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Brasília

Crime sem castigo para estelionatário do Guará

Arquivo Geral

07/01/2014 7h40

Em vez de arma de fogo, um discurso envolvente. Característica principal de um tipo de crime que parece desafiar os limites da ousadia: o estelionato. Quem o pratica costuma ser ardiloso, bem articulado e conta com repertório verbal sofisticado. É o caso do golpista Luís Ricardo Caetano de Souza, que aos 25 anos de idade já conta com extensa ficha criminal. Ele é suspeito de ter pegado as chaves de um imóvel localizado na QE 5 do Guará e o alugado para quatro pessoas. De todas elas, recebeu pagamento adiantado. O caso foi mostrado em primeira mão pelo Jornal de Brasília no último domingo. Ele foi identificado, mas continua foragido.

Para aplicar o golpe, Luís teria ido  à imobiliária, localizada no Guará, onde pegou a chave do imóvel, foi ao local, tirou fotos e anunciou o imóvel na internet, na última quinta-feira, por um preço muito abaixo do mercado: R$ 1,3 mil por uma residência de três quartos e reformada. Em poucos dias, o acusado encontrou com os interessados e fechou contratos falsos.

De acordo com a filha do real proprietário do imóvel, que não quis se identificar, a possibilidade de pagar tão pouco fez com que as vítimas não enxergassem os riscos. “As pessoas ficaram cegas com o preço. Não tem lógica pagar esse valor em uma casa no Guará”, disse. Segundo ela, os mecanismos usados pelo golpista eram duvidosos. “Ele não pediu fiador. Pegou um contrato que sequer foi autenticado e pediu para as pessoas assinarem. Em um dos casos, ele chegou a levar o contrato na casa da pessoa”, disse.

Novas medidas

O proprietário da casa diz que as imobiliárias deveriam ter mais cautela no momento de entregar as chaves. “Elas também têm participação em garantir a segurança. A partir do momento que recebem um percentual da locação, não é certo se eximirem”, pontua. Apesar da crítica, ele ressalta que o problema afeta todo o mercado imobiliário. “Em Brasília é comum. Todas as imobiliárias agem dessa forma. Acho que a mudança deveria ser coletiva”, diz.

A advogada da Thaís Imobiliária, Clarissa Guimarães, ressalta que a prática de entregar as chaves para que o interessado visite o imóvel é usual. “É de praxe em todas imobiliárias. Não há acompanhamento de nenhum funcionário. Porém, depois disso, podemos estudar outras medidas para evitar”, relata.

A equipe de reportagem tentou falar com a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), mas não conseguiu contato até o fechamento dessa edição.

Dicas

Desconfie quando uma proposta for muito fácil.

Se algo está fora do preço de mercado, suspeite da procedência. 

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Ponto de Vista

Para o advogado especialista em Direito do Consumidor João de Souza Fernandes, o estelionato é  um delito de difícil solução. “Por usarem documento falso e mudarem de endereço, é difícil achá-los. Como não há um objeto material, é preciso  demonstrar a materialidade com depoimentos”, relata. Ele destaca que flagrante também é difícil por causa do uso do documento falso. “A pena é muito branda, de um a cinco anos. Isso faz com que esse tipo de crime se torne um atrativo. É  a chance de o criminoso faturar uma quantia relevante em um curto espaço de tempo”, aponta. O advogado ressalta que o perfil das vítimas é variado. “Tem gente que chega a perder tudo o que tem. Todas as classes sociais podem cair na lábia de um golpista. Além disso, o estelionatário parece não ter limites, faz o que for preciso para ter o que deseja”, garante.

Vítimas deste caso não são as primeiras

De acordo com o delegado da 4ª DP (Guará), Rodrigo Pereira Larizzatti, o golpista é velho conhecido da polícia. “Ele já está identificado e aplicou o mesmo golpe em outros estados, mas em Brasília foi a primeira vez”, afirma. Entretanto, mesmo com a identificação, não há garantias de prisão. “Por conta de uma política criminal, o estelionatário geralmente responde ao processo em liberdade”, explica.

O delegado ressalta que o desejo de obter vantagens é a principal característica das vítimas enganadas pelos golpistas. “Os indícios são claros, mas a pessoa só pensa em não perder a oportunidade que parece irrecusável”, salienta.

Larizzatti ressalta o poder de convencimento desse tipo de criminoso. “São pessoas agradáveis e passam a impressão de que não são capazes de cometer crime. Dificilmente usam de violência”, alertou.

Segundo o delegado, os golpistas usam vários documentos falsos. “Os estelionatários se especializam em alguns tipos de crime. Para não serem capturados, mudam de endereço com frequência”, destaca.

Inédito 

Segundo o delegado Pedro Luís Moraes, assessor da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), a locação falsa de imóveis não é comum no DF. “Existe muito golpe na internet. Mas a atuação física do criminoso, de ir lá e mostrar o imóvel, eu nunca vi”, disse. “As pessoas caem porque têm ingenuidade. Mas quando a esmola é demais, o santo desconfia”, diz o delegado.

 

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