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Brasília

Demanda é urgente: faltam 115 mil casas

Arquivo Geral

30/01/2014 7h00

Brasília é uma cidade que vem sendo “invadida” desde os anos 1960. Primeiro pelos candangos, que de moradores provisórios viraram fixos; depois pelos servidores públicos, transferidos de seus postos de trabalho em suas cidades de origem; e atualmente por quem busca melhores oportunidades de emprego, entre tantas outras razões. A procura por quem é de fora, somada à demanda interna,  fez com que o déficit habitacional da capital fosse o único dentre as metrópoles do País a apresentar aumento percentual nos últimos sete anos, 13,6%, segundo  o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso representa a falta de mais de 115 mil domicílios no DF.

“A demanda habitacional é urgente”, sentencia o vice-presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), Eduardo Arueira. Ele acredita que isso torna o atual momento muito bom para investir na compra de imóveis. “A tendência é de que os preços voltem ao normal mais para o fim do ano. Houve estabilização principalmente em 2013 por causa da entrega de muitos empreendimentos e a alta oferta, mas isso deve mudar por conta da burocracia em aprovar projetos”, explica.

Longe do centro

“O déficit habitacional está sendo força motriz da expansão metropolitana da nossa área”, diz o diretor do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Brasília (UCB), Frederico Barboza, . “Muitas pessoas saem do Plano Piloto para áreas mais afastadas, devido ao alto custo de vida do centro. Samambaia, por exemplo, já está encostando na divisa de Goiás”, pondera.

O Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-DF) faz coro à avaliação do especialista: “Brasília detém os imóveis mais caros do Distrito Federal, restando como opção mais em conta as regiões administrativas e a Região Metropolitana, onde temos maiores índices de valorização”.

Os resultados disso se refletem, também, na invasão de área pública. “Já temos a maior aglomeração de favelas da América Latina. É um dos indícios do crescimento da cidade”, diz o professor Frederico Barboza, em referência ao Sol Nascente. “Esse crescimento é baseado em uma busca e aposta do cidadão de todo Brasil. Eles acreditam que vindo a Brasília conseguirão elevar a qualidade de vida”, completa.

Saiba Mais

Uma das localidades que os corretores mais indicam o investimento é o Setor Noroeste, cujo metro quadrado custa cerca de R$ 10 mil.

Um dos fatores que torna o Noroeste atrativo é a atual falta de estrutura ao redor. “Quando estiver instalada, os preços tendem a aumentar”, disse o vice-presidente da Ademi, Eduardo Arueira.

Na outra ponta estão os moradores de rua. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) calcula que existam 2.500 pessoas em situação de rua no DF, com base em pesquisa da UnB.

Se é mais distante,  preço é mais acessível

Jéssica Duque Zanotti, farmacêutica de 23 anos natural de Vitória (ES), fez a mesma transição geográfica de milhares de moradores de Brasília. Seu namorado, hoje marido, Luiz Delboni, se mudou para o Distrito Federal depois de um tempo de relacionamento e, após um ano separados fisicamente, ela decidiu acompanhá-lo. “As opções eram ele voltar para o Espírito Santo ou eu vir a Brasília. Era melhor eu vir, porque aqui tem mais oportunidade profissional”, revela a jovem, que ainda pretende estudar para concurso, opção frequente entre os recém-chegados ao DF.

O casal morou por um tempo em um apartamento de 28 metros quadrados no Sudoeste, mas decidiu se mudar para Águas Claras depois de encontrar um imóvel com mesmo preço de aluguel, mas quase o triplo do tamanho. “Nosso corretor ainda nos disse para não comprar nada agora porque os preços vão baixar e é melhor esperar para investir”, conta.

O vice-presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), no entanto, tem visão diferente. Ele acredita que quanto mais cedo a família adquirir imóvel próprio melhor.

Pelas beiradas

O presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), Rafael Oliveira, afirma que o déficit habitacional só está expressivo na capital pois foi a última unidade da Federação a iniciar o programa Minha Casa, Minha Vida, que atende pessoas com renda de até três salários-mínimos. “Só a partir de 2011 que se iniciou o planejamento da construção de unidades de habitação”, esclarece.

“Tivemos 375 mil pessoas inscritas no programa habitacional. Porém, mais de 60% dos cadastros são de jovens de até 30 anos que moram com os pais, ainda não têm núcleo familiar próprio, mas já apontam para o governo: ‘Olha, demandaremos casas no futuro’”, explica Rafael. “Continuaremos a desenvolver as políticas para atender a essa demanda na medida do possível”, conclui o chefe da Codhab.

Itens usados para cálculo

O déficit habitacional não é um índice constatado exclusivamente por falta de estoque de moradias, mas por pelo menos outros três fatores. “Na década de 1990, o déficit era calculado só por precariedade do lar e coabitação, que é quando duas famílias dividem o mesmo espaço mas uma delas deseja se mudar”, informa o técnico do Ipea, Cleandro Krause.

“O conceito foi desenvolvido quando precisou-se utilizá-lo como medidor para política habitacional. Hoje são levados em conta também ônus excessivo com aluguel, que é quando a família gasta mais de 30% de sua renda domiciliar com aluguel, e adensamento, quando três ou mais pessoas dividem o mesmo cômodo da casa”, completa.

Políticas

Segundo Rafael Oliveira, da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), existem políticas públicas que tentam atacar o problema por cada uma dessas quatro características. “Para enfrentar o problema de estoque e coabitação foi criado o programa Morar Bem”, explica o presidente. “Temos avançado na questão de regularização também. Em 2014 devemos entregar pelo menos 50 mil escrituras para quem recebeu lotes do governo pelo programa Regularizou, é seu”, conclui Oliveira.

Os dados devem ser atualizados em outubro deste ano. O governo acredita que o déficit reduzirá e o mercado vai se estabilizar por conta própria. “Se você tem uma política habitacional como a nossa , que constroi 100 mil unidades, você reduz esse índice, pois essas pessoas beneficiadas já moram no Distrito Federal”, acredita o presidente da Codhab.

Ponto de Vista
“A prioridade do governo é mais fomentar a indústria do que acomodar a população”, critica o professor Frederico Barboza. Ele acredita que a necessidade de moradias não deve fazer o governo ser descuidado ao investir nas cidades. “Em Águas Claras, por exemplo, o discurso é de que ainda há quase metade da cidade para ser construída. Só que quando você sai por lá de manhã, você tem dificuldade de se locomover, vagões de metrô estão lotados. Será mesmo que ainda cabe o dobro da população atual por lá? Do ponto de vista de infraestrura, o governo não está preocupado com mobilidade urbana, nem abastecimento de água nem saneamento ao expandir as cidades”, finaliza.

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