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Brasília

Menores infratores: armados, cruéis e impiedosos

Arquivo Geral

10/01/2014 7h05

Uma ficha criminal que assusta.  Aos 17 anos, um adolescente, morador de Planaltina, confessa ser o responsável por seis assassinatos – quatro ocorridos neste ano. José (nome fictício) teria cometido  cerca de 33% dos crimes registrados na região durante a primeira semana de 2014. O cenário ilustra a participação cada vez maior de crianças e adolescentes no mundo do crime.

José foi apreendido ontem pela 31ª DP. Segundo a polícia, o adolescente era um conhecido traficante da área e executava suas vítimas com requintes de crueldade. “Ele   atirava na cabeça e descarregava toda a munição   nas vítimas. Se ainda assim elas permanecessem vivas e esboçassem alguma reação, ele as atropelava”, relata o delegado-chefe   Érico Vinícius Mendes.

De acordo com os policiais, o acusado e um comparsa, da mesma idade, foram abordados  durante uma tentativa de homicídio a uma jovem de 14 anos. Eles acreditavam que a garota   transmitia informações a rivais do   Arapoanga.

Ao avistar a adolescente caminhando,  o acusado sacou um revólver e disparou    nove vezes. A bala que a acertou, por sorte, ficou alojada entre o couro cabeludo e o crânio. Ela   já recebeu alta   hospitalar. O garoto já havia tentado matar a menina dias antes, no domingo. 

Confissão

A polícia chegou ao suspeito por meio de denúncias anônimas. Depois da exposição dos indícios, o rapaz teria confessado a autoria dos   homicídios. Em comum há o fato de que quatro  das seis vítimas   residiam no Arapoanga. 

 Érico   Mendes  explicou que os crimes tinham motivações variadas. “Mas normalmente eram por acerto de contas, rixas entre grupos rivais e vingança”, afirma.

O jovem vai cumprir medidas socioeducativas por tentativa de homicídio e porte de arma. Ele já havia sido apreendido   sete vezes por tráfico de drogas, receptação, desacato a autoridade, lesão corporal e disparo de arma. Agora, pode ficar internado por até  três anos. “Mas o Estatuto da Criança e do Adolescente é muito falho. Ele  não fica mais de 45 dias preso. E quando completar a maioridade, ainda volta a ser considerado réu primário”.

