do Plenário (quatro votos a três) concordou com a divergência inaugurada pelo ministro Gilmar Mendes em voto-vista. Segundo o ministro, a nova lei não pode valer para estas eleições por ter sido aprovada em dezembro de 2013, ou seja, menos de um ano antes da data de realização do pleito, que ocorrerá em 5 de outubro. Conforme o artigo 16 da Constituição Federal, “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”.
 
Números
 
143 milhões de reais são as despesas previstas com campanha no DF
 
776 reais é a média de gastos previstos por eleitor
 
70% pode chegar o aumento do gasto com os materiais gráficos

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