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Brasília

No Hospital de Base, superlotação e falta de médicos são alguns dos problemas, mostra relatório

Arquivo Geral

02/07/2013 10h30

Maior unidade de saúde pública do Distrito Federal, o Hospital de Base atende pacientes com diversas necessidades – sejam pessoas com consulta marcada ou até vítimas de acidentes graves. A realidade do hospital, no entanto, não é nada animadora. Superlotação no pronto-socorro, falta de profissionais e equipamentos quebrados são os principais problemas. Este foi o resultado de um relatório feito por  entidades como o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina. Reportagem sobre o maior hospital do DF abre uma série do Jornal de Brasília que vai mostrar a situação das unidades públicas. 

 

As vistorias que embasaram o relatório foram feitas também pela Ordem dos Advogados do Brasil do DF (OAB-DF),   Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF), Conselho Regional de Farmácia (CRF-DF) e Sindicato dos Médicos (Sindimedico-DF). As visitas foram no ano passado e de lá para cá, apontam pacientes, pouca coisa mudou. Apesar de o relato de quem depende da unidade indicar que a situação é alarmante, o Governo do Distrito Federal alega que as informações contidas no relatório já não correspondem mais à realidade.

 

Superlotação

 

Em 16 de abril de 2012, foi constatado que havia 191 pacientes no pronto-socorro – número quase  duas vezes maior do que   a capacidade máxima, de apenas 96 vagas. A média de pessoas internadas, de acordo com os funcionários, girava em torno de 170. Além disso, havia deficit de técnicos de enfermagem, enfermeiros, farmacêuticos e, principalmente, médicos. Alguns equipamentos básicos estavam quebrados, além do serviço de broncospia, também inoperante.

 

Segundo o promotor de Justiça Jairo Bisol, da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública, do Ministério Público do DF, uma das principais adversidades enfrentadas pelos pacientes do Hospital de Base é a falta de profissionais, problema compartilhado com toda a rede. 

 

Profissionais

 

“Existe um deficit de pessoal de 50%. É um problema generalizado, em todas as categorias, mas o que é mais impactante para a população é a falta de médicos. Antigamente, se tinha a dificuldade de reposição por conta do salário. O concurso era aberto, mas as vagas não eram preenchidas”, explicou.

 

Versão Oficial

 

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Comunicação do DF alega que houve várias ações este ano no Hospital de Base, como o aumento de sete para 11 salas do centro cirúrgico. Também foi feita no pronto-socorro a ampliação do número de cadeiras acolchoadas. Está prevista a construção de um Centro de Politraumatizados para atendimento dos casos de pacientes com traumas e também  de um Centro de Ortopedia, Oftalmologia e Odontologia. A medida tem o objetivo de desafogar o pronto-socorro. A falta de profissionais não foi comentada pela secretaria.

 

Demora no atendimento e negligência


A autônoma Eliane Pereira da Silva esperava atendimento para a mãe. Segundo ela, os pacientes estavam sendo informados que havia somente um ortopedista atendendo, já que o outro estava no centro cirúrgico. “Tem muita gente no pronto-socorro esperando. Reformaram a frente do hospital, mas não adiantou muita coisa, já que o atendimento continua ruim.”

 

O motorista Jorge Dias Cardoso reclamava de negligência, já que a amputação de sua perna estava passando da hora de ser feita, mas a cada hora tinha uma informação diferente. O problema começou há muitos anos, por conta de um bicho de pé e, desde outubro do ano passado, a situação é crítica. “Estão empurrando com a barriga. Vim do Hospital de Taguatinga, mas me mandaram de volta para lá, sem ambulância. Quero me livrar desse problema o quanto antes”, disse. 

 

Às vezes funciona

 

Por outro lado, o casal Priscila da Silva Santos, recepcionista, e Demetrius Quadros, eletricista, gostou do atendimento, que ocorreu porque o marido foi intoxicado por um veneno de planta. A primeira ida ao hospital havia sido no dia anterior, quando a espera foi de menos de 30 minutos. “O médico me pediu para retornar, já que o caso é um pouco complicado. Dessa vez foi mais rápido do que costuma ser. Não é todo dia que funciona desse jeito”, contou Demetrius.

 

O catador Adaílton Rodrigues acredita ter sido “premiado” por um atendimento rápido. A estadia de 13 dias no hospital por causa de uma infecção em uma das articulações estava chegando ao final, sem grandes problemas. “Geralmente é demorado, mas dessa vez não. Não precisei ficar em maca, fiquei em uma cama. Graças a Deus foi tudo tranquilo”, relatou. 

 

Como encontrar soluções 

 

De acordo com a professora Helena Shimizu, especialista em administração hospitalar da Universidade de Brasília, problemas como a falta de pessoal e equipamentos quebrados podem ser resolvidos mais facilmente. No entanto, a superlotação é um problema mais complicado de se solucionar.  

 

“É mais difícil. Deveria ser organizado melhor o fluxo de pacientes. Vem muita gente para o Hospital de Base por ser referência, mas deveria ser discutido com municípios vizinhos uma maneira de melhorar condições para que não venham tantos pacientes para o DF”, afirmou. Para a especialista, a questão salarial não é o grande entrave para o aumento no quadro de médicos, já que existe no DF uma das maiores concentrações de profissionais da área no País. 

 

Cirurgia 

 

Após uma queda de moto, o primo do estudante Gusttavo Dias Paz esperava na maca há cerca de 12 horas por uma cirurgia. As consequências do acidente de trânsito foram braço, perna e costelas quebradas. O paciente teve prioridade no atendimento, apesar da grande fila para o raio X. “Ele passou na frente para fazer o exame. O gesso foi feito ontem à noite e a cirurgia que ele vai precisar fazer foi marcada para daqui a duas horas”, disse.

 

Verba 

 

As dificuldades no Hospital de Base não podem ser justificadas por falta de verba. Pelo menos é o que indica o relatório de atividades da Secretaria de Saúde de 2012.  Dos mais de R$ 3 bilhões reservados à área, restaram nada menos que R$ 355 milhões. Investimentos como a ampliação de unidades, construção das bases do Samu e gestão e manutenção de unidades de Pronto Atendimento (UPAs)  não saíram do papel, apesar de autorizados

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