Região com dez facções

Além dos homicídios, Planaltina, onde   vivem mais de 230 mil pessoas, contabilizou um latrocínio, uma tentativa de roubo e sete tentativas de assassinato até a última segunda. Segundo a Polícia Civil, mais de dez facções dividem o domínio da área. Entre elas estão as gangues do bairro Jardim Roriz, Quadra 2, Quadra 14 e Pombal. 
“Não chegam a ser organizações criminosas complexas, os motivos dos crimes variam, muitas vezes são rixas pequenas, por disputa de poder. No Brasil, o acerto de contas é uma coisa cultural. As pessoas estão acostumadas a resolver os problemas no tiro”, diz o delegado     Érico Mendes.
A população, por sua vez, não se sente   segura.  A dona de casa Claudia Gomes,  21 anos,   se mudou para a região há apenas dois meses e, em função da criminalidade, já pensa em ir embora. “Depois das 18h ninguém sai de casa”.
Ponto de Vista
O presidente da Comissão Criminal da Ordem dos Advogados do Brasil do DF (OAB-DF), Alexandre Queiroz, destaca que o problema da criminalidade envolvendo menores ocorre em âmbito nacional. Segundo ele, se cria uma cultura violenta que não está necessariamente atrelada a  classes menos favorecidas. “O fator de condição social não é mais predominante. O que faltam são políticas públicas para que se diminuam os índices de criminalidade, como investimento em educação, saúde e trabalho com a família”, esclarece.
Queiroz considera que a solução não é reduzir a maioridade penal. Segundo ele, uma das alternativas para se coibir práticas criminosas entre adolescentes seria aumentar em até o dobro o tempo da medida socioeducativa. “Ao invés de o menor  ficar internado por três anos, ele ficaria seis. Caso não tivesse condição de conviver  em sociedade, depois desse tempo ele poderia ficar internado em um espaço adequado para atendimento psicossocial e educacional. Na educação, deveria haver ensino integral em todas as escolas da rede pública”.
Adolescente atirou em brigadeiro
É cada vez mais frequente a presença de menores em crimes no DF. Inclusive, no caso da morte do brigadeiro reformado da Aeronáutica, João Carlos de Souza, 66 anos. Um adolescente de 16 anos, com perfil violento e  sem qualquer arrependimento, é apontado como autor do disparo. Ele já tinha passagem pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) por receptação.
Segundo a polícia, ele não mede as consequências da ação criminosa e atira cruelmente contra as vítimas. Dessa vez, pôs fim à vida do militar porque o brigadeiro supostamente não teria obedecido ao comando de descer do veículo. 
Fuga depois do crime
Após o crime, os acusados fugiram  em alta velocidade no carro que estava sendo dirigido pelo soldado da Aeronáutica, Gesse de Souza. Ele não teria saído do veículo, aproveitando o tempo que os outros praticavam o crime para poder manobrar o carro e deixar numa posição que facilitasse a fuga.  Um dos presos e o menor estavam no banco de trás. Na frente estava o acusado foragido.
A ação
No dia do crime, o menor de idade teria sido convidado a participar  do latrocínio pelo soldado da aeronáutica Gesse de Souza Rezende, 21 anos. O militar  teria organizado o crime e foi quem teria dirigido o próprio veículo que deu cobertura para a ação.  Outros dois suspeitos também foram indicados como autores do crime: Felipe Gonçalves da Silva Souza, 19 anos, e um quarto participante que encontrava-se foragido até o fechamento dessa edição. Três envolvidos estão presos.
O brigadeiro da reserva foi surpreendido pelos suspeitos, que estavam em um Gol vermelho, por volta das 22h25 do último dia 3. O homem chegava à garagem do bloco J da 112 Sul logo depois de deixar alguns parentes em um hotel na Asa Sul. Ele tinha ido buscar os familiares no aeroporto. Todos participariam do casamento da filha dele, que seria no dia seguinte. 
A vítima teria começado a ser seguida pelos suspeito minutos após abastecer o veículo em um posto de combustíveis na 411 Sul. O alvo seria o veículo do militar: um I30, ano 2012. 
O tiro
A Polícia Civil afirma que a ação dos suspeitos durou cerca de 20 segundos. Ao acionar o portão da garagem do prédio residencial, João Carlos foi abordado, ainda dentro do veículo, pelo adolescente que teria descido do carro acompanhado pelo homem ainda foragido. O menor de idade teria dado o comando para a vítima sair do I30. O militar não reagiu. Entretanto, em razão do susto, teria pisado de leve no acelerador do automóvel. A atitude foi interpretada como reação pelo menor de idade, que apertou o gatilho do revólver calibre 32. A bala atingiu a nuca de João Carlos. Vizinhos chamaram o socorro.
Gangues
 Em São Sebastião, os grupos de menores que se reúnem para cometer crimes preocupam a população. Em setembro do ano passado, três estudantes do Centro de Ensino Fundamental 3 (CEF) foram mortos a tiros em uma rua próxima à escola. Na ocasião, uma professora  disse que “é comum haver  brigas que acabam em tiroteios e assassinatos nas proximidades do colégio e   é difícil identificar quem participa ou não das organizações criminosas”. 
Em novembro, mais homicídios. Quatro jovens, entre 16 e 25 anos, foram mortos em um intervalo de 24h, em função de rixas entre gangues. 
Em dezembro, nove pessoas, de um mesmo grupo, foram presas pela 31ª DP.  
Segundo dados da Secretaria de Segurança, em  2013, 163 pessoas sofreram tentativas de homicídio e 81 foram assassinadas em São Sebastião.
 
Especializado em roubar carros
Policiais da 1ª DP (Asa Sul) começaram a investigação do caso da morte do brigadeiro e identificaram impressões das palmas das mãos dos suspeitos no veículo da vítima. 
A história foi recomposta pelas filmagens das câmeras de prédios residenciais e comerciais próximos ao bloco onde o crime aconteceu. Desde então a polícia pesquisava o histórico de automóveis da mesma marca utilizados para cometer o latrocínio no DF. 
Outros crimes
O caso  começou a ser desvendado depois da prisão do adolescente na região do Gama, na última terça-feira. O menor de idade fazia parte de um grupo formado por pelo menos oito pessoas que praticam roubo de veículos nas áreas do Plano Piloto, Taguatinga e Águas Claras. Ele foi capturado pela polícia depois de praticar um sequestro relâmpago na QNL de Taguatinga, com outros dois homens que não tiveram relação com o latrocínio de João Carlos. 
Por causa da arma que o adolescente utilizava e em razão dos objetos encontrados na casa do menor de idade, equipes da 20ª DP (Gama) desconfiaram que o garoto poderia ter participação no crime da 112 Sul. 
O menor foi encaminhado à DCA I e os comparsas conduzidos à 1ª DP. Após a elucidação do envolvimento do adolescente no crime da 112 Sul, ele acabou confessando ter atirado no militar. Segundo a delegada-chefe da DCA I, Viviane Bonato, o garoto disse que foi convidado pelo soldado da Aeronáutica a participar da tentativa de latrocínio no mesmo dia do crime, por volta das 19h. Todos moravam no Gama. 
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