Marilene Lopes, 39 anos, é exemplo de que uma boa educação em casa e na escola é uma das melhores maneiras de alcançar objetivos. Mãe solteira de cinco filhos, a ex-diarista hoje tem um salário de R$ 7 mil e o título de técnico judiciário no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Mas o caminho para alcançar a estabilidade foi longo e conturbado. Marilene ainda tem dificuldades de fala e sofreu preconceitos pelo lábio leporino.
Inspirada no pai que foi servidor público, ela procurava concursos públicos diariamente nos jornais. A vontade era muita, mas o tempo era pouco, afinal ela trabalhava como diarista e ainda catava latinhas na rua. Mesmo com o trabalho árduo faltava luz e gás em casa e ela cozinhava em uma fogueira feita com gravetos, para alimentar os filhos.
Quando viu a chance de trabalhar no TJDF em 2001, Marilene pediu dinheiro emprestado para pagar a taxa de R$ 25 de inscrição. Quinze dias antes da prova, montou um grupo de estudos com as três irmãs. “De 8h às 23h eu estudava com elas e, depois, continuava só até as 2h. Quando saiu a lista dos aprovados eu estava tão preocupada com minha situação que nem parei para olhar. Estava no ônibus com a minha irmã, olhando para a janela, quando ela começou a gritar dizendo que eu havia passado. A gente gritou tanto que o motorista até freou, preocupado”, lembra a batalhadora, com lágrimas nos olhos, 12 anos depois.
Marilene se casou nova, com 16 anos, mas terminou o colégio público em Ceilândia. Já com quatro filhos e casada, trabalhava como doméstica. “Quando os meninos adoeciam eu faltava. Desisti. Aí, surgiu a chance de trabalhar como agente de saúde”, lembra. E a vida de Marilene começou a mudar.
Posse logo depois do parto
Marilene foi chamada para tomar posse em 9 de maio de 2001, seis meses após a prova. Nesse meio tempo ficou grávida e teve o quinto bebê em 6 de maio: “A médica não queria me liberar três dias após o parto para tomar posse. Falei que eu ia deixar o bebê lá e fugir. As pessoas me perguntavam porque eu não esperava 15 dias para tomar posse. Quem passa fome não espera 15 dias para ir trabalhar.”
Quando ela chegou ao berçário a médica tinha chamado a polícia. Achou que Marilene tinha largado o bebê. “O desespero era grande, mas eu não ia largar meu filho”, revela.
Ela conta que o motivo do sucesso foi a criação que recebeu da mãe. “A educação foi rígida. Quando meu pai morreu minha mãe parou de estudar para cuidar da gente. Ela nos ensinou a correr atrás dos sonhos. Hoje somos vencedores”, diz.