Quando acidentes envolvendo motociclistas vêm à tona, reacende a discussão a respeito do tráfego das motos pelos corredores. Ontem, mais um condutor ficou ferido em colisão com carro na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e, dez dias antes, um policial militar morreu em Taguatinga. O sargento Carlos Augusto dirigia entre os carros quando caiu e foi atingido por um caminhão, que não teve tempo de frear.
De janeiro a abril deste ano, 31 condutores de motos morreram em acidentes na cidade, segundo o Detran. O número segue a média dos últimos quatro anos. São de sete a oito motociclistas mortos por mês desde 2010. Proporcionalmente, o envolvimento de motociclistas em colisões fatais também segue um padrão há sete anos. Nos quatro primeiros meses do ano, 39 veículos participaram desse tipo de acidente, sendo aproximadamente dez por mês.
“A falta de atenção explica quase todos os acidentes ocorridos no DF, especialmente aqueles que envolvem motos”, avalia o especialista em trânsito Luiz Miúra. O ex-diretor do Detran é convicto de que o uso de corredores é um dos grandes problemas de tráfego de motos, “mas a fiscalização não multa por isso. Muitos entendem que esse procedimento é inviável, mas eu entendo que é possível multar”. No ano passado, o Congresso rejeitou um projeto de lei que previa a proibição do tráfego pelo corredor.
Acidentes
O motociclista Ozanir Oliveira Santos, 27 anos, se envolveu em dois acidentes enquanto trafegava no corredor nos últimos seis meses. No primeiro, ele conta que andava a 60km/h em uma rodovia, velocidade normal da pista. Naquele dia, a chuva era intensa e um caminhão o jogou para cima de outro carro. “Felizmente, não tive lesões graves”, conta, aliviado.
Em abril, assim que seu veículo saiu do conserto do último acidente, Ozanir seguia no corredor quando, “de repente, um motorista abriu a porta do carro. Não deu tempo de frear porque já estava muito perto”. Novamente, ele não teve nada além de escoriações leves. Apesar disso, ele se considera prudente. Há 17 anos andando de moto, contabiliza “apenas três acidentes”.
“Casos como o do PM são assustadores, mas não tem como a gente parar de andar no corredor”, defende Ozanir. Segundo ele, vale a pena enfrentar os riscos para chegar mais rápido aos destinos. Esse é o discurso de muitos outros condutores.
Neste ano, 25 mortes em rodovias
Quanto às rodovias, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o primeiro semestre de 2014 registrou 53,6% menos acidentes envolvendo motociclistas que o mesmo período do ano passado. Foram 109 colisões, com 26 pessoas gravemente feridas e três mortes nas vias que cortam o DF.
Apenas na BR-020, que passa, por exemplo, por Sobradinho, há o registro de 37 batidas que deixaram quatro pessoas gravemente feridas. Quase metade dos incidentes nas rodovias federais foi provocada por falta de atenção, diz a PRF. Já nas rodovias distritais, houve 22 acidentes com morte envolvendo motos apenas nos cinco primeiros meses do ano, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem. Somadas as mortes nas rodovias distritais e federais, são 25.
Mudança de hábito
O motociclista Welisson César, 26 anos, ficou seis meses parado por conta de uma colisão enquanto trafegava a aproximadamente 150km/h. Ele quebrou o tornozelo e a clavícula, ficou um mês internado e outros cinco em casa. Ele não usava equipamentos de segurança além do capacete e admite que “se tivesse usando botas, não teria quebrado o pé”.
Agora, ele diz não usar mais o corredor, especialmente quando os carros estão em movimento. Para Welisson, os motociclistas devem ter o dobro de atenção. “Quem se envolve em um acidente desse tipo ou fica com medo ou vende a moto. Eu não vendi, então evito andar pelos corredores”, completa.
Ponto de vista
Na avaliação de Artur Morais, especialista em trânsito, andar nos corredores é muito perigoso. “O caso do policial não é o primeiro nem será o último, mas há mais repercussão quando há morte. Se formos levar o Código de Trânsito ao pé da letra, esse tipo de tráfego é proibido. Não se deve e não se pode percorrer entre os carros quando eles estão em movimento, mas, na prática, é o que mais acontece”, considera. Ele lembra que a situação é mais complicada quando a motocicleta está entre caminhões e ônibus, já que os veículos maiores deslocam mais ar e a queda é quase inevitável